É incrível como, de tempos em tempos, expressões e
comportamentos invadem nosso cotidiano do nada, como um tsunami, que chega sem
avisar.
Há um mês quase ninguém tinha ouvido falar dos tais “rolezinhos”
ou deles tinha conhecimento. De repente só se fala nisso. Viraram assunto
nacional – inclusive com reuniões no Palácio do Planalto.
Não pretendo dizer aqui que a questão é irrelevante. Acho
sempre válido o debate, seja qual for o tema.
Apenas registro o aspecto curioso dos modismos.
Quando eu era adolescente, as meninas eram gatas. Hoje são “mina”
– “as mina pira”, como me “ensinou” certa vez um jovem cinegrafista da TV onde
eu trabalhava.
As mais abusadas eram “galinha”. Hoje são “periguete” (ou é “piriguete”?).
Biscate era biscate mesmo, hoje uma categoria quase em
desuso. Só sobraram as putas.
Nossa diversão era se encontrar nos “points” (às vezes
chamados de “domingueira”). E na “boate”. Não havia “balada”.
Muito menos “rolê”. Dar uma volta (de carro ou a pé) era dar
uma volta mesmo. Depois surgiu o “dar um giro”.
Agora vem esse tal de rolezinho. O que seria? Um “rolê”
versão reduzida, como o nome sugere?
A discussão chegou a tal ponto que a velha história da
disputa de classes entrou em cena (“na boa”, para usar uma expressão atual,
quem disse que os shoppings são templos da elite? Vá 90% dos shoppings de São
Paulo e do interior e verá muito mais gente simples e classe média do que a
dita elite, que frequenta os seus próprios – e quase inacessíveis – centros de
compras).
Foi o que bem disse Reinaldo Azevedo em sua coluna nesta
sexta-feira (17/1) na “Folha de S. Paulo”:
Setores da imprensa e alguns subintelectuais, com ignorância alastrante, tentaram ver o "rolezinho" como manifestação da luta de classes. Os shoppings, chamados de "templos de consumo" por bocós dos clichês superlativos, seriam a expressão mais evidente e crua do "fetichismo da mercadoria", uma estrovenga que "sedizentes" marxistas não conseguem definir sem engrolar incongruências e abstrações inanes. Deu errado. Boa parte dos shoppings está nas periferias e é frequentada por pobres. Quando a luta de classes falha, é o caso de convocar a guerra racial.
Seja como for, li na Internet alguns depoimentos de quem
frequente os tais “rolezinhos”. E o que me pareceu nada mais é do que a simples
e velha busca por diversão e paquera, coisa típica da adolescência e juventude
em qualquer época, em qualquer geração, tenha isto o nome de passeio, “giro”, “rolê”
ou “rolezinho”.
Ou, numa visão pós-moderna, como escreveu Azevedo:
Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas.
Se eventualmente há violência, que se coíba como se deve coibir em qualquer lugar, seja num clube, na igreja ou numa praça. Mais que isto me parece... deixa pra lá.
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