Pesquisadores anunciaram que a cópia da Mona Lisa encontrada no Museu do Prado é quase tão autêntica quanto o original. Isso dá o que pensar. O que torna a Gioconda o quadro mais célebre do mundo? E a resposta, que relutamos em aceitar, é: sua celebridade.
Não há dúvida de que Da Vinci era bom e Mona Lisa é uma grande pintura. Mas, tecnicamente, ela está no mesmo nível de outros trabalhos do polímata toscano e de outros grandes mestres. Por que ela, e não La Fornarina, de Rafael, por exemplo, se tornou o ícone da arte pictórica?
A rigor, até meados do século 19, Da Vinci não era páreo para Ticiano, Rafael, e a Mona Lisa era um quadro relativamente obscuro. Sua fortuna começa a mudar depois que foi roubada do Louvre por um italiano em 1911. Acabou sendo devolvida, já como celebridade. Sofreria dois outros "atentados" e se tornaria objeto de paródia de autores pop como Duchamp, Dalí e Warhol. Hoje, o Louvre estima que 80% de seus visitantes vão ao museu primariamente para ver a Gioconda, segurada em US$ 700 milhões.
A tese do físico Duncan Watts é que o sucesso é circular: a fama do quadro advém de sua fama, que foi precipitada por eventos aleatórios.
O interessante é que Watts tem um experimento para corroborar sua teoria. Ele recrutou 14 mil voluntários que deveriam escutar, avaliar e baixar 48 músicas inéditas de bandas desconhecidas. Os recrutas foram divididos em oito "mundos" incomunicáveis, onde podiam conferir a popularidade da canção pelo número de downloads naquele mundo.
Cada mundo evoluiu de modo independente. O que mais pesou foi a fama. A qualidade importou, mas pouco. Músicas muito bem avaliadas nunca foram um desastre, mas, com as canções médias, tudo podia acontecer. Elas podiam estourar ou ser esquecidas. Quem mandava era o caos.
Isso deveria bastar para relativizar as explicações usuais para coisas como sucesso, fracasso e o próprio gênio.
Fonte: Hélio Schwartsman, "Folha de S. Paulo", Opinião, 5/2/12, p. 2
PS: escrevi sobre o assunto no blog Piscitas - Travel & Fun. Leia aqui.
domingo, 12 de fevereiro de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 15:15 |
"Mona Lisa e o caos"
Marcadores: arte, Hélio Schwartsman
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