Eu realmente não entendo algumas situações no Brasil. Li no
UOL que o governo federal planeja cancelar até 90% das dívidas dos clubes de futebol.
Estamos falando de um montante de R$ 4 bilhões, segundo a reportagem, isto só
entre os 20 principais clubes brasileiros.
Ora, os clubes via de regra são mal administrados. Vivem
envoltos em suspeitas de corrupção numa área marcada pelas negociatas (vide o
escândalo do amistoso da Seleção Brasileira contra Portugal em Brasília em novembro
de 2008).
Tome-se o caso do Atlético-MG: em 2011, as receitas do clube
somaram R$ 100 milhões, ante uma dívida de R$ 368 milhões (quase quatro vezes
mais). A situação do Botafogo-RJ é ainda mais significativa: as receitas
somaram R$ 59 milhões ante uma dívida de R$ 564 milhões (ou seja, dez vezes
mais!). No Fluminense não é diferente: a dívida era cinco vezes maior que as
receitas.
Fosse uma empresa, os clubes não estariam falidos? Ou existe
algum gestor capaz de administrar algo assim?
Há que se considerar ainda que a gestão dos clubes em geral é
mais do que amadora, o que significa pouca perspectiva de mudança desta
realidade.
E o que faz o governo? Quer perdoar as dívidas, como se os
clubes merecessem algum benefício após tanta malversação com o dinheiro que
recebem e, em alguns casos, até com dinheiro público - que entra em forma de
patrocínio (Caixa Econômica Federal e Petrobras só para ficar em dois casos, um
atual e outro não tão antigo) e outras benesses.
Este é o país que vai sediar a próxima Copa do Mundo (2014) e
a próxima Olimpíada (2016).
Aliás, por falar nos dois eventos, o “moderníssimo” estádio
construído para os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007 foi interditado pela prefeitura
porque apresenta risco de desabamento da cobertura.
Estamos falando de uma obra de R$ 380 milhões e que já se
deteriora com menos de dez anos de uso.
E o Mineirão recém-reformado para a Copa? Tem sérias falhas
de acabamento, como revelou o blog do jornalista Juca Kfouri.
Neste caso, não se sabe se há algum comprometimento
estrutural do estádio, mas é inegável que as imagens são feias para um lugar “modernizado”
ao custo de R$ 666,3 milhões – dos quais R$ 400 milhões foram financiados pelo
governo federal (ou seja, por mim, por você e todos os demais brasileiros).
Os grandes eventos esportivos de fato se tornaram grandes
negócios. Não é à toa que rumaram para os países em desenvolvimento, onde a
crise econômica está um pouco mais distante (Brasil em 2014, Rússia em 2018 e
Catar em 2022 no caso da Copa do Mundo).
E sempre que vejo a Seleção Brasileira de futebol em campo
fico com a impressão de que alguém está ganhando dinheiro com um patrimônio
nacional. Aliás, por que o Brasil tem jogado tanto em Londres (Inglaterra)?
Goste ou não de futebol, ele cada vez mais diz respeito a você, cidadão brasileiro. Ou melhor, ao seu bolso...
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