segunda-feira, 18 de maio de 2009 | |

País do futuro?

"Lembra-se daquela história de que 'brasileiro não desiste nunca', muito usada na propaganda do governo? Pois não é que um dos garotos propaganda da história desistiu do Brasil? Chama-se Ronaldo Nazário de Lima, mais conhecido como Ronaldo Fenômeno, e confessou ontem, durante a sabatina Folha, que prefere educar os filhos na Europa.

Por dois motivos básicos: segurança e educação. Ronaldo contou que, quando seu filho vem ao Brasil e se junta a garotos brasileiros da mesma faixa etária, é impressionante a quantidade de palavrões que dizem os amigos do filho.

Já Ronald é 'doce', 'europeu', diz o pai. Na prática, quer dizer o seguinte: a educação que recebe na Espanha, onde vive com a mãe, o torna mais civilizado que seus companheiros no Brasil. Quando observei que a comparação parecia racista, o jogador devolveu: é apenas realista. Fechou com uma frase irrespondível: 'A gente tem que pensar nos filhos'.

É nessas horas que o Brasil dói na gente. É quando uma pessoa inteligente, informada e que teve a oportunidade de comparar o país com outro (ou outros) desiste de criar os filhos nestes tristes trópicos. E não se trata de um filho ou neto de espanhol, italiano, russo, javanês ou marciano, mas do arquétipo do brasileiro.

Se alguém precisar de um personagem com todas as características que se atribuem ao brasileiro, chamará Ronaldo para o papel. Dói mais porque uma pessoa com o jeito Ronaldo de ser desiste do Brasil para os filhos depois de 14,5 anos de dois presidentes que mais história e preocupação tinham com a questão social, que envolve, como é óbvio, segurança, educação e outras coisas mais.

Como fica ilusória essa história de potência emergente diante da constatação de que não emergiu um país em que um brasileiro típico deseje criar filhos."

Fonte: Clóvis Rossi, "Brasileiro desiste, sim", Folha de S. Paulo, pág. A2, 16.5.09

***

"O que ainda vai ter de novidade para o programa?
Miguel Falabella - A Isadora vai ser juíza. Não teve agora essa juíza loura, uma mulher corrupta, que está aí nas páginas? E alguém diz alguma coisa? Se bobear vai estar na "Caras" mostrando a casa, daqui a pouco. Não vai? Claro que vai! E todo mundo vai achar lindo. O Brasil perdeu os valores básicos. O "Toma Lá" é uma brincadeira, mas denuncia isso tudo.


E você acha que o público entende dessa forma? Em "A Lua me Disse", por exemplo, você foi acusado de racismo por causa das personagens Latoya e Whitney...
Falabella - Eu respondo a seis processos até hoje. O nível mental das pessoas que assistem à tevê no Brasil é por volta de 9 anos de idade. Em comparação a um jovem francês, o que lê um jovem brasileiro? Um jovem francês lê 200 vezes mais. E um país que não tem educação nos condena à mediocridade. Aqui mesmo tem diálogos e piadas que as pessoas não entendem, porque não têm informação. É o que eu brinco: para entender o "Toma Lá Dá Cá" tem de, pelo menos, ter lido "A Moreninha". Mas o público entende a transgressão e a brincadeira, gosta do absurdo.


A recepção, então, é boa?
Falabella - Com certeza. Quando você acharia que uma senhora, uma avó como é a Copélia, poderia se comportar dessa maneira? Uma mulher que só pensa em sexo? Mas o público ama a Copélia. Acho que a gente está tão farto de mentira, de hipocrisia, que, quando alguém diz uma loucura - e diz de verdade, porque eles acreditam naquilo - as pessoas gostam.

O que falta na tevê?
Falabella - Ela precisa se repensar urgentemente, como um todo. Nós precisamos apontar novos caminhos - mas é muito difícil. Porque nós trabalhamos com uma matéria-prima que é a palavra. Quanto menos educado é o povo, menos você pode dizer as coisas, por que as pessoas não entendem. As pessoas não leem e não sabem escrever. É aterrador. Por isso enfatizo a educação. O povo precisa ser educado, a leitura tem de ser incentivada. Não sei o que vai acontecer, mas, obviamente, mudanças são necessárias."


Fonte:
http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2009/05/18/ult4244u3361.jhtm

0 comentários: