quinta-feira, 14 de maio de 2009 | |

Bendita crise!

Muito já se falou sobre a dita crise mundial. Falou-se bem, falou-se mal. De forma simplória, uns viram nela o apocalipse, enquanto outros simplesmente diziam que o otimismo faria tudo mudar. Nem uma coisa nem outra. A crise não será o fim do mundo, mas também não é uma fantasia.

O fato é que a crise chegou. Graças a Deus. Feliz ou infelizmente, nós humanos costumamos depender de momentos assim para mudar, rever posições, corrigir rotas. São as crises que nos levam a uma nova calmaria (que provocará acomodação até que surja uma futura nova crise). É assim na vida pessoal, tem sido assim na história da humanidade.

O historiador italiano Massimo Montanari, por exemplo, aponta que a gastronomia (ou melhor, a fome) ajudou a criar a civilização. Isso mesmo. Professor na Universidade de Bolonha, na Itália, ele disse em recente entrevista à “Folha de S. Paulo” que “a fome levou a história da alimentação a muitas direções fundamentais”. Foi em razão da fome que o homem buscou identificar alimentos duráveis, “que pudessem não apenas nutrir, mas também constituir reservas”.

Foi também por causa dela que foram elaboradas “técnicas de conservação: salgar, defumar, colocar em conserva, no mel, no azeite etc”. “Tudo isso nasce como ´cultura da fome´, mas permite construir extraordinárias elaborações gastronômicas. O salame, o presunto, a geleia são um ponto mágico de encontro entre a cultura da fome e a cultura do prazer - que, ao longo da história, não viajam separadas, mas juntas”, cita Montanari.

Assim, foi a crise da alimentação que levou os homens a cozinhar, a “transformar os produtos naturais em algo diferente”. Não é à toa que essa é uma característica exclusiva da raça humana.
Da mesma forma, foi preciso a crise atual para a sociedade repensar o mundo. Incrivelmente, o desenho geopolítico que temos em 2009, ou seja, no século 21, ainda segue as bases do mundo no pós-Guerra (1945). Isso acontece com o Conselho de Segurança da ONU, com a gerência do FMI e com tantos outros organismos internacionais – ainda que novos “atores” tenham surgido no cenário global, como o Brasil, a Índia, etc.

Então, se o ser humano precisa da crise para mudar, que venha a crise!

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