sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 | |

Obama: alforria ideológica

Um dos intuitos deste blog é compartilhar leituras que considero interessantes. A seguir, reproduzo o texto "Para Barack Obama, presidente", feito por Daniel Marcolino, estudante de Jornalismo do Isca Faculdades. Ele traz - num belo texto -uma visão diferenciada, que mistura um pouco do muito que já se falou sobre o novo presidente dos EUA com um viés particular do autor. Vale a pena!

"Querido Obama,

Esta carta é como outra qualquer. Mas gostaria que fosse lida apenas por pessoas de alma já formada. Pessoas que ainda não foram violadas pela torrente de opiniões superficiais e heterogêneas a seu respeito. Não que eu queira defender uma verdade absoluta. Desejo somente usar de democracia para, com júbilo e ironia, expor meu humilde ponto de vista. Peço-lhe licença, despojo-me de toda eloquência para, de pés descalços, falar o que alguns já suspeitam: os negros estão mudando de armas, estão tencionando reformas.

Em criança, confesso que sempre me perguntava se havia tomado sol demais ou se o Deus havia me pintado para desta forma facilitar a localização. Cresci e vi que as cores são irrefutáveis. Que fazer de minha cor, então? É fato que cada cor remete a um sentimento, um estereótipo. E, como na política, é necessário mais do que força de espírito e intrepidez para romper com estruturas errôneas a fim de instaurar novos modelos.

Um novo modelo. Insólito até, mas novo. Você cheira coisa nova, Obama! Daí toda esta inquietação, estes comentários sorrateiros e em si mesmos tão incertos. É que de repente descobrimos que tudo que dizem a respeito dos negros não procede – não que acreditássemos nos outros, mas não acreditar em si já é prejudicial. Sua eleição foi uma espécie de alforria ideológica.

Sei que não ostentas bandeiras raciais, tampouco é o messias dos pobres e pretos e oprimidos. Também eu luto por coisa maior que cor, que sentidos: o que quero ainda não tem nome. O lado sublime de sua eleição, no entanto, foi ver o declínio da obviedade, pois toda obviedade é burra. Mas até você já percebeu quão raro é ter um negro no comando. Neste continente, isso é choque cultural.

O que ficou claro para mim é que não existe predestinação. Devemos sempre trabalhar com a probabilidade do êxito. Ficou claro também que podemos, com louvor, exterminar qualquer resquício do cativeiro em que fomos um dia submetidos para abrir largos espaços na vida. Grande estrategista que você é... fez da honestidade uma arma ardilosa contra seus acusadores, e da inteligência a premissa básica para articulação da paz.

Em suma, Obama, bom é não estar inerte frente à nossa função cosmopolita de agregar ao mundo. Cada qual à sua maneira, procura juntar alguma coisa que era essencial e não se sabe onde foi perdida. Sei que você também não acredita naquela máxima de que “todos somos iguais”. Não. Reconhecer a pluralidade humana já é um passo rumo à humanização. Somos iguais apenas em termos de potencialidades – assim como Michelle, esta sua esposa que é obstinada e decidida, um exemplo para as mulheres.

Sobre os negros, sinto renovo geral. A dívida é alta, os juros também. Ainda assim, regozijo com a vitória declaradamente incolor, certo de que podemos perdoar as dívidas históricas se nos oferecerem contrapesos. Devemos estar abertos ao diálogo, não é? Afinal, ninguém pretende provar nada, embora, no meu caso, haja aquela revolta quase infantil de ter sido roubado ao nascer. O que se pretende, deste modo, é recuperar uma dignidade e um respeito que, uma vez encontrados, juro por Deus, são capazes de destronar reis e presidentes, principados e potestades."


Texto extraído do blog http://www.oportalddonson.blogspot.com.

1 comentários:

Anônimo disse...

precisa avisar minha mana... Nesse exato momento, ela tá de férias e... adivinha? Passeando em Fortaleza... A música bem que combina com ela!