terça-feira, 18 de maio de 2010 | |

A bomba brasileira

Sabe aquela brincadeira da notícia boa e da notícia ruim? Então, isso acontece com o Brasil. Qual você quer primeiro? A ruim: o país está criando uma bomba relógio. Com prazo definido para explodir – entre 30 a 40 anos. Agora a boa: há solução para isso, há tempo para solucionar e há receitas já testadas em outros países que podem ajudar a indicar o melhor caminho.

O desenvolvimento brasileiro, fruto dos avanços dos últimos 15 anos, está se refletindo em setores diversos, da economia à saúde, da educação à demografia. Enquanto cai a taxa de natalidade, cresce a expectativa de vida. Ou seja: a população jovem cresce menos e a terceira idade se expande. A pirâmide etária brasileira, que eu aprendi no Ensino Médio, já está virando um barril.

Isto leva a uma conta: com menos jovens trabalhando e contribuindo com a previdência e mais gente aposentada (e recebendo da Previdência), o rombo atual as contas tende a aumentar. E aumentar, aumentar e aumentar...

A demografia virou uma ameaça invisível. Este é justamente o título de um livro que está saindo do forno. Assinado por Fábio Giambiagi e Paulo Tafner, a obra – a ser lançada no próximo dia 24 na Livraria da Travessa, no Leblon, Rio de Janeiro - apresenta este problema de proporções monstruosas e propõe soluções.

Giambiagi é economista; Tafner é do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Eles partem do pressuposto de que o Brasil não está dando a devida atenção ao problema - o tema já foi citado na pré-campanha eleitoral: o tucano José Serra defendeu uma nova reforma da previdência, a terceira (outras ocorreram em 1998 e 2003, nos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula); a petista Dilma Rousseff é contra. Os autores pregam, claro, mudanças nas regras do jogo para evitar um previsível colapso.

A questão foi tema de entrevista dada por Giambiagi à "Folha de S. Paulo", publicada segunda-feira (17/5). "A essência do problema é essa progressiva mudança demográfica. No ano 2000, o número de pessoas com 60 anos ou mais era de 14 milhões de pessoas, enquanto o número de jovens, entre zero e 14 anos, era de 51 milhões. O perfil apontado pelo IBGE para 2050 é que a população jovem irá diminuir em termos absolutos de 51 para 28 milhões de pessoas. Já a população idosa de 60 anos ou mais vai aumentar de 14 para 64 milhões. Em 2050 teremos mais de três vezes o número de idosos, em termos absolutos, por população economicamente ativa do que hoje. Esse é o desafio", citou (clique aqui para ler).

Um desafio nada invisível, registre-se.

Contudo, como se vê, é um problema futuro. Foi o que ressaltou Tafner em entrevista ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg na rádio CBN:



Na mesma entrevista, Tafner deu uma dimensão do problema:


Pois é, e o Josué? Esta é uma outra questão importante: os problemas da explosão demográfica, tal como do aquecimento global, não virão de imediato. Isto motiva um confronto inevitável entre individual e coletivo, presente e futuro. No caso da Previdência, coloca uma questão de justiça: por que eu, hoje, devo pagar essa conta?

Talvez a resposta esteja numa citação do ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, feita por Giambiagi na entrevista à "Folha": "Um dia nossos filhos olharão para nós e dirão: 'Mas onde é que vocês estavam quando isso estava acontecendo?'".

Em tempo: não é só a Previdência que sentirá os reflexos da explosão demográfica. "Esse panorama interfere em todas as dimensões da vida e terá grande impacto nas demandas de todos os setores da sociedade", frisa o governo de São Paulo. Os setores social e de saúde já notam a mudança há algum tempo. "Isso tem gerado um aumento na demanda por políticas públicas para idosos", ainda conforme o governo.

A Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) divulgou em abril um amplo estudo sobre o envelhecimento da população paulista e um fenômeno chamado "bônus demográfico". Um dos apontamentos: "se hoje a metade da população paulista tem menos de 32 anos, daqui a 40 anos terá mais de 45 anos".

Para ler mais - inclusive acessar a pesquisa - e entender melhor essa questão, clique aqui.

* A imagem da pirâmide foi retirada do blog "dia a dia, bit a bit", de Silvio Meira.

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