“Está difícil criar filho aqui, viu!” A manifestação - em claro tom de desabafo e numa voz um tanto sufocada pelo medo - partiu de uma mãe, moradora no Jardim Odécio Degan, em Limeira. Ela telefonou para a redação da TV Jornal com o objetivo de denunciar a presença constante do tráfico de drogas no bairro - um dos pontos nevrálgicos da criminalidade no município.
No telefonema, a moradora citou pelo menos dois pontos de tráfico. Ela classificou a situação como insustentável e desenhou um quadro preocupante envolvendo a participação de menores na atividade. Paralelamente a isso, diz a moradora, tem crescido no bairro a quantidade de adolescentes grávidas. “Elas ficam nas biqueiras com os moleques”, falou.
O que me chamou a atenção no telefonema não foi a denúncia em si - a presença do tráfico no Odécio Degan é conhecida há tempos. Não é de hoje também que a Polícia Militar e a Guarda Municipal enfrentam resistência de moradores para entrar no bairro durante as ocorrências.
O mais preocupante na denúncia foi a constatação evidente do contágio da infância e juventude pelo crime no bairro. Não que isto seja novidade, mas trata-se de um apelo revelador da ausência do Poder Público e da falta de soluções aparentes para as famílias. Quando uma pessoa se dispõe a telefonar para uma emissora de televisão e manifestar tal situação é porque já não confia mais nos meios tradicionais aos quais deveria recorrer.
Infelizmente, tem crescido a quantidade de denúncias de tráfico que chegam à TV Jornal. Todas com enredo semelhante: casas e áreas abandonadas, atividade criminosa dia e noite, ausência das forças de segurança... São, muitas vezes, relatos desesperados, como de um morador do condomínio “Olindo de Luca” que, em cartas anônimas, denuncia a presença de crianças na venda de drogas.
Hoje, com a experiência acumulada à frente de um programa policial e as seguidas entrevistas com especialistas, não tenho dúvida em afirmar que as drogas são o principal problema de segurança, social e de saúde pública do mundo. No Brasil, a grande maioria dos crimes tem alguma ligação com as drogas.
Também, e infelizmente, não tenho dúvida em afirmar que não há saída a curto prazo para este problema. Se existir uma luz no fim do túnel, ela só aparecerá a médio e longo prazos. E não dependerá de nenhuma medida exclusiva – só um conjunto de ações nas áreas social, educativa, de saúde e segurança poderá apresentar algum resultado eficaz. Se começarmos hoje, nenhum resultado virá em menos de duas gerações.
Por enquanto, é o que há.
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