sexta-feira, 29 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Frase

"O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."
Mário Quintana, poeta

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Nós e a cidade (ou "Que cidade queremos, afinal? - 2")

Uma cidade viva é feita de esquinas, pontos de encontro e gente nas ruas. A definição da escritora norte-americana Jane Jacob, no livro Morte e Vida de Grandes Cidades (1961), é ignorada nas metrópoles brasileiras, que seguem erguendo edifícios cada vez mais altos, isolados por muros de concreto e espaços infindáveis para garagens.

A verticalização foi há anos recomendada por urbanistas e empresários da construção civil como melhor forma de aproveitamento da infraestrutura de redes de água, esgoto, energia elétrica, cabos telefônicos e sistema viário. No entanto, as cidades estão sendo tão dramaticamente asfixiadas por congestionamentos, que está mais do que na hora de reexaminar esse conceito. Mesmo municípios de pouco mais de 300 mil habitantes começam a acusar engarrafamentos até na saída da garagem de condomínios.

(...) “Prédios isolados com muros e vários andares de garagem são um equívoco, uma negação da cidade”, adverte Valter Luís Caldana Jr., da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. É possível adensar sem verticalizar, diz ele, por meio da alteração dos recuos das laterais e dos fundos do terreno, como em Barcelona e Paris: “Tudo depende de pensar a cidade junto com a rua, calçadas largas e arborizadas, e ocupação do andar térreo como fator de oxigenação do sistema”.

No entanto, desde os tempos de Colônia, a ocupação das áreas urbanas no Brasil tem sido marcada por improvisos e enorme irracionalidade.

Fonte: Celso Ming, “Para o alto e para o caos”, O Estado de S. Paulo, 9/11/13.

***

(...) Como uma cidade pode ser moldada segundo interesses econômicos, regras burladas e brechas no sistema?
NIREU CAVALCANTI - Isso não é restrito a São Paulo. As cidades brasileiras estão sendo administradas de uma forma profundamente desvirtuada do interesse público e da função pública. As cidades perderam a continuidade administrativa - e assim, fortunas são jogadas fora. Temos 5.600 municípios no Brasil. Entra um prefeito novo e interrompe o projeto do prefeito anterior, para atender aos interesses de seus aliados e de quem financiou sua campanha. (...)

O que está acontecendo?
NIREU CAVALCANTI - As cidades continuam crescendo sem planejamento nem responsabilidade. Há apenas ações pontuais. "Vamos fazer uma estação de metrô no bairro tal, pois a pressão popular está forte". Mas e um projeto para promover mobilidade urbana para todos? Isso não é discutido. (...)

No fim, a quem pertence a cidade?
NIREU CAVALCANTI - A cidade virou uma mercadoria. Está nas mãos de grupos econômicos e políticos. Direi algo agressivo, mas real: a cidade pertence aos extremos, a elite e a favela. Eles podem tudo. Uns moldam como querem o espaço urbano com o poder econômico. Outros ocupam a cidade irregularmente, como podem, como querem, com a birosca, o gato, o negócio - e, ao mesmo tempo, são alvo demagógico preferencial dos políticos. Nós, a cidade, as classes médias, os trabalhadores com endereço fixo e carteira assinada, ficamos achatados entre eles. Os políticos querem agradar aos extremos, os muito ricos e os muito pobres. Quem está no meio, fica no meio.

Fonte: Juliana Sayuri, “Cidade dos extremos”, O Estado de S. Paulo, Aliás, 10/11/13.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Acidente no Itaquerão

Cheguei na Arena Corinthians, o famoso Itaquerão, cerca de uma hora após o acidente que causou a morte de dois funcionários da obra. O cenário era assustador:







Agora veja a minha cobertura do caso, com ao vivo e reportagem a partir do minuto 1:40 e ao vivo novamente no 35° minuto:



PS: postagem alterada, com acréscimo das fotos, em 14/1/14.

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O lado "B" de São Paulo

A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial

Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual

(“Rua da Passagem [Trânsito]”, de Arnaldo Antunes e Lenine)


Escrevi várias vezes neste blog a respeito da grandeza de São Paulo, mas a cidade tem também um "lado B" que choca e, de certa forma, incomoda - pena que parece não incomodar a todos.

