Conta-me o advogado Reynaldo Cosenza, um dos defensores do prefeito cassado Silvio Félix (PDT) junto à Câmara Municipal, que o agora ex-chefe do Executivo sentiu-se traído. Isto mesmo, traído.
Sempre tive curiosidade em saber o que os protagonistas da história (e Félix, queira ou não, foi um dos protagonistas de sua derrocada política) pensam, dizem e fazem em momentos cruciais. Assim, questionei Cosenza no final da tarde desta segunda-feira sobre quais foram as primeiras palavras do ex-prefeito tão logo deixou o plenário da Câmara na última sexta-feira.
(“Flash-back”: Félix e seus advogados deixaram o plenário tão logo o vereador Carlos Rossler, do PRP, manifestou com veemência e uma certa raiva seu “não”, que na verdade significava “sim” à cassação. Eram, naquele momento, ainda dois votos contra um pela cassação, mas o pedetista sabia que o jogo estava perdido.)
Pois bem, Félix deixou o plenário com seus advogados. Certo de que seria cassado, disse que se sentia traído por dois vereadores que teriam prometido votar a seu favor. “Por quem?”, perguntei a Cosenza. “Pelo ´Piuí´ e pelo Rossler”, respondeu.
Antonio Brás do Nascimento, o “Piuí”, mostrou-se governista desde sempre. Migrou para o PDT do então prefeito após ser expulso do PR, sigla pela qual se elegeu. O caso da expulsão envolveu justamente a fidelidade dele ao chefe do Executivo. “Piuí” contrariou a orientação do partido e votou a favor da candidata de Félix na eleição para o comando da Mesa Diretora da Câmara, em dezembro de 2010. Votara também a favor do então prefeito afastado na reunião final da comissão processante, sepultando o relatório do vereador Ronei Martins (PT) que recomendava a cassação.
De modo que “Piui” era, até quinta-feira, primeiro dia do julgamento de Félix, um voto certo a favor do então prefeito afastado.
Mas, como no pôquer e na vida, o jogo vira. E “Piuí”, quem diria, mudou seu voto. Com um simples e histórico “não”, passou de vilão a heroi. Ao invés de sair da Câmara sob escolta policial, como ocorrera dez dias antes, foi carregado nos braços do povo.
Rossler manteve-se em silêncio durante todo o processo de cassação. Pouco se ouvia falar a respeito de seu voto. Sempre que questionado, respondia superficialmente. Na hora “H”, porém, bradou um sonoro e retumbante “não”. Félix contava com ele. Minutos antes da votação, o vereador foi visto dando um sinal para o prefeito afastado nos bastidores da Câmara. Indicava para Félix ficar tranquilo que estava tudo certo. O gesto chegou a despertar a ira momentânea do oposicionista Mário Botion (PMDB), que vira tudo.
Puro jogo de cena de Rossler. Ele queria apenas evitar pressão. Já estava decidido a votar pela cassação - amigos de entidades das quais participa foram decisivos para seu voto.
Félix contava com um e/ou outro. Perdeu o apoio de ambos. Ficou sem um quinto e decisivo voto a seu favor.
Cosenza, tranquilo como de costume, criticou a postura de “Piuí” e Rossler. Disse que os vereadores deviam ter deixado claro que votariam pela cassação e ponto. Seria mais “leal”.
Como, porém, Félix podia cobrar lealdade de alguém naquele momento? Justo ele que pautou sua administração e sua política de alianças por práticas não republicanas.
Félix conhece bem o ditado: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Ou, dito de outra forma e parafraseando o título de uma novela exibida em 1984 pela TV Globo, “Traição com traição se paga”.
Em tempo: Cosenza disse que até o momento de nossa conversa, às 17h30, não havia decisão sobre um eventual recurso à Justiça para tentar anular a cassação. “A decisão vai ser dele (Félix)”, falou. O advogado contou ter se encontrado com o prefeito cassado na manhã desta segunda-feira, mas garantiu que a conversa girou apenas em torno de amenidades. “Não se falou nada daquele processo”, afirmou.
PS: os vereadores “Piuí” e Rossler foram avisados sobre a manifestação de Félix, via Cosenza, e devem comentá-la nesta terça-feira.
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