O ex-governador Mário Covas (1930-2001), do PSDB, era o que se pode chamar de uma figura. Turrão, sangue espanhol, não tinha papas na língua. Nem fazia questão de sair agradando todo mundo – um estilo muito diferente do seu então vice e hoje governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Como repórter do “Jornal de Limeira”, tive alguns encontros interessantes com Covas. O Estado fervilhava naquela época com o início do programa de concessões rodoviárias (e os pedágios) e as mudanças na educação (a tal progressão continuada). A cada lugar que o governador ia, surgiam os repórteres com os mesmos questionamentos: “E o preço do pedágio?”, “O aluno vai passar de ano sem aprender?”.
Covas não deixava barato. Respondia à altura o que muitas vezes considerava provocação. Em outras ocasiões, chegava a ser mesmo mal-educado diante de um profissional cuja função é questionar.
Certa vez, o governador tinha um compromisso agendado na cidade de Conchal. Faria lá entrega de viaturas para a polícia da região. Fui escalado pelo “JL” para cobrir o evento, mais especificamente para entrevistar a “fera”. Era período eleitoral e o então prefeito de Limeira, Pedro Kühl, buscava a reeleição pelo PSDB tendo como uma de suas bases de apoio a amizade com Covas. O adversário era o hoje prefeito Silvio Félix (PDT). A disputa estava relativamente apertada.
No dia anterior à visita, a assessoria do governador ligou para o jornal a fim de saber quais assuntos seriam abordados na entrevista. Isto parece ridículo, mas é praxe no meio.
Cumprido o protocolo, lá fui eu para Conchal. Aguardei as sempre intermináveis horas de discursos e puxa-saquismos tradicionais nas visitas de autoridades até que, no fim do evento, um assessor veio na direção da imprensa para avisar que o governador não daria entrevistas. Não me conformei. “Como assim?”, questionei. “Ligam num dia, fazem a gente vir até aqui e depois ele simplesmente não vai falar?”. A resposta foi curta: “A agenda está atrasada”.
Confesso que me irritei, mas não me preocupei muito. Sabia qual estratégia usar. Simplesmente aguardei no caminho entre o palanque e a van que trouxera o governador e me coloquei na frente dele, de modo que o forcei a pelo menos me ouvir. Na tumultuada roda que sempre se forma ao redor das autoridades, disparei uma pergunta que não havia sido passada à assessoria no dia anterior:
- Governador, em Limeira a disputa eleitoral está apertada entre o candidato do PSDB e do PDT. Os tucanos dizem por lá que se a oposição ganhar o Estado pode não mais ajudar a cidade. O que o sr. tem a dizer?
Covas enfureceu. Foi a segunda estratégia para fazê-lo parar e falar. O governador não deixava uma provocação passar em branco:
- Quem te pagou para fazer esta pergunta?
Mantive a calma e usei da ironia:
- Quem me pagou foi o Jornal de Limeira, Avenida Comendador Agostinho Prada, 2.651, em Limeira.
O tucano não se deu por rogado e repetiu a indagação. Eu repeti a resposta. Até que Covas falou: “Meu governo nunca discriminou nenhum partido...”. E seguiu citando exemplos de ajuda do Estado a cidades administradas pelo PT.
É importante salientar que, embora tenha sido uma provocação, a minha pergunta era pertinente. Aliados de Kühl usavam na campanha eleitoral o discurso de que o Estado deixaria de ajudar Limeira caso Félix vencesse – o que Covas negou (embora o governo dele tenha paralisado obras na cidade, como as da escola “Ely de Almeida Campos” e da duplicação da via Limeira-Piracicaba durante o fim da administração Jurandyr Paixão, com quem não mantinha laços de cordialidade).
Antes de Covas entrar na van, ainda tive tempo de fazer outra pergunta, uma das que estavam “combinadas” com a assessoria. E o governador se foi, bravo. Eu voltei ao jornal, satisfeito.
PS: uma outra visita de Covas a Limeira também rendeu uma boa matéria. Os professores estavam em greve e a situação esquentou, como pode-se ver na reportagem a seguir, assinada junto com a colega Renata Caram:
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