O depoimento do secretário da Educação de Limeira, professor Antonio Montesano Neto, à CPI da Merenda da Câmara Municipal ontem foi sintomático. Revelou a desfaçatez da classe política, elemento essencial para o estado de coisas que se vê hoje (hoje?) na cidade e no país.
Com a experiência de quem já presidiu o Legislativo e comandou uma das mais bem feitas CPIs da história de Limeira, a que investigou irregularidades nos contratos de asfaltamento durante o governo Pedro Kühl (PSDB), Montesano foi firme em todas as respostas. Quando se defendeu e contra-atacou.
E não foram poucos os contra-ataques. Em pelo menos quatro oportunidades, todas com muita veemência, o secretário atribuiu a supostos desmandos do governo José Carlos Pejon com o setor da merenda a decisão de terceirizar os serviços.
Primeiro Montesano disse que o cenário encontrado nas escolas no início de 2005, primeiro ano do governo Silvio Félix (PDT), era precário. Problemas na infraestrutura das cozinhas e nos equipamentos (parte destes problemas não chegou a ser documentada, admitiu o secretário). Depois, afirmou que não havia sequer merendeiras oficialmente, já que o cargo havia sido extinto do quadro de funcionários municipais.
“Recordo-me de ter encontrado em 2005 uma situação caótica na merenda fornecida pelo município", disse, conforme mostra o Jornal de Limeira (clique aqui). Como se vê na reportagem, ele citou inclusive riscos à saúde das crianças devido a ninhos de baratas e insetos na cozinha de algumas unidades de ensino.
O secretário falou ainda que era comum as diretoras terem que recorrer ao dinheiro da APM (Associação de Pais e Mestres) para complementar a merenda, tamanha a falta de qualidade. Chegou a classificar a situação como uma “precariedade”.
E Montesano foi além. No fim do depoimento à CPI, pediu autorização para acrescentar um detalhe. E passou a ler o que seriam os cardápios da merenda servida no município em agosto de 2004, no governo Pejon. Sopão, mingau e por aí vai...
Quando questionado a respeito do valor gasto no primeiro ano de terceirização da merenda (R$ 8,1 milhões) em confronto com 2004, último ano do governo Pejon (R$ 6,4 milhões), o atual secretário da Educação lançou um desafio enfático: “Este valor não é verdadeiro! Desafio alguém a sustentar a merenda com esse dinheiro”.
Antes de Montesano, o próprio prefeito já havia culpado o governo Pejon pelos problemas na merenda, como registrou a imprensa (leia aqui).
Não há nenhum problema no contra-ataque de Montesano. Ele faz o papel dele. O problema está no silêncio de Pejon. Desde que deixou o comando do Executivo, o ex-prefeito se empenhou em defender sua gestão – em especial no que diz respeito à merenda, calcanhar-de-Aquiles do sucessor.
Foram inúmeras as visitas a órgãos de comunicação em que Pejon teceu críticas ferrenhas à terceirização implantada pelo governo Félix, inclusive levantando suspeitas a respeito da decisão e do valor gasto. Sempre frisava a diferença entre os R$ 6,4 milhões gastos no último ano de sua gestão e os R$ 15 milhões previstos no contrato firmado pela prefeitura no governo Félix com a SP Alimentação.
Pejon não se cansava de enviar textos à imprensa defendendo suas posições, seja diretamente ou por meio de seu assessor informal.
Agora que as críticas foram feitas numa CPI da Câmara, Pejon se calou. Coincidentemente, a atitude ocorre num momento em que o ex-prefeito virou braço direito de Félix, seu antigo desafeto. Pejon é secretário-chefe de gabinete do atual prefeito e, dizem, uma espécie de “primeiro-ministro” do atual governo – como este blog já registrou (veja aqui).
Por isso o depoimento de Montesano foi sintomático. O silêncio de Pejon é muito revelador do caráter da política. E das pessoas...
Em tempo: em dezembro de 2007, a coluna política do "Jornal de Limeira" informava que uma aliança de Pejon com Félix para a eleição de 2008 era “impossível”. Sinal de que os ventos da política realmente mudam...
sexta-feira, 18 de março de 2011 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 10:45 |
O enigmático silêncio de Pejon
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