Esquecer. Eis o grande segredo dos novos tempos. Segredo e desafio. Afinal, com o mundo virtual, tudo fica eternizado. E numa dimensão nunca antes imaginada. Se você pensa que é exagero, deve ler (clique aqui) a entrevista que o pesquisador Viktor Mayer-Schöenberger deu recentemente ao jornal “Folha de S. Paulo”.
Nela, o autor do livro “Delete - The Virtue of Forgetting in the Digital Age” (Princeton University Press) diz que a capacidade (isto mesmo, capacidade!) de esquecer, de apagar da memória, que o ser humano possui é antes de tudo uma virtude, a engrenagem de um motor que o impulsiona para adiante.
Obviamente que, para Mayer-Schöenberger, esta essencial capacidade foi seriamente arranhada nos tempos modernos. Daí a pregação para que o ser humano recupere seu potencial de esquecer – o que, convenhamos, é cada vez mais difícil. Duvida? Basta “googlar” à procura de algo ou alguém (sim, da mesma forma que o “delete” fez surgir o “deletar”, o Google gerou sua versão verbal, que pode ser traduzida justamente por descobrir no baú da Internet tudo o que talvez merecesse estar esquecido).
Aliás, o Google acaba de criar uma ferramenta - um mapa na verdade - para mostrar os pedidos de informação e de retirada de dados que recebe por país (leia aqui). Curiosamente, na primeira divulgação, o Brasil liderou o ranking. Foram 3.663 pedidos de informação e 291 solicitações de remoção (218 ligadas ao Orkut, a comunidade de relacionamentos virtuais que encontrou nos brasileiros seus mais ardorosos adeptos). Estariam os brasileiros mais expostos e mais dispostos a tornar público o que antes era privado?
No mesmo jornal, um texto de João Pereira Coutinho (leia aqui) tratou de um outro aspecto deste “admirável mundo novo”, tão relevante quanto a lembrança e o esquecimento: os relacionamentos. Ele fala das novas “amizades” – aquelas que dispensam o contato pessoal - para tratar da privacidade e desta para uma questão mais profunda: a liberdade.
Citando o escritor Jordi Soler, Coutinho escreve que “é precisamente porque existe um espaço nosso, e só nosso, que existe também a liberdade de pensarmos como entendemos; de nos reunirmos com quem quisermos; e de nos expressarmos sem temer as interferências do poder político com a sua pata potencialmente censória”.
E, por coincidência, Coutinho considera que estas questões estão intimamente ligadas à... capacidade de esquecer! “Porque sem esquecimento não existe liberdade para continuarmos ainda e um pouco mais”.
* Infelizmente, os links dos dois textos exigem senha do UOL ou da “Folha”.
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