quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009 | |

O dever do prazer

Estava assistindo segunda-feira ao programa “Roda-Viva”, da TV Cultura, que teve como entrevistado o filósofo e sociólogo esloveno Slavoj Zizek, quando me lembrei de minhas aulas de filosofia. Mais precisamente da primeira aula, cujo tema era: “para que serve a filosofia?”. Em resumo, o texto pregava o valor da filosofia como reflexão e manifestava, com certa ironia, que quem considerasse a reflexão uma inutilidade, então poderia classificar a filosofia de inútil.

Digo isso porque muitas das manifestações de Zizek foram, para usar um jargão popular, contra a maré. E é sempre importante alguém remar contra a maré, por mais absurdo que isso possa parecer. Se não servir para mudar uma realidade, ao menos essa contracorrenteza gera uma certa inquietação, faz pensar.

Durante a entrevista, o filósofo discutiu o que chama de “dever do prazer”. Segundo ele, o modelo de vida da sociedade contemporânea, individualista e um tanto libertário, cujo valor principal é “fazer o que dá prazer” (independentemente de dinheiro, etc), acabou produzindo efeitos colaterais danosos: o estresse e a depressão.

Por esse raciocínio, na medida em que a sociedade estabeleceu como valor a busca pelo prazer (entendido não do ponto de vista sexual), tornou essa busca um fardo, uma obsessão, um objetivo a ser atingido a qualquer custo. Um dever. E quando não se atinge um objetivo ou não se cumpre um dever, vêm a depressão, o estresse... O que seria, portanto, um prazer acaba virando um tormento. O que se propôs como uma libertação acabou virando uma prisão.

Ao ouvir o filósofo, pus-me a pensar na vida. Muitas vezes, sentimo-nos aflitos, angustiados, e não sabemos bem traduzir o que esses sentimentos estão manifestando. Talvez a resposta esteja no tal “dever do prazer” citado por Zizek. O que acham?

Em tempo: o filósofo esloveno vê na atual crise mundial um perigo (e não é meramente econômico). De acordo com Zizek, mais do que sinônimo de oportunidade, uma crise é sempre perigosa. A atual, por exemplo, pode fazer emergir – como já se aparenta, na visão dele – uma reação da direita conservadora. A história está carregada de exemplos de momentos de crise que resultaram em totalitarismos.

PS: Zizek disse gostar do Brasil, vê o País como estratégico no cenário mundial, mas odeia carnaval.

1 comentários:

O sonho não acabou disse...

N vai contar p nós que grandes negócios são estes? Olha o papel do Jornalismo heim, sempre informar com isenção e autonomia. Conta vai.

Janjão