"Estou abrindo uma subscrição pública para comprar uma casinha para o pobre deputado Domingos Dutra (PT-MA), que diz temer ser obrigado, "daqui a pouco, a andar de jegue, morar em casa de palafita e mandar mensagens por pombo-correio".
Coitadinho. Não sei se choro de dó ou recomendo o ilustre pai da pátria para o Prêmio Nobel do Cinismo, a ser ainda criado, mas que será, fatalmente, atribuído a um congressista brasileiro (ou a todos eles de cambulhada).
O coitadinho do Dutra só esqueceu que: 1) tem casa de graça em Brasília, paga por nós; 2) tem uma verba para gastar com correspondência que daria para inundar de papel uma cidade pequena; 3) carro é o que não falta para os pais da pátria. Se faltasse, o gordo salário que ganham daria para comprar ao menos um.
É, portanto, de um cinismo imbatível, digno de prêmio. Aliás, o seu partido, o PT, enchia a boca antigamente para reclamar dos privilégios de que gozavam os parlamentares (os "300 picaretas" de Lula, lembra-se?). Chegou ao poder e lambuza-se no gozo das vantagens a ele inerentes, para não falar nos trambiques que levaram o procurador-geral da República, com o aval do Supremo Tribunal Federal, a rotular suas principais lideranças de "organização criminosa".
Mas o coitadinho do Dutra não está sozinho na disputa pelo Nobel do Cinismo. O líder do PTB, Jovair Arantes, aquele mesmo que confunde as "coisas" públicas com as suas "coisas", agora pergunta, ante a ameaça de cancelamento das passagens para parentes de deputados: "Não posso mais trazer minha filha para dormir comigo?".
Pode, Arantes. É só pagar a passagem, como fazemos todos os mortais comuns. Repito: essa gente toda acha que maracutaias, trambiques e privilégios são direitos adquiridos. O Nobel do Cinismo seria pouco."
Fonte: Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 25.4.2009, p. A2.
Afinal, toda pessoa, física ou jurídica, que tenha assuntos a tratar em Brasília paga a passagem do próprio bolso. Congressistas pagam com o meu, o seu, o nosso bolso - e o presidente bate palmas, até porque não tem autoridade moral para criticar, porque confessa ter usado e abusado de idêntico privilégio, mesmo no tempo em que achava que a grande maioria do Congresso era formada por 'picaretas'.
Indecente e aética, a defesa que Lula faz do privilégio só não é surpreendente. É prima-irmã da que fez durante o escândalo do mensalão. 'Todo mundo faz', afirmou, então, como agora. E o que é que 'todo mundo faz'? É caixa-dois, o único crime confessado pela turma. E o que é caixa-dois? É 'coisa de bandido', na ilustrada opinião de Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça de Lula.
Um presidente que dá de ombros para a prática por seus próprios correligionários de 'coisa de bandido' não é exatamente o melhor exemplo que alguém possa invocar em matéria de cuidados com o dinheiro público, que é, em último análise, o fundo do debate.
Se o próprio presidente diz não achar 'correto' dar passagens para outras pessoas, como ele o fez, deveria é repetir a frase sobre os '300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses'. Mas o poder muda tanto as pessoas que, de condenar, passou a louvar 'picaretas' e privilégios indecentes.
Fonte: idem, 3.5.2009
1 comentários:
Nossa lendo isso dá mais raiva ainda destes politicos...
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