Li esta entrevista algum tempo atrás e achei interessante. Gostaria de compartilhá-la. Vale a pena. Em tempo: o original foi publicado pela "Folha de S. Paulo" em 11/8/2008. A seguir vai uma versão editada por mim.
O economista norte-americano Richard Thaler, de 62 anos, é um dos expoentes da chamada economia comportamental, que analisa o impacto de aspectos emocionais no processo de tomada de decisões. Algumas idéias de seu livro mais recente "Nudge" (algo como empurrãozinho) chegaram a ser incorporadas ao programa de governo do democrata Barack Obama. Thaler define sua teoria como a tentativa de elaborar e fornecer os estímulos mais apropriados para auxiliar o cidadão comum a fazer as melhores escolhas nos mais variados aspectos de sua vida.
FOLHA - O que significa exatamente esse empurrãozinho ("Nudge")?
RICHARD THALER - É qualquer característica do ambiente que captura a nossa atenção e altera nosso comportamento.
FOLHA - O sr. menciona muitas vezes a expressão arquiteto da escolha. O que é isso?
THALER - Um arquiteto da escolha é qualquer um que projete o ambiente no qual fazemos escolhas. Considere o cardápio de um restaurante. Alguém tem de decidir em qual ordem vai apresentar os itens, como agrupá-los e como nomear cada prato. Todas essas características aparentemente irrelevantes atuam como empurrõezinhos, de modo que os arquitetos da escolha influenciam o que nós escolhemos.
FOLHA - O sr. afirma que nós estamos mais próximos do Homer Simpson do que do dr. Spock, de "Jornada nas Estrelas". Somos menos espertos do que os economistas em geral pensam?
THALER - Os economistas inventaram um ser imaginário, muito parecido com Spock de "Jornada nas Estrelas". No livro nós nos referimos a essa criatura imaginária como "econ" [algo como homem econômico]. Econs são muito espertos e não sofrem de qualquer tipo de problema de autocontrole. Eles podem calcular qual é a melhor hipoteca com facilidade e nunca comem ou bebem demais. Os economistas inventaram os econs porque é fácil escrever modelos matemáticos para essas criaturas. Mas infelizmente para eles [os economistas], o mundo é repleto de gente real, que tem problemas em fazer divisões complexas sem ajuda de uma calculadora e que de vez em quando acorda com enxaqueca. Os economistas comportamentais estão trabalhando na criação de modelos econômicos melhores por meio da incorporação de características humanas nas suas formulações.
FOLHA - Há algum exemplo de sucesso do uso do empurrãozinho?
THALER - Darei dois exemplos. O primeiro é o do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, onde se gravou a imagem de uma mosca dentro do urinol no banheiro dos homens, bem próximo do escoadouro. Acontece que se você dá aos homens um alvo, eles miram nele e como resultado, o "transbordamento" caiu 80%. Em um aspecto bem mais importante, em muitos países são oferecidos aos trabalhadores fundos de pensão de contribuição definida, que são um bom negócio para os trabalhadores, mas muitos nunca chegam perto de assiná-los. Uma técnica que tem se mostrado de muito sucesso em acelerar o registro é mudar a opção-padrão. No fundo usual, quando um trabalhador se torna elegível a participar do plano, ele recebe primeiro uma série de formulários para preencher. Se ele não preenche os formulários, não é registrado no fundo. A alternativa é chamada "registro automático". Nesse esquema, o trabalhador recebe uma pilha de formulários mas é dito a ele que, se não preenchê-los, ele será registrado com uma determinada estratégia de investimento. Esse plano funciona e está sendo adotado ao redor do mundo.
FOLHA - O senhor defende uma idéia de nome bastante curioso, "paternalismo libertário". O que é isso?
THALER - A idéia do paternalismo libertário soa como um paradoxo, mas em nossa concepção não é. Por libertário nós nos referimos à liberdade de escolha. Por paternalismo queremos dizer ajudar as pessoas a fazer melhores escolhas, como avaliado por elas mesmas.
FOLHA - O que o governo pode fazer para ajudar o cidadão a fazer escolhas mais saudáveis como parar de fumar ou seguir uma dieta adequada?
THALER - Uma forma simples de ajudar na questão da obesidade é fornecer às pessoas melhor informação. Em Nova York, foi aprovada uma lei que exige dos restaurantes de fast food que exibam o número exato de calorias ao lado de cada um dos itens mencionados no cardápio do cliente. Isto pode atuar como um empurrãozinho em direção a hábitos alimentares mais responsáveis. As famílias também têm a possibilidade de adotarem seus próprios empurrõezinhos. A melhor maneira de perder peso é comer em pratos menores.
FOLHA - Uma de suas idéias mais curiosas é a de um software para evitar e-mails furiosos. Como isso funcionaria?
THALER - Todos nós já escrevemos um e-mail colérico do qual nos arrependemos assim que apertamos o botão "enviar". O software que esperamos detectaria e-mails raivosos (não me pergunte como) e enviaria ao usuário a mensagem: "Este e-mail aparece estar cheio de emoção! Tem certeza de que pretende enviá-lo?" A opção-padrão seria mandar o e-mail para um arquivo temporário, talvez chamado purgatório, onde ele permaneceria até que o usuário decidisse enviá-lo.
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