segunda-feira, 22 de junho de 2015 | |

“Jornalismo e emoções”

(...) com pixels e telas cada vez mais substituindo a tinta e o papel, pesquisas indicam que nossa maneira de vivenciar aquilo que lemos pode ser alterada de maneiras profundas. As telas podem reduzir o tempo que dedicamos à leitura mais concentrada – o tipo de leitura que desenvolve o raciocínio abstrato e criativo, como destacou a cientista Maryanne Wolf. Outros cientistas indicam que nossa maneira de processar as palavras nas telas pode até afetar a empatia que sentimos pelos personagens das histórias que lemos. Em “The Shallows: what the Internet is doing to our brains”, o autor Nicholas Carr escreve até que a Internet pode estar “alterando a profundidade das nossas emoções e pensamentos”.

Será que a mudança da forma impressa para a digital realmente afeta nossa capacidade de sentir empatia pelos personagens das reportagens? Quais seriam os efeitos disso no jornalismo?


(...) A pesquisa a respeito da leitura digital oferece uma hipótese clara: parece possível que os leitores digitais se sintam menos transportados por uma reportagem de revista por causa da velocidade mais acelerada e do nível de distração incentivados pelas telas. Se os leitores não investirem seu tempo e adquirirem informação suficiente a respeito do personagem de uma reportagem, seu nível de transporte deve ser mínimo. Em outras palavras, se as telas estão reduzindo a capacidade do leitor de ser transportado pela reportagem, o jornalismo terá menos impacto. Os leitores podem se tornar mais seletivos em relação às reportagens que desejam ler e podem até evitar deliberadamente os relatos sobre incompreendidos e sub-representados da sociedade em favor de grupos e narrativas com os quais já sintam à vontade. (...)


Fonte: Lene Bech Sillesen, Chris Ip e David Uberti, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, p. E5, 14/6/15, reproduzido da “Columbia Journalism Review”, com tradução de Augusto Calil (íntegra aqui).

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