“Bárbara prefere andar pelas ruas, por entre aquelas construções de um só andar, quase sem janelas. Algumas parecem casas de boneca, com a pintura colorida, uma delas até tem a fachada de azulejos pintados de azul. (...)
Na confusão de ruas, Bárbara chega de repente a uma praça. Atrás de duas escadarias de pedra com corrimão abaulado, como um navio sobre altas ondas, a luz quebrando-se sobre a proa, a igreja. (p. 186)
(...) tinha sentido falta da cidade, dos ângulos retos, da geometria clara. Mas a cidade ia se estreitando como um funil. (...)
Uma fachada com azulejos azuis, um arco. Chega numa outra rua, as frentes das casas se juntam. Um pesadelo, uma armadilha, um labirinto de ruas no calor febril da tarde.
Davatz sente falta de ar, começa a tossir. Uma igreja atrai sua atenção. Duas torres de sino em estilo português, como toucas lembrando guloseimas.
Demora-se bastante debaixo da porta, reconhece a Simmen lá na frente, no interior escuro, um brilho dourado o atrai magicamente para a abóbada.
O altar é como a porta de uma câmara de tesouros: anjinhos, pilastras de madeira, folhas douradas. Sete camadas de nuvens, que vão se estreitando em direção ao alto, conduzindo ao tabernáculo. Um abismo escuro. (...)
Bárbara disse mais tarde que tinha gostado da igreja. O crepúsculo como na floresta, as palhetas faiscantes das folhas, as escamas da cobra de madeira com pintura metálica, as pilastras em caracol como um saca-rolhas, corações trabalhados em filigrana prateada sob o tabernáculo.” (p. 188-9)
Nos livros, relatos da Limeira de ontem, ainda que seja ficção (será mesmo só ficção?).
O texto acima está no livro "Ibicaba – o paraíso em mente", de Eveline Hasler (Indaiatuba, Rumograf, 2007. Título original "Ibicaba - das paradies in den köpfen"). A obra, um romance, relata as dificuldades enfrentadas pelos primeiros imigrantes que foram à Fazenda Ibicaba, do senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, como colonos no sistema de parceria, em meados do século 19.
Davatz é um personagem real. Trata-se do mestre-escola suíço Thomas Davatz, líder da revolta dos colonos de Ibicaba. Seus relatos mudaram os contratos de parceria e resultaram no famoso livro "Memórias de um colono no Brasil".
Com tanta mistura entre ficção e realidade, por que a tal igreja citada não poderia ser real? Na época, eram marcantes na cidade a igreja matriz (reformada nos anos 1870) e a Boa Morte (de 1867). Como a ficção dá asas à imaginação, por que não?
* A foto foi tirada do Wikipedia e sua autoria é atribuída a Mateus Rosada.
segunda-feira, 3 de maio de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 20:06 |
Memórias de Limeira
Marcadores: colonos, Davatz, Eveline Hasler, história, Ibicaba, imigrantes, Limeira, livros
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