Para quem pretendeu assumir a dianteira na resposta às "vozes das ruas", a presidente Dilma Rousseff decepcionou com seu discurso em rede nacional na última sexta-feira (21/6) - para dizer o mínimo. Afora as bravatas que qualquer governante diria - como o apoio às manifestações pacíficas e a condenação aos atos violentos -, restou muito pouco da fala presidencial.
Dilma fez quatro "anúncios". Nenhum deles merece crédito. Vejamos:
1 - Plano Nacional de Mobilidade Urbana - não é nada mais que um arremedo de planos já anunciados para a Copa do Mundo e Olimpíada e que em sua maior parte não saiu do papel. Por que acreditar que agora sairá?
2 - Importação de médicos para o SUS - taí uma medida polêmica e que está longe de resolver os problemas da precariedade e péssimo atendimento da saúde pública. O que falta mesmo é mais verba, além de gastos mais eficientes, sem desvios de dinheiro público.
3 - Diálogo com os manifestantes - para um governo petista, chega a ser chocante constatar que a presidência é criticada justamente pela falta de diálogo com os mais diversos setores da sociedade. Receber lideranças do Movimento Passe Livre está longe de resolver a falta de interlocução do governo Dilma. Aliás, por que a presidente não se dispôs a receber os manifestantes antes se apoiava tanto assim as "vozes das ruas"?
4 - Repasse dos royalties do petróleo para a educação - medida requentada, fruto de projeto já enviado ao Congresso.
Além destes quatro pontos, totalmente ineficazes, a presidente falou da necessidade de uma reforma política (eis um diagnóstico real, porém de difícil execução, recorrente em falas presidenciais nos momentos de crise política) e do combate à corrupção (só não disse como fará isto - ela poderia começar retomando a famosa "faxina", interrompida em razão das negociatas para a campanha da reeleição).
Dilma afirmou que não abre mão do combate à corrupção, mas aceita de volta no governo PR e PDT, dois partidos defenestrados do alto escalão após seus líderes - então ministros - serem acusados de desvios de recursos públicos. Por que a presidente não deu o exemplo com atos? Sem atitudes, as palavras na TV soam vazias.
Por fim, Dilma foi falaciosa ao falar sobre os gastos do governo federal com a Copa do Mundo. A verdade é que dinheiro público está sim sendo usado para o evento, como mostrou reportagem do UOL.
Se a presidente da República está de fato interessada em ouvir as "vozes das ruas", deveria voltar à TV e reproduzir o discurso proposto pelo jornalista Geneton Moraes Neto em seu blog "Dossiê Geral". Medidas simples e que estão ao alcance dela - basta querer!
Em tempo: esta semana, Dilma reuniu governadores e prefeitos das capitais e fez novas propostas. Cinco pactos, que podem ser vistos em seu discurso feito na ocasião. Um deles - a proposta de uma constituinte exclusiva para a reforma política - foi alvo de críticas até mesmo dentro do governo (o vice-presidente Michel Temer, advogado, é contrário à medida) e já foi derrubada.
As propostas apresentadas nesta terça-feira (25/6) pela oposição são mais práticas e atendem de forma mais direta o que pedem as "vozes das ruas". E só dependem de Dilma. Mais uma vez, basta querer!
Pelo que se vê, os políticos continuam surdos...
PS 1: Dilma me parece bem intencionada, mas não consegue escapar do "sistema" (e do PT). Paga o preço por isto - e este preço pode subir a cada dia.
PS 2: após a redução das tarifas do transporte público, as "vozes das ruas" conseguiram mais uma vitória. A Câmara Federal derrubou a PEC 37, que restringia o poder de investigação do Ministério Público.
O povo descobriu o poder que tem. O resto do "serviço" depende de cada um de nós, na hora de votar.
terça-feira, 25 de junho de 2013 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 20:10 |
E os políticos continuam surdos...
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