Quando a editora, idealizadora, chefe, proprietária, etc, desta revista me convidou para escrever algo, aceitei de imediato. O problema veio logo a seguir: escrever sobre o quê? Como deixei à escolha dela o assunto, logo veio a sugestão (ou seria ordem?): “escreva sobre carros”. Pronto, estava lançado o desafio. Sim, o desafio. Não sou um fanático por veículos a ponto de escrever com propriedade sobre eles. Obviamente que gosto de carros, acompanho os lançamentos, as tendências, mas não sei dizer de sopetão qual foi o modelo mais bem sucedido em toda a história de determinada marca nem quais são os principais diferenciais desta ou daquela montadora.
O que escrever, então? Como sou um tanto analítico, logo me veio uma ideia à mente. Refletir sobre os mitos que cercam o universo automobilístico. São mesmo mitos? É fato que o homem tem com o automóvel uma relação, digamos, passional? Claro que toda generalização é arriscada e talvez até injusta, mas não se fala de tendências comportamentais se estas não forem verificadas num universo um pouco mais amplo. Portanto, a questão que se coloca é: o que, efetivamente, o carro representa para o homem?
Se é voz corrente que as mulheres gostam de se arrumar para... as mulheres (ou seja, elas gostam mesmo é de competir umas com as outras), será que princípio semelhante se aplicaria à relação dos homens com os carros (e, portanto, com os outros homens)? Se analisarmos alguns atributos automobilísticos, tenderemos a crer que sim. Senão vejamos: quando se fala em carro, uma das primeiras características que vêm à mente é a potência. “Qual a potência do motor?”, perguntamos. Um certo psicanalista já explicava há pouco mais de cem anos esse tipo de pensamento. Não resta também dúvida - numa sociedade cada vez mais consumista e individualista como a atual - que o carro é um símbolo de status e poder. E, mais uma vez, o poder carrega consigo uma série de predicados que aquele mesmo psicanalista já explicou.
Como subprodutos da potência e do poder, aparecem no mundo automobilístico outras características, como a velocidade. Esta geralmente guarda ligação com a superação de limites e com a adrenalina do perigo, da aventura, do risco. E não é a velocidade pela velocidade; é a velocidade competitiva, a do quem pode mais. Aí reside a questão. Vê-se, portanto, que potência e poder estão aqui presentes de modo intrínseco. Por mais que se pretenda, é difícil fugir deles.
Diante disso, você poderia pensar: então o carro é um objeto tipicamente masculino? Não. A questão não está no objeto, está na pessoa. Ou seja, a relação que homens e mulheres estabelecem com o veículo é que faz a diferença. Entender essa diferença é fundamental, dela depende o sucesso ou o fracasso de um lançamento, por exemplo. Se você duvida, saiba que na Inglaterra uma montadora precisou “recriar” – por meio de propaganda - um modelo (muito vendido no Brasil) para apagar a imagem que ele tinha de ser “feminino” (ou seja, sem potência, pequeno, etc). Surgiu o modelo “twin”, o irmão gêmeo malvado. Era o mesmo carro, apenas com novos atributos. Não é preciso dizer que foi um sucesso de vendas.
Por tudo isso, os carros mexem com o desejo masculino, estão nos sonhos de muitos homens. Carros, mulheres, dinheiro... Será que é por acaso que no Salão do Automóvel tem sempre uma bela modelo ao lado de cada veículo? Definitivamente não! É a união de tudo o que qualquer homem deseja. Carros, mulheres, dinheiro... Se você ainda não entendeu, acho que um tal de Sigmund Freud explica...
PS: texto redigido para a revista "Máxima", da colunista social Rosiane Tank.
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