(...) com pixels e telas cada vez mais
substituindo a tinta e o papel, pesquisas indicam que nossa maneira de
vivenciar aquilo que lemos pode ser alterada de maneiras profundas. As telas
podem reduzir o tempo que dedicamos à leitura mais concentrada – o tipo de
leitura que desenvolve o raciocínio abstrato e criativo, como destacou a
cientista Maryanne Wolf. Outros cientistas indicam que nossa maneira de
processar as palavras nas telas pode até afetar a empatia que sentimos pelos
personagens das histórias que lemos. Em “The Shallows: what the Internet is
doing to our brains”, o autor Nicholas Carr escreve até que a Internet pode
estar “alterando a profundidade das nossas emoções e pensamentos”.
Será que a mudança da forma impressa para a digital realmente afeta nossa
capacidade de sentir empatia pelos personagens das reportagens? Quais seriam os
efeitos disso no jornalismo?
(...) A pesquisa a respeito da leitura digital oferece uma hipótese clara:
parece possível que os leitores digitais se sintam menos transportados por uma
reportagem de revista por causa da velocidade mais acelerada e do nível de
distração incentivados pelas telas. Se os leitores não investirem seu tempo e
adquirirem informação suficiente a respeito do personagem de uma reportagem,
seu nível de transporte deve ser mínimo. Em outras palavras, se as telas estão
reduzindo a capacidade do leitor de ser transportado pela reportagem, o
jornalismo terá menos impacto. Os leitores podem se tornar mais seletivos em
relação às reportagens que desejam ler e podem até evitar deliberadamente os
relatos sobre incompreendidos e sub-representados da sociedade em favor de
grupos e narrativas com os quais já sintam à vontade. (...)
Fonte: Lene Bech Sillesen, Chris Ip e David Uberti, “O Estado de S. Paulo”,
Aliás, p. E5, 14/6/15, reproduzido da “Columbia Journalism Review”, com
tradução de Augusto Calil (íntegra aqui).
segunda-feira, 22 de junho de 2015 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 17:40 |
“Jornalismo e emoções”
Marcadores: estudo, jornalismo
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