Já estive em 20 países e não me recordo de ter visto em nenhum deles, do Japão ao Panamá, a degradação humana que vejo em São Paulo. São os “zumbis”. Eles estão por toda parte, vagando pelas ruas ou dormindo - sob frio, chuva ou sol escaldante - nas calçadas, praças, monumentos, nas saídas de vento do metrô, em qualquer canto.

Inicialmente, fiquei em dúvida se o estado “zumbi” era efeito da pobreza ou da droga, mais precisamente do crack. Os mais antigos, ou mais vividos na cidade, garantiram que se trata da segunda opção.

Creio que tenham razão. Após quase duas décadas de estabilidade econômica e, mais recentemente, pleno emprego no Brasil, é difícil entender que tantas pessoas vivam nas ruas, ainda que se trate de uma metrópole com 20 milhões de habitantes (considerando toda a área metropolitana).

Não se vê em Nova York (EUA), Londres (Inglaterra) ou outras correlatas em tamanho, tampouco em locais mais pobres, como a Cidade do Panamá, a “zumbilândia” flagrada na capital paulista.

Considerando, então, que se trata de gente entregue às drogas, temos um retrato acabado da falência do Estado e da sociedade. Sim, porque entra governo e sai governo e ninguém, absolutamente ninguém, é capaz de ao menos propor algo possível para mudar esta chocante realidade.

Não que exista algum lugar no mundo que tenha encontrado uma alternativa viável para lidar com grandes grupos de viciados em drogas, mas São Paulo é quase um "case".

Que fique claro: as drogas, os usuários, o tráfico e os traficantes existem em todos os lugares, em qualquer cidade de médio e grande portes (arrisco-me até a incluir as pequenas cidades e os vilarejos) do mundo. Não se trata, pois, de fenômeno exclusivo paulistano ou brasileiro.

Contudo, em poucos lugares, pouquíssimos eu diria (dos que conheci, seguramente nenhum), vê-se o estado em que a situação se encontra em São Paulo.

É, sem dúvida, uma realidade que choca e causa indignação. Tanto quanto constatar que para grande parte das pessoas (a maioria?) as cenas de degradação humana passem despercebidas.

Em tempo: os termos "zumbi" e "zumbilândia" foram ouvidos de um cinegrafista. Desde então, não encontrei expressões mais adequadas.

PS: esta postagem não tem fotos porque fui alertado para não tentar fotografar os personagens mencionados. “Eles jogam tijolo em carros de TV”, disse um operador.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Paciência para esperar

Saiba esperar o momento certo. O bom peregrino respeita o tempo, as suas condições físicas, a capacidade interior de resistir a esta ou àquela prova.

Se acha que ainda não está preparado, treine mais um pouco. Se acha que é preciso finalizar algo antes de dar o próximo passo, faça isto.

Mas nunca confunda paciência com covardia. Uma coisa é melhorar a sua capacidade; outra é procurar as condições ideais para agir, embora nem sempre elas apareçam.

A vida é e sempre será um mistério. Por mais que tentemos planejar tudo, Deus escreve nosso destino à Sua maneira. Seu plano, com toda certeza, é melhor do que o nosso.

Tenha paciência. Mas não fique imóvel.

Fonte: blog do Paulo Coelho, "O momento", postado em 20/11/13.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Liberdade, liberdade!


Este é o registro de venda de um garoto de 8 anos de idade. Sim, venda, mercadoria. Um escravo.

O documento era parte de uma exposição sobre a escravidão, que vi na sede das Nações Unidas (ONU) em Nova York (EUA) em abril de 2012.

Posto a foto hoje, nesta data tão significativa para os negros, a que celebra o líder Zumbi dos Palmares, como lembrança de uma parte triste da história da humanidade, uma barbárie que não se deve esquecer para que nunca mais se repita.

