O BNDES está disposto a patrocinar a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. O contribuinte vai desembolsar cerca de R$ 4 bilhões a fim de viabilizar a transação. Janio de Freitas foi ao ponto ao dizer, ontem, que a participação do banco estatal "compromete o governo Dilma Rousseff com um negócio privado de futuro juridicamente incerto e com esperáveis efeitos negativos para os consumidores e a economia social".
Não há como separar a decisão do BNDES que beneficia a maior rede de supermercados do país da amizade estreita entre Abilio Diniz e Lula. No Brasil, o velho provérbio funciona de ponta-cabeça: amigos, amigos, negócios incluídos.
Sérgio Cabral, que agora pretende criar um código de ética para si mesmo - parece até piada -, entende bem dessa promiscuidade.
Não é outra a lógica que orienta a ação da Prefeitura de São Paulo para viabilizar a construção do Itaquerão. A Câmara Municipal já aprovou em primeiro turno a liberação de R$ 420 milhões em incentivos fiscais -na prática, dinheiro público - para a Odebrecht e o Corinthians - a maior empreiteira do país e um clube privado.
O Kassab que torra assim o dinheiro do paulistano é o mesmo prefeito que prometeu construir hospitais que não saíram do papel e resolver a carência de creches - hoje faltam 127 mil vagas.
Pão de Açúcar e Itaquerão são bons exemplos de desvio (legal, mas nem tanto) do dinheiro público para interesses privados. É o patrimonialismo no atacado.
No varejo da política, é também o que ocorre com a maior parte das emendas parlamentares, usadas para satisfazer demandas paroquiais ou, pior, patrocinar maracutaias com verba pública. Entre a opção do BNDES, a ação de Kassab e o apetite dos deputados para garantir suas obrinhas a diferença é de escala, não de natureza. Simultâneos e sem ligação entre si, são todos episódios didáticos de como funciona (e a quem serve) o Estado no Brasil.
Fonte: Fernando de Barros e Silva, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 1/7/2011, p. 2.
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