sexta-feira, 8 de julho de 2011 | |

Inspiração

Nada sei dessa vida
Vivo sem saber
Nunca soube, nada saberei
Sigo sem saber...
Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
Sou errado, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto tempo me deixar
(“Nada sei” [Apneia], de Paula Toller e George Israel) 

Andei pensando na vida (o que, para quem me conhece, é quase um pleonasmo, já que sou sinônimo de pensar na vida...). Por situações que enfrentei, andei ouvindo muitas pessoas. Algumas delas, até inesperadamente, deram conselhos valiosos. Um deles me chamou a atenção, pois já o tinha ouvido certa vez: “Endureça um pouco seu coração”.

Sou realmente coração mole. Péssimo comprador (porque quase não pesquiso preços). Cliente de “retorno alto” para as lojas (não que eu esbanje dinheiro; ao contrário, sou contido nos gastos, mas realmente sou muito ruim para negociar descontos).

Às vezes penso mais nos outros do que em mim. Cobro-me demais (sim, sou perfeccionista) e, por tabela, cobro demais dos outros. Muitos se assustam e se afastam.

Não aceito que alguém queira menos que o máximo que pode dar – e convivo com isso diariamente.

Torço muito para as pessoas que amo – familiares e amigos.

Vivo sonhando (sim, confesso, sonho demais). Às vezes gasto mais tempo sonhando do que agindo – eis um erro. Não aceito que as pessoas a quem quero bem abram mão de seus sonhos (embora eu mesmo tenha vários momentos de dúvida, aquela que nos faz perguntar “vale a pena?”).

Esta semana, li um desabafo de uma pessoa querida dizendo que queria apenas ser “normal”. Ela tem um probleminha de saúde. Aquilo me fez rir e refletir... Quem de nós é “normal”? O que é, afinal, ser “normal”?

“Dizem que sou louco por pensar assim... mas louco é quem me diz que não é feliz...”, já cantava o poeta.

Sou extremamente ansioso (lembro quando um bruxo, feiticeiro, benzedeiro ou coisa assim diagnosticou esta minha característica sem sequer me conhecer). Receitou-me floral de Bach – que tomei só por alguns dias. A ansiedade não me permitiu esperar resultados a longo prazo...

A mesma ansiedade não me deixa dormir quando preciso fazer algo - uma viagem, por exemplo. Ou quando preciso resolver algo - uma discussão com um amigo, por exemplo.

Tenho muitos momentos de fraqueza; em outros, surpreendo-me com minha força, uma desconhecida que se manifesta.

Choro muito, sorrio pouco – eis outro problema. Não, pensando bem, há aí um certo exagero. Não choro tanto assim. Choro pouco na verdade, mas choro (há pessoas que não conseguem e alimentam apertos no peito).

Adoro conversar, ouvir histórias, falar sobre carros, futebol, trabalho, dinheiro, viagens, comida, cerveja, enfim. Sinto falta de bons interlocutores porque por mais que eu escreva para afastar momentos de solidão, nada como um ser de carne e osso para trocar ideias.

Adoro viajar – e viajo muito, muito menos do que gostaria. Um dia ainda corrigirei esta falha. Também, e naturalmente, adoro conhecer lugares e pessoas.

Sou indignado com injustiças. Detesto gente que quer tirar proveito dos outros ou das situações. Odeio quem faz uso do “jeitinho”.

Não tenho problema em reconhecer minhas falhas: sentir raiva, ódio até, sou humano, mas não, não alimento mágoas. Procuro praticar o perdão.

Outro dia um promotor disse numa palestra que todos nós ali tínhamos a “alma inquieta”. Bingo!

Gosto do que é bom (não necessariamente caro ou luxuoso) – mais uma vez, sou humano. Contudo, admiro são Francisco de Assis.

Sou sagitariano de fato. Certa vez, disseram numa palestra que nós, de Sagitário, queremos ajudar os outros sem perguntar se querem ajuda. “E aí o sagitariano pode se magoar”. Pois é... Não ajudamos por terapia nem piedade. É da nossa natureza – conheço sagitarianos que são verdadeiros “anjos da guarda”.

Tenho prazer em trabalhar, não necessariamente no trabalho. São esferas distintas. Várias vezes abri mão da vida pessoal pelo profissional. Fiz com dedicação. Como todos, sempre achei que recebia menos do que merecia. Nunca, porém, usei isso como desculpa para deixar de fazer.

Vivo em crise. Crise existencial. Como a hiena Hardy, a parceira do leão Lippy no clássico de Hanna-Barbera. “Ó céus, ó vida...” Nestas horas, lembro do sol (“enquanto houver sol...”). Lembro também do “Filtro Solar” do Pedro Bial: “Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos 22, o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.”

Isto não impede novas crises, mas também não permite a acomodação. “Acomodar-se jamais!” foi durante algum tempo o lema da empresa onde tive meu primeiro emprego.

Costumo dizer, como cantou outro poeta, que “ando devagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais...”. Ao mesmo tempo, estou convicto de que “cada ser carrega em si o dom de ser capaz, de ser feliz”.

Isto não significa que eu não tropece por aí. Quem pode-se dizer imune aos tombos nesta vida?

Sou amigo, irmão, filho, namorado. Bom ou mau, bem ou mal.

Muito prazer, este sou eu. Errado e errante, como anunciam os versos que abrem este texto. E, se me permitem, “vou errando enquanto tempo me deixar...”.

PS: este texto é uma celebração à vida e a nós, seres aflitos e angustiados, eternamente à espera do que nunca chega, ingratos e descontentes com o que temos. Seres imperfeitos, cheio de defeitos, mas com qualidades incomparáveis. Basta olhar para dentro de nós e para os que estão ao nosso redor.

* A imagem que ilustra esta postagem foi retirada da Internet.

2 comentários:

Érika de Moraes disse...

Gosto. Só fico levemente perdida com seus textos. Já ouvi de vc para não ser tão profunda, vai ver teve um tico de conselho nisso, já que a profundidade dói. Mas C.Lispector já disse: "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa o entendimento". E Pagu: "dói porque é bom de fazer doer". Escrevi nada com nada, né? É, tem coisa que não tem palavras.

Rodrigo Piscitelli disse...

Uma resposta "nada com nada" para um texto "nada com nada" hehe.

Em tempo: não me lembro de ter dado o tal conselho, mas dei (se você falou, acredito!). Então, talvez hoje seja mais adequado dizer que eu sou mesmo uma "metamorfose ambulante...".