Em tempo: no mundo atual ainda existem muitas formas de escravidão, em muitos lugares. Sobre isto, recomendo assistir às reportagens da fenomenal série "Freedom Project", da CNN (no Facebook aqui).

terça-feira, 19 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Frase

"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
William Shakespeare, poeta inglês

segunda-feira, 18 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Ao exílio

Rumo ao exílio, o autoexílio.
Só.
Para pensar, refletir...
Dez minutos que remexem com meses, anos passados.
Com sonhos, projetos, frustrações, decepções.
Longe de tudo e de todos.
Só.
Às vezes faz bem estar só.
Como às vezes de fato estamos, ainda que acompanhados.
Para ouvir o que nos dizem, 
para ouvir o silêncio dos que não falam...
Só.
Rumo ao exílio.
Para pensar, refletir...
"Nos meus dias de paz, nos meus dias de luta..."
Longe de tudo e de todos.
Só.
Como de fato às vezes somos.
No exílio ou numa mesa de bar.
Por ora, rumo ao exílio.
É o que temos para hoje.

domingo, 17 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Risos e lágrimas

É um conforto saber que se tem um refúgio para reencontrar o riso após as lágrimas...

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Modernidade

Que seguro, alarme, trava eletrônica que nada. A melhor solução contra a criminalidade ainda está nas boas e velhas trancas manuais...


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Guerra e paz

Não quero divisão, quero união.
Não quero amarras, quero sorrisos.
Não quero amargura, quero alegria.
Não quero inimizades, quero amizades.
Não quero luto, quero celebração.
Não quero adeus, quero bem-vindo.
Não quero encanação, quero curtição.
Não quero guerra, quero paz.

Sou da paz.

Paz apenas não se constrói sozinho...

sábado, 16 de novembro de 2013 | | 2 comentários

Retratos da sociedade latino-americana

Visitei há cerca de um mês a exposição “Fotonovela – Sociedade/Classes/Fotografia”, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, São Paulo).

Trata-se de uma mostra de fotos e trabalhos artísticos de nomes latino-americanos. O objetivo é mostrar o lado “B” (ou seria mesmo o lado “A”) da porção sul e latina do continente americano, longe dos tradicionais estereótipos de pobreza, favelas e belezas naturais.

Como o título da mostra prega, o foco é a sociedade em seu aspecto comum cotidiano, em casa, na rua, em casas chiques, em casas mais modestas, uma outra América Latina conhecida por todos nós que a vivemos, mas muitas vezes ignorada pelo resto do mundo.

Um dos trabalhos que achei mais legais é “Miss Fotojapón, 1998 até hoje”, do colombiano Juan Pablo Echeverri. Durante o período citado no título da obra, ele tirou fotos do tipo 3x4 diariamente. O quadro mostra, portanto, a mudança do visual do próprio artista.

Além de ter um sentido antropológico, do ponto de vista artístico o quadro ficou muito legal, bem colorido. Uma espécie de mosaico.



Também chamaram minha atenção os trabalhos do argentino Marcos López, “Pop Latino”, principalmente pelo aspecto “vintage” (as cores também conferem uma alegria à obra e, em consequência, ao ambiente), e da brasileira Helena de Castro, que recorreu a fotos de família para mostrar o cotidiano de modo artístico.



Um ambiente que não fotografei, mas achei muito interessante foi do coletivo peruano “Lima Foto Libre”. Os trabalhos me lembraram certos aspectos de São Paulo, o que confere uma dose de identidade à América Latina, com suas qualidade e defeitos (que prefiro chamar de desafios).

As imagens retratam o dia-a-dia da capital peruano por meio de seus moradores. É uma trabalho intensamente urbano, de rua.

Quem tiver interesse em conhecer mais desse coletivo basta entrar no site do grupo. Vale a pena!

O “Lima Foto Libre” inspirou uma mostra alternativa – “Selva SP” - espalhada em alguns pontos da cidade. Vi em dois locais, um deles ali mesmo na Paulista, num tapume de construção na esquina do Itaú Cultural ou perto. Isto mesmo, um tapume. Se é que pode-se chamar de uma mostra, mas as imagens eram bem interessantes, num caráter às vezes mais de denúncia e crítica social.



Em tempo: a mostra segue até 22 de dezembro e é grátis. Para ver o catálogo, clique aqui.

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Pensamentos...

(...) But if you wanna leave, take good care
I hope you make a lot of nice friends out there
But just remember there's a lot of bad and beware

(“Wild World”, de Cat Stevens)

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Ficção e/ou realidade

(...) O texto não estava suficientemente descolado da realidade para que todos percebessem a impossibilidade de ser literal?

