quinta-feira, 21 de julho de 2011 | |

O centenário de um visionário

McLuhan está novamente na moda. Seu "O Meio é a Massagem" pode ser lido hoje como uma profecia realizada. Está ali um diagnóstico persuasivo do que ocorre com nossas vidas na medida em que submergem no vórtice da mídia (internet incluída).

Ainda nos anos 60, olhando para a televisão, conseguiu catalogar questões que estão na ordem do dia. 

Previu o fim da privacidade, chamando os meios eletrônicos de "imensa revista de fofoca que nada deixa passar" e onde "não há modo de apagar os erros da juventude". Soa familiar, não? 

Previu que a escola e a academia enfrentariam crises crescentes em razão do seu apego ao texto e o preconceito com outras formas de representação e colaboração, consideradas não sérias. McLuhan propõe como antídoto o humor, dizendo que "uma piada pode ter mais significado que as obviedades comprimidas entre duas capas". Mal sabia que o humor emergiria como a linguagem por excelência da internet. E que a crítica feita há mais de 40 anos ainda é válida.

Previu também a crise do direito autoral e a cultura do remix. Dizia que "qualquer um pode hoje tornar-se tanto autor quanto editor". A fórmula seria "copiar um capítulo deste livro, outro daquele, desapropriação instantânea". Elogiava o amador e dizia que "nossa cultura oficial luta para forçar os novos meios a fazer a tarefa dos antigos".

McLuhan era um homem que ouvia o chamado do século 21 enquanto lutava contra a rigidez herdada do 19. 

ALDEIA QUEBRADA
Mas, tão importante quanto seus prenúncios, está aquilo que não foi capaz de prever. Sua "aldeia global" desagrega-se hoje em infinitas minialdeias, reunindo pessoas com ideias e gostos similares, sem muito contato umas com as outras. 

Citando Poe, confiava na capacidade do homem de "reconhecer padrões". Essa seria nossa tábua de salvação para sobreviver ao redemoinho das mídias.
Não vislumbrou, no entanto, que o processamento de padrões acabaria automatizado e concentrado em algumas empresas, superando de vez qualquer romantismo humanista no embate entre homem e mídia.

MÍDIA TOTAL
Também não previu que empresas como Google, Apple ou Facebook teriam como ambição incorporar todas as mídias e conteúdos (livros, TV, celulares e a própria internet com sua justaposição de meios), o que aponta para o surgimento de uma mídia onisciente de todas as outras.

No centenário de McLuhan, sua obra pode ser lida não apenas como vaticínio bem-sucedido mas também como um conto moral, a nos inspirar cautela. 

Fonte: Ronaldo Lemos, “Intelectual faz diagnóstico do embate entre homem e mídia”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 21/7/11, p. F3.
McLuhan from mc luhan on Vimeo.

* Para ler mais, clique aqui (é preciso ter senha do jornal ou do UOL)

0 comentários: