(...) Não, a vingança não traz prazer nenhum; o mais
provável é que ofereça apenas o alívio de não se conviver mais com o rancor, o
ressentimento, aprisionados na garganta.
Há outra maneira de obter esse alívio, naturalmente:
trata-se do perdão.
Bela palavra; mas perdoar não é tão simples quanto parece.
Faz pouco sentido, para mim, a indulgência que se possa ter à noite, entre uma
oração e outra, dirigida a ofensores indeterminados. "Perdoo todo
mundo", penso, numa imitação preguiçosa da generosidade divina. Desse
modo, não perdoei ninguém.
Assim como a vingança, o perdão precisa ser pessoal, cara a
cara; o perdoado precisa saber que o foi. Fez-se um contrato entre nós;
combinei com meu agressor que estamos prontos a um novo começo. (...)
Fonte: Marcelo Coelho, “Relatos selvagens”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 19/11/14.
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