Talvez, infelizmente, não: fui menos grosseiro, violento e delirante na sátira do que muitos têm sido a sério. Poucos dias antes da crônica ser publicada, um vereador afirmou em discurso que os mendigos deveriam virar "ração pra peixe". Com esse pano de fundo, ser "apenas" racista, machista, homo e demofóbico pode não soar absurdo. Quem se chocou achou o personagem equivocado, mas plausível. Quem me cumprimentou achou minha "análise" perfeitamente coerente. Ora, só dá para concordar com o texto se você acreditar que as cotas criaram uma elite negra e oprimiram os brancos, acabando com a "meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral", se achar que os 20 anos de ditadura foram "20 anos de paz" e que é legítimo e bem-vindo levantar-se contra "as bichas" e "o crioléu".

Em "Hanna e Suas Irmãs", do Woody Allen, Lee, uma das irmãs, é casada com um intelectual rabugento chamado Frederick. Lá pelas tantas, o personagem assiste a um documentário sobre Auschwitz, em que o narrador indaga "como isso foi possível?". Frederick bufa e resmunga: "A pergunta não é essa! Do jeito que as pessoas são, a pergunta é: como não acontece mais vezes?". Esta semana, diante dos e-mails elogiosos que recebi, a fala me voltou algumas vezes à memória: "Como não acontece mais vezes?". Vontade é o que não falta, por aí - e, infelizmente, não estou sendo irônico.

Fonte: Antonio Prata, “Abaixo, a ironia”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 10/11/13 (íntegra aqui).

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Quando se reconhece o valor de alguém

Há pequenos gestos que têm uma capacidade extrema de mexer com o coração, o mais profundo da alma.

Recentemente, recebi um e-mail despretensioso que trazia a seguinte mensagem: “Anexo uma imagem pra você ver!”. O que vi segue abaixo:


Raras vezes na vida eu me senti tão feliz.

Confesso que não esperava este gesto – singelo, porém de um valor imensurável. Isto porque ele significa o reconhecimento público de algo.

O mais curioso neste caso é que não fiz nada de extraordinário para merecer tal distinção. Ou imagino não ter feito, porque o episódio me ensinou uma lição: nós nunca sabemos o valor de uma palavra, de um abraço, de um perdão, de um gesto de carinho ou de atenção.

Para a pessoa da mensagem, eu apenas fui um interlocutor em vários momentos, ora dando dicas, ora ouvindo desabafos, ora fazendo meus desabafos e buscando transmitir um pouco de minhas experiências (afinal, ser mais velho serve para isto, não?).

Nunca foi uma conversa séria, apenas momentos de trocas de ideias mesmo.

Mas hoje vejo o quanto isto tudo teve valor.

Às vezes, fazemos coisas grandiosas para alguém e recebemos em troca ingratidão. Mas a vida nos recompensa porque em outros momentos podemos não ter feito nada demais e recebemos como resposta um sincero gesto de gratidão.

São raras as pessoas que reconhecem o valor de uma outra. Raras...

Parabéns Dênis Fernando!

Chegou o momento! Você mereceu esta conquista!

Seja bem-vindo (formalmente) ao time dos jornalistas!

PS 1: na imagem, onde aparece "genros" leia-se "cunhados".

PS 2: ia pedir autorização ao Dênis para reproduzir a imagem, mas como o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) é um documento público, pulei esta etapa.

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Pensamentos...

(...) it's a wild world
It's hard to get by just upon a smile

("Wild World", de Cat Stevens)

quinta-feira, 14 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Que cidade-sociedade queremos, afinal?

Cena 1: uma equipe de TV com três pessoas chega num edifício para uma entrevista marcada para as 7h num bairro meio “bam-bam-bam” de São Paulo. O local tem dois seguranças na área externa, fora a portaria. Para chegar até ela, é preciso enfrentar uma sequência de três “jaulas”, aquele esquema de abrir uma grade, entrar, esperar fechar para abrir a próxima.

Três sequências para chegar até a portaria! A pé!

Na portaria, um vidro insulfilmado impede visualizar o lado de dentro. Alguém pede o RG de cada um dos membros da equipe para um cadastro, que leva cerca de cinco minutos (estariam checando alguma informação junto aos arquivos da NSA, a agência de espionagem dos Estados Unidos?). Depois, uma foto. 

