Não se pode analisar a queda de Silvio Félix (PDT) com base em um único fator. Nem sob um único ponto de vista. Nesse sentido, diante de tudo o que já foi colocado pela imprensa, gostaria de acrescentar um aspecto psicológico que me parece ter sido decisivo para a sua derrocada: a soberba.
Antes de prosseguir, vale registrar a definição da palavra: “orgulho, arrogância, presunção”, segundo o Dicionário Online de Português.
Desde que tomou posse em 2005, Félix optou pela cooptação como tática. Naturalmente, este tipo de prática tende a funcionar num primeiro momento. Contudo, trata-se de uma ação frágil. Simplesmente porque quem aceita ser cooptado hoje – por dinheiro ou outra benesse qualquer – pode facilmente ser cooptado amanhã por uma outra oferta.
A partir de 2009, escudado pelo estrondoso resultado das urnas em 2008 (fruto de uma conjuntura que ele preferiu ignorar, qual seja o excelente momento da economia nacional que deu a todos os prefeitos cofre cheio, mais a ausência de opositores qualificados), o pedetista elevou à potência máxima as práticas nefastas que vinha adotando desde o seu primeiro mandato.
Somou à cooptação uma atitude ainda mais arrogante do que sua natureza já apresentava. Acreditou que os 81% de votos que lhe garantiram o segundo mandato seriam suficientes para perdoar qualquer pecado e passar por cima de quem quer que fosse.
Assim, aos poucos foi perdendo aliados. Eliseu Daniel dos Santos (PDT), um dos cooptados por interesses alheios à ideologia e ao programa de governo apresentado por Félix, abandonou o barco quando se viu ignorado na eleição para deputado em 2010. Parceiro de chapa da então primeira-dama Constância Félix (PDT), Eliseu viu o então prefeito e sua esposa fazerem campanha ignorando-o. Em seu lugar, pediam voto para outros candidatos a deputado federal, como a hoje deputada Aline Correa (PP).
Depois, Félix perdeu o apoio do presidente interino da Câmara, Raul Nilsen Filho (PMDB), alvo de pressões de toda sorte do grupo governista – culminando com a possível tentativa de extorsão denunciada pelo peemedebista durante a sessão de julgamento do então prefeito afastado, na última sexta-feira.
O pedetista também viu arranhada sua relação com Elza Tank (PTB). Afastada da vida pública por motivos de saúde, nos bastidores comentou-se que a petebista não fez nenhum esforço para tentar ajudar Félix durante a crise política. Farid Zaine (PDT) tampouco quis voltar ao Legislativo para tentar lhe dar um voto contra a cassação agora concretizada (seria um voto decisivo pelo que se apresentou). Félix perdeu ainda o apoio de Carlinhos Silva (PDT), maltratado por motivos ainda não sabidos pelo blog. Nos dois primeiros casos, a falta de apoio foi sutil; no último, veio por meio de um voto a favor da cassação.
O fato é que Félix passou como um trator em cima de aliados durante quase oito anos. Fez o mesmo com a imprensa. Quando se viu em apuros, faltaram-lhe mãos estendidas. Pagou o preço de sua soberba. Achou que era mais sábio que o rei. Assistiu a seu reinado despencar como nunca se viu em Limeira. Sua queda foi do tamanho da altura que havia alcançado (quanto mais alto se sobe, maior é a queda, diz o velho ditado).
Félix saiu da política (sim, porque ninguém duvida que sua vida pública está sepultada) pelas portas do fundo. Muitas vezes covarde, mentiroso, demagogo e egocêntrico, o pedetista teve tudo para ser um grande político. Preferiu a política mesquinha, baixa, rasteira. Comandou um time de asseclas que agora deve estar temendo parar atrás das grades.
Como eu disse no encerramento da transmissão da sessão de julgamento pela TV Jornal, “Silvio Félix da Silva saiu da Câmara escoltado pela polícia e entrou para a história como o primeiro prefeito de Limeira a ser cassado”.
Triste fim para Félix (o fim que ele pediu e mereceu).
Em tempo: o clã Félix e todos os que estiveram ao seu lado terão certamente muita dor de cabeça com a Justiça já a partir de março.
Importante: muitas pessoas saíram maiores do processo de cassação de Félix. São os casos dos vereadores da oposição, da sociedade organizada e da imprensa livre. De última hora, Antonio Brás do Nascimento “Piuí” (PDT) também se juntou ao grupo.
Da mesma forma, muitos saíram menores. São a imprensa vendida e os vereadores Nilce Segalla (PTB), Silvio Brito (PDT), Iraciara Basseto (PV) e Almir Pedro dos Santos (PSDB) – os três últimos eleitos graças a votos de fieis da Igreja Católica e do Evangelho Quadrangular, prática deplorável que, espera-se, também tenha chegado ao fim junto com a era Félix. Afinal, o nome de Deus não merece ser usado para práticas tão nefastas como as que estes vereadores demonstraram.
PS: para o advogado José Roberto Batochio, também possuidor de uma grande soberta: "Aqui não, jacaré!". Esta "comarcazinha menor, de interior" tem dignidade!
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