Quando ser jornalista ainda era apenas um sonho, participei de um curso sobre jornalismo na Acil. Uma das palestrantes era a jornalista limeirense Márcia Guerreiro, então editorialista do Estadão. Na ocasião, ela disse algo sobre jornalistas não terem tempo para si. Mencionou que numa redação grande parte das pessoas - talvez a maioria - não consegue manter relacionamentos, criar filhos...
Pouco tempo na profissão foi suficiente para entender o que ela dizia. Comecei a atuar profissionalmente em agosto de 1998. Em dezembro daquele ano, já tinha dificuldade em cumprir compromissos, como sair com amigos para comemorar o meu aniversário. Sim, meu aniversário.
Das 20h para as 22h, das 22h para a meia-noite... Cada vez meus horários se estendiam mais - e eu pensava: "como era feliz quando saía às 20h", "como era feliz quando saía às 22h...". Quando participava de reuniões com outros jornalistas, sempre ouvia relatos semelhantes - o que, de certa forma, confortava-me um pouco.
Até hoje é assim. Sempre que leio algo ou escuto alguém falar sobre a profissão, a falta de tempo é um dos destaques. É inerente ao jornalismo. Recentemente, lendo uma reportagem sobre um grande repórter, deparei-me novamente com estas manifestações. "Adivinha o que sobra, neste momento, para este seu amigo... Aquilo que falta na sua vida... TEMPO! Ele mesmo!", escreveu o jornalista Marco Uchôa para a colega Márcia Dal Prete, conforme reportagem da revista "Fantástico" (nº 4).
Pois é, tempo, tempo, tempo, tempo. Hoje, cada vez mais ocupo meu tempo de modo que não me sobra tempo. "Me sobra" é isto mesmo: tempo para mim, para minhas coisas. É um vício - e como tal custa a ser superado. Eu ainda não consegui, por mais que venha tentando. Alguns amigos dizem: "ele (eu) gosta do que faz". Gosto mesmo, nunca escondi. Ainda assim, falta tempo.
És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo,
vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo
Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Por seres tão inventivo e pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
és um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Que sejas ainda mais vivo no som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo
De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
e eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo
O que usaremos pra isso fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo
E quando eu tiver saído para fora do círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
não serei nem terás sido
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos
Tempo Tempo Tempo Tempo
num outro nível de vínculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Portanto peço-te aquilo e te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
(Oração ao Tempo, de Caetano Veloso)
terça-feira, 29 de julho de 2008 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 19:21 |
Tempo, tempo, tempo, tempo
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1 comentários:
Hahaha!
Que medo desse "presente-futuro"...
Muito bom o texto Boss!
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