Só então a permissão para voltar as três grades, pegar o carro e entrar na garagem de visitantes do edifício. Claro, para o carro, mais uma daquelas “jaulas”.

Na garagem de visitante, um funcionário guia a equipe até o elevador que dará acesso ao apartamento.

Finalmente a entrevistada abre a porta. E recebe todos com simpatia e um café. Ufa!

Em tempo: o processo todo durou cerca de 15 minutos.

Cena 2: um casal chega para uma festa de aniversário num condomínio “bam-bam-bam” de Limeira. Uma fila de três carros aguarda a entrada. O primeiro deles leva cerca de cinco minutos para entrar.

Quando chega a vez do casal, imagina-se que o acesso será rápido porque a placa do carro dos convidados teve que ser informada com antecedência (ou seja, você terá problemas caso decida trocar de carro para ir à festa).

Mal a jovem diz “oi” e já ouve uma voz impositiva e pouco simpática ordenar: “Abaixe o farol do carro!”. Depois, o atendente pergunta o nome e confirma na lista de convidados. Ainda assim, é preciso informar o número do RG.

Passa o tempo. O atendente - que o casal não vê devido à distância entre as “jaulas” e a portaria – explica que o sistema “deu pau”. Novamente pede o RG. Passa o tempo. O atendente repete que o sistema caiu e pede o RG pela terceira vez.

A jovem informa que a placa do carro já tinha sido passada. Ele confirma, mas ignora.

Mesmo com o nome e a placa do carro confirmados na lista, foi preciso esperar mais de dez minutos para entrar. E uma nova fila se formou atrás desse veículo. E ainda veio, claro, a sequência de duas “jaulas”.

Fico imaginando se você convida alguém para jantar na sua casa e o convidado é obrigado a passar tamanho constrangimento.

E pergunto, em letras garrafais: É ESTA SOCIEDADE QUE ESTAMOS CONSTRUINDO E QUE ESCOLHEMOS PARA VIVER?

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Arte de rua - em todas as ruas

São Paulo talvez seja a cidade mais grafitada do mundo. Certamente está entre as mais pichadas.

Tantos grafites me desestimularam a fotografá-los - seria covardia e quase irresponsabilidade tentar retratar este tipo de arte, de "street art", pela capital. Fatalmente não conseguiria captar sequer uma pequena mostra minimamente significativa da variedade de estilos e nomes representados nas paredes da cidade.

Assim, desisti das fotos e me permito apenas apreciá-los, os grafites - o que é um deleite!

Apenas como ilustração, porém, deixo dois exemplares flagrados na mais simbólica das vias paulistanas, a Avenida Paulista:



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Reflexão do dia

Como diz um amigo: "É mano, a vida é 'loca' e o bagulho é sério..."

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"Informação é substantiva"

Arrogância, precipitação e superficialidade têm sido, na opinião de James Fallows, autor do provocante Detonando a Notícia, a marca registrada de certos setores da mídia. A crítica, contundente e despida de corporativismo, produziu reações iradas, alguns aplausos entusiásticos e, sem dúvida, uma saudável autocrítica.

A síndrome não reflete uma idiossincrasia da imprensa estadunidense. Trata-se de uma patologia universal. Também nossa. Reconhecê-la é importante. Superá-la, um dever. Fallows questiona, por exemplo, a aspiração de exercer um permanente contrapoder que está no cerne de algumas matérias. A investigação jornalística não brota da dúvida necessária, da interrogação inteligente. Nasce, muitas vezes, de uma enxurrada de preconceitos.

(...) A fórmula de um bom jornal reclama uma balanceada combinação de convicção e dúvida. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade, acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia fundamentada. Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias de colarinho branco, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons jornalistas. Essa atitude, contudo, não se confunde com o cinismo de quem sabe "o preço de cada coisa e o valor de coisa alguma". O repórter, observador diário da corrupção e da miséria moral, não pode deixar que a alma envelheça. Convém renovar a rebeldia sonhadora do começo da carreira. O coração do repórter deve pulsar em cada matéria. (...)

Fonte: Carlos Alberto Di Franco, “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 11/11/13, p. 2 (íntegra aqui).

domingo, 10 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Trabalhando...

