quarta-feira, 12 de junho de 2013 | |

Lições de jornalismo

A ventania reformadora dos meios de comunicação voltou ao Brasil da pior e da melhor maneira. Cortaram-se vagas e poderão ser extintos títulos que fizeram história. Esse é o aspecto fim do mundo. Há o outro, do mundo novo. De sua casa na Gávea, o jornalista Glenn Greenwald explodiu um dos grandes segredos do governo americano jogando o companheiro Obama no fosso da falta de credibilidade. Ele grampeia o mundo, inclusive seus cidadãos.

Nunca na história deste país notícia tão importante saiu daqui, muito menos da Gávea. A imprensa americana tem dezenas de repórteres especializados em segurança nacional. A maioria trabalha em Washington, com bons salários e incríveis fontes. Os mais afortunados vão todo ano ao jantar dos correspondentes da Casa Branca, com direito a tapete vermelho e a acompanhantes famosas. Pois foram batidos por um repórter que, desde 2007, trabalha no Rio. Depois de passar pelo site "Salon", Greenwald está no jornal inglês "The Guardian". Seu principal instrumento de trabalho é o computador.

(...) Da Gávea, Greenwald recebeu as informações mandadas por um técnico da National Security Agency que trabalhava para a Booz Allen Hamilton. Sabia-se que a NSA inaugurará em outubro uma central de dados no deserto de Utah com capacidade para armazenar dez vezes tudo o que há na internet. A denúncia de que Obama grampeia o mundo veio de Edward Snowden. Ele tem 29 anos, vivia no Havaí, foi para Hong Kong e de lá remeteu as informações. Valeu-se de Greenwald porque respeita seu trabalho no "Guardian", jornal centenário, com uma tiragem de 200 mil exemplares e um site grátis.

Seu prestígio vem da qualidade de seus repórteres e do discernimento de seus editores. O que Greenwald fez foi buscar notícia e, graças à internet, recebeu-a, na Gávea. A internet não ameaça o jornalismo. Pelo contrário, facilita-o, desde que o repórter saiba o que deve procurar, faça-se respeitar por quem tem o que ele busca e haja nas Redações o entendimento de que notícia ajuda, não atrapalha a rotina de uma edição. (...)

Fonte: Elio Gaspari, “O futuro do jornalismo estava na Gávea”, Folha de S. Paulo, Poder, 12/6/13.

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