Quando costumava ficar encabrunhado tempos atrás, sempre repetia uns versos de Manuel Bandeira, aprendidos no colegial. Por algum motivo, eles ficaram em minha mente. Embora indiquem uma certa ilusão, uma fuga da realidade em busca de um paraíso inexistente, esses versos me acalmavam e alegravam. Sim, faziam-me rir. Foram - são e serão - sempre válidos, ao menos para mim.
Sempre que falava esses versos, alguns colegas riam, não entendendo o que eu queria dizer. Eu sabia o que eles queriam dizer e isto já me bastava.
Hoje, quero dedicar esses mesmos versos a um amigo (e ele há de saber o que eles querem dizer).
"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada."
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 17:30 |
Vá-se embora pra Pasárgada!
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