Primeira matéria do bloco:


Matéria no minuto 9’20” e ao vivo logo em seguida:

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"Para que as ruas salvem"

As manifestações de reivindicação e protesto precisam ser salvas e continuar. São o sinal de vida da sociedade e o mais legítimo e direto exercício da cidadania, muito mais do que o voto. Mas, ainda mal saídas da longa apatia, foram inibidas pela violência sem ideia dos "black blocs" e seus imitadores. A primeira decisão da força-tarefa composta para esvaziar tal violência é um início inteligente e promissor: o Pronto Atendimento Judicial, ativado a cada acesso da violência para o pronto exame de prisões, excessos e queixas.

Além da comprovação histórica de que as sociedades se aprimoram de baixo para cima, estes anos de omissão na busca de direitos mostraram bem que os brasileiros, e o próprio país, não podem contar com o Legislativo, que é onde deveriam forjar-se os rumos e as regras do aprimoramento social e nacional. O Congresso é assim porque os partidos são assim, sem representatividade. Contanto que ninguém grite "o povo unido jamais será vencido" (toc-toc-toc), o que resta aos segmentos sociais é a participação por iniciativa própria ou a frustração. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Folha de S. Paulo, Poder, 10/11/13 (íntegra
aqui).

sábado, 9 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Frase

"Para a boa e velha esquerda, o coletivo sempre se sobrepunha ao individual e ao setorial. Mas não se fazem mais esquerdas como antigamente."
Eliane Cantanhêde, em coluna no jornal “Folha de S. Paulo”

sexta-feira, 8 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Trabalhando...

Primeira matéria do telejornal:


Matéria no minuto 2’30”:

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Desigualdade nacional

(...) No Brasil desigual, Alexander é tão caricato que poderia ser fictício; mas, se fosse invenção, não soaria implausível e poderia ser real. O rei do camarote, no fundo, é uma metáfora de certa elite brasileira. Seus hábitos são extravagantes, suas preocupações são burlescas. O país seria melhor sem pessoas nessa condição?

Paulo Henrique representa outro tipo social. Apesar de sua miséria grotesca, a ninguém ocorre que seja ficção; dá-se de barato sua existência verdadeira. O menino do lixo escancara uma pobreza que ainda campeia Brasil afora, violenta, rotineira. O país certamente seria melhor sem pessoas nessa condição. (...)

Fonte: Uirá Machado, “O camarote é um lixo”, Folha de S. Paulo, Opinião, 7/11/13, p. 2.

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Há vagas (2)

Depois da primeira oferta de trabalho no governo federal, agora surge outra. Se está desempregado, anote aí: coordenador-geral da Coordenação-Geral de Produção Associada e Desenvolvimento Local do Departamento de Qualificação e Certificação e de Produção Associada ao Turismo da Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo do Ministério do Turismo.

Aí um amigo chega e pergunta: o que você faz no governo?

E talvez a pessoa sequer saiba responder...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Sobre calçadas e shoppings: a cidade que queremos



(...) Calçadas seguras e transitáveis são um dos elementos centrais da mobilidade na cidade. Não se trata, porém, de tema fácil de ser equacionado.

(...) Por um lado, é totalmente ilusório achar que o poder público teria capacidade financeira e de gestão de, da noite para o dia, consertar todas as calçadas da cidade e implantá-las onde não existem.

Por outro, calçadas seguras e confortáveis para todos têm que ser parte integrante de um sistema geral de produção da cidade, que historicamente gasta milhões com o asfalto onde andam os veículos e regula milimetricamente o que se pode construir lote adentro, mas jamais priorizou os espaços de circulação dos pedestres.

Fonte: Raquel Rolnik, “O longo caminho por calçadas seguras”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 4/11/13, p. C2.

***

(...) Com raras exceções, a lógica dos shoppings é a do modelo de mobilidade por automóvel: chegar de carro, deixá-lo em um estacionamento e usufruir de um espaço que concentra opções de compras, serviços, gastronomia e atividades culturais.

A não cidade, fingindo ser cidade, segregada: com raríssimas exceções, os shoppings simplesmente destroem a continuidade do tecido urbano, descaracterizando e matando as ruas ao redor.

