(...) A miséria das ruas e
dos desvalidos, do crack , do abandono, deriva-se da impotência das
instituições e vice-versa.
(...) As manifestações de
junho, milagrosas e belas, ficarão sem respostas, porque não há o que responder
e como responder. Quem? Uma presidenta (sic) enjaulada no
"presidencialismo de cooptação", que depende dos congressistas
picaretas? Quem? O Judiciário aleijado, com leis de 100 anos atrás?
(...) A brutalidade está
atingindo o País de forma inédita. O subsolo das manifestações de classe média
é a violência primitiva dos "lúmpens" (miseráveis inúteis) que está
aparecendo. No mesmo registro das donas de casa que protestam contra a carestia
ou de jovens contra a Copa, matam-se pessoas por nada, linchamentos, privadas
voadoras, cadáveres cortados a peixeiras e costurados ao sol com pinos de
guarda-chuva, mortos nas Pedrinhas dos Sarney, pais que matam filhos, crianças
se degolando, etc.
(...) Estamos entrando
numa pós-violência e numa pós-miséria - eis a minha tese. Há uma africanização
de nossa desgraça, a ponto de ela não ser mais reversível. E não era assim. O
Brasil sempre contou com a possibilidade de melhorias. Sempre vivemos o
suspense e a esperança de que algo ia mudar para melhor.
Isso parece ter acabado. É possível que tenhamos caído de um
"terceiro mundo" para um "quarto mundo", como já nos
consideram analistas do exterior. O quarto mundo é a paralisação das
possibilidades.
Fonte: Arnaldo Jabor, “O Estado de S. Paulo”, 13/5/14 (íntegra aqui).
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