(...) Em nome das ruas, da multiplicidade de pequenos comércios, da cidade que quer se mover a pé, de bicicleta e por transporte coletivo, chega de shopping!

Fonte:
Raquel Rolnik, “Chega de shopping”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 21/10/13, p. C2.

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Imprensa: que fase!!!

Aperta o cerco contra a imprensa mundo afora. Na Argentina, a Justiça validou a chamada Lei de Mídia, orquestrada pelo governo Cristina Kirchner. Na Inglaterra, foi aprovada a regulamentação da imprensa.

E assim caminha a humanidade...

Pelo menos no Brasil parece ter virado pó a tentativa de censurar as biografias não autorizadas – refiro-me ao tal “Procure Saber”. Aliás, esta é (foi?) uma discussão descabida.

Alguém tem dúvida de que qualquer filtro ou limite (inclusive o sugerido pelo cantor Roberto Carlos, os tais “certos ajustes”) é censura? E que uma biografia só é possível quando baseada na liberdade de informar?

Antes que alguém questione o direito constitucional à privacidade, recorro a trecho de um artigo de Vinicius Mota publicado na “Folha de S. Paulo” de 4/11:

“Sim, a liberdade de expressão é também a liberdade de injuriar, caluniar e difamar. Para esses males, a lei determina remédios. Mas é sobretudo a liberdade de criticar e contar histórias e versões menos abonadoras sobre quem quer que seja. E de oferecê-las ao crivo do debate público".

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Duas frases, uma definição

"São Paulo é isso aí, trânsito..."

"São Paulo é isso, correria..."

Em tempo: frases ouvidas de dois cinegrafistas.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Imortal

Uma breve passagem pelo Cemitério do Araçá (Avenida Dr. Arnaldo), em São Paulo, na véspera do feriado de Finados:




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Sobre as esquerdas: provocações

(...) No cenário geral, desde a maldita ditadura, colou no país a imagem de que a esquerda é amante da liberdade. Mentira. Só analfabeto em história pensa isso. Também colou a imagem de que ela foi vítima da ditadura. Claro, muitas pessoas o foram, sofreram terríveis torturas e isso deve ser apurado. Mas, refiro-me ao projeto político da esquerda. Este se saiu muito bem porque conseguiu vender a imagem de que a esquerda é amante da liberdade, quando na realidade é extremamente autoritária.

(...) Em vez do debate de ideias, passam à violência difamatória, intimidação e recusam o jogo democrático em nome de uma suposta santidade política e moral que a história do século 20 na sua totalidade desmente. Usam táticas do fascismo mais antigo: eliminar o descrente antes de tudo pela redução dele ao silêncio, apostando no medo. (...)

Fonte: Luiz Felipe Pondé, “Eu acuso”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 4/11/13.

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Reflexão do dia

Nada como um dia depois do outro...

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A semana em fotos (4)

Um pouco da arquitetura do centro de São Paulo (em tempo: as faixas com a sigla FLM são da Frente de Luta por Moradia, um dos movimentos populares que organizam ocupações de prédios geralmente abandonados na capital):





  


O clássico Copan:


Uma visita à zona leste...:


... e à região do Jardim João 23, entre Osasco e Taboão da Serra:





Ufa!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Quando se tem um amigo

When you're down and troubled
And you need some loving care
And nothing, ooh, nothing is going right.
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest nights.

You just call out my name,
And you know wherever I am
I'll come running, oh yeah baby
To see you again.
Winter, spring, summer or fall,
All you have to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah
You've got a friend.

(“You've got a friend”, de Carole King)

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Frase

“O povo foi para a rua pra dizer que precisa de mais coisas porque ele aprendeu a comer contra-filé e ele não quer voltar a comer acém. Ele quer comer filé de verdade.”
Lula, ex-presidente da República, ao comentar os protestos de junho no Congresso em solenidade para celebrar os 25 anos da Constituição brasileira

domingo, 3 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Trabalhando...

Primeira matéria do bloco:


Ao vivo aos 7’30”: 

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Meros versos

O reflexo de nosso rosto no espelho muda a cada instante
e cada dia tem o seu próprio labirinto.

(Jorge Luis Borges)

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As coisas que se escreve...

(...) A história é mesmo, como diria um colega de Ricardo 3º, um conto sem sentido, cheio de som e fúria, mas ela é bonita ou mesmo sublime quando, por algum milagre, ela se torna concreta (...). Este é o poder do manuscrito: ressuscitar os corpos, pelo gesto da mão que persiste, inscrito na forma das letras.

É primavera, época tradicional de limpeza. Doe as velharias que você não usa mais, mas, por favor, não jogue fora levianamente cartas e papéis manuscritos.

Fonte: Contardo Calligaris, “O som, a fúria e as cartas”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 31/10/13.

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O Centro Cultural São Paulo: animal!!!

Outro dia, num belo domingo de sol e céu azul, fui ao Centro Cultural São Paulo (CCSP) ou Casa São Paulo. Trata-se de um espaço destinado à arte e suas diversas ramificações e manifestações - como a arquitetura. O local fica entre as avenidas Vergueiro e 23 de Maio.

O motivo principal que me levou até lá será relatado em detalhes numa outra postagem (posso adiantar que é sobre a 10ª Bienal de Arquitetura). Por ora, quero mostrar um pouco mais deste espaço ignorado por muitas pessoas na capital.


O CCSP é, além de um espaço de arte, um centro de convivência. 

No domingo em que lá estive havia centenas de pessoas, sozinhas ou acompanhadas, em família ou com amigos, gente de toda idade, lendo, fazendo tarefas escolares, apreciando as exposições, dançando (muitos grupos de dança faziam uma espécie de ensaio no espaço aberto e livre do CCSP) ou simplesmente descansando.

E é justamente sobre este item, o descanso, que quero falar. O telhado do CCSP é um amplo espaço verde, onde as pessoas sentam ou deitam para tomar sol, bater papo, ler ou tirar um cochilo. Simples assim, em meio à imensidão de concreto que circunvizinha o lugar (aliás, a vista que se tem de lá merece destaque).








Ao passear pelo telhado do CCSP lembrei do High Line, em Nova York, o parque linear construído sobre uma antiga linha de trem elevada. Naturalmente, há muitas diferenças entre ambos - da extensão (quilométrica no caso de NY, de algumas dezenas de metros em SP) à jardinagem em si, mas não pude deixar de notar semelhanças no uso que se faz de ambos os espaços (com o diferencial de que no CCSP é quase inviável fazer caminhadas porque o espaço é reduzido).

Embora pequeno se comparado ao High Line, o telhado do CCSP é grande o suficiente para abrigar uma horta, daquelas bem orgânicas, cultivada pela própria comunidade. Acredite: isto em cima de um prédio no coração da cidade, a poucos metros da Avenida Paulista. Uma vez por mês as pessoas podem ir até lá e fazer a colheita. Para proveito próprio.



Coisas de São Paulo. Que podem se espalhar por qualquer outro lugar, basta ter criatividade e vontade.

Em tempo: a arquitetura do CCSP também chama a atenção. Com suas rampas internas, o espaço lembrou o Mercado Municipal de Fortaleza (CE).



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"Três poderes e uma cidade"

Em qualquer sociedade democrática moderna, o processo de urbanização resulta da interação de três poderes: o político, o econômico e o social. Uma intervenção urbana, quando realizada unilateralmente por apenas um dos poderes, terá menos condições de viabilidade, resiliência e legitimidade do que os projetos devidamente costurados pelos três.

É o equilíbrio dessas forças que determina o sucesso e a sustentabilidade do "fazer cidade". (...)

O poder econômico, representado pelas grandes construtoras e incorporadoras e pelo mercado de capitais, dará contribuição fundamental se fomentar empreendimentos que promovam tecidos urbanos de uso misto com vastos espaços públicos, que combinem moradia digna, trabalho, comércio e serviços - espaços mais densos e menos dependentes do uso de carros.

Empreendimentos "exclusivos", cercados por muros, tendência do mercado imobiliário, precisam dar lugar a projetos "inclusivos", pois a geração de bens coletivos - parques, bulevares, calçadas - exponenciará a geração do valor econômico de suas construções.

(...) As cidades projetam no território aquilo que somos como sociedade. Resta-nos encontrar nossa melhor forma de expressão coletiva para a construção da cidade que queremos.

Fonte:
Philip Yang, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 31/10/13 (íntegra aqui).