Programas como “Castelo Rá-Tim-Bum”, “Ilha Rá-Tim-Bum”, “Cocoricó”
e mais recentemente “Quintal da Cultura” fizeram e fazem sucesso junto ao
público infantil, ganharam prêmios nacionais e internacionais e deram à TV
Cultura o selo de melhor emissora com programação infantil no país, mas minhas
lembranças são um pouco mais antigas. Não, não assisti ao histórico “Vila
Sésamo”, sou do tempo do “Bambalalão” (era fã da Gigi).
Depois veio “Munda da Lua” (alô Lucas Silva e Silva!). “Confissões
de Adolescente” não vi, preferia mesmo “Mundos Incríveis”, ambos marcaram época
– e gerações. Adorava e continuo apreciando o “Repórter Eco”, um dos pioneiros na
TV em abordar um tema recorrente hoje em dia, ecologia e sustentabilidade. O “Roda
Viva” era – e é – imperdível (lembro de uma entrevista do Sebastião Salgado). Ao
“Matéria Prima” assistia com meu irmão, programa comandado por um tal Serginho Groisman
(“Fala garoto!”). E a garotada falava livre e democraticamente.
Sonhando ser jornalista, desde pequeno curtia o “Vitrine”,
com os bastidores da mídia. O “Grandes Momentos do Esporte” me apresentou nomes
e momentos que eu só pude ver pela TV. Pela TV Cultura. Também acompanhava
sempre o “60 Minutos”, um telejornal diferente, esteticamente bem acabado, leve
e informativo na medida certa, que trazia uma novidade para a época, a figura
do vídeo-repórter, hoje comum.
Sem falar no Campeonato Alemão, que começou por lá e
revolucionou as transmissões esportivas com as supercâmeras, bem como o “Cartão
Verde”, que introduziu nomes hoje consagrados no telejornalismo esportivo – eu vibrava
com a conhecida “ranzinzice” do José Trajano.
Tal como eu, creio que milhares de limeirenses cresceram
assistindo à TV Cultura. Uma emissora pública, mantida pelos impostos dos
paulistas – os de Limeira incluídos. Infelizmente, por uma decisão unilateral
da prefeitura, os limeirenses irão pagar para não ver. O governo Paulo Hadich
(PSB), como já amplamente divulgado, decidiu tirar o sinal da Cultura para
cedê-lo à TV Opinião, de Araras.
Desde já quero registrar que não tenho nenhuma oposição à
tal TV ararense. Na democracia, todas as vozes devem ter espaço, ainda mais na
mídia televisiva, uma concessão estatal. Não posso, contudo, deixar de
engrossar o coro daqueles que lamentaram a infeliz decisão do governo Hadich de
tirar o sinal da Cultura.
Não quero nem vou entrar no mérito da avaliação do governo. Até
porque há alguns meses estou distante da cidade e tampouco este é o propósito
deste artigo. Quero apenas manifestar o que senti e ouvi diante de tal decisão.
Deixo claro que escrevo como cidadão. Embora atue como repórter da TV Cultura
(com orgulho!), a decisão da prefeitura em nada afeta meu trabalho, visto que a
emissora historicamente nunca se pautou pelas amarras do Ibope (e ainda que o
fizesse, a medição da audiência não ocorre em Limeira).
Portanto, sinto-me livre para considerar um despropósito inexplicável
a decisão de Hadich. Não há motivo técnico que justifique a exclusão de uma
emissora com reconhecida programação de qualidade em detrimento do que quer que
seja. No pouco tempo em que estou na Cultura, a emissora foi indicada ao Emmy
Kids Award 2013 (o Oscar da TV na área infantil) com a série “Pedro &
Bianca” e acaba de ganhar mais um prêmio pelo “Repórter Eco” como melhor
programa nacional de meio ambiente.
Não sei qual seria a alternativa para abrigar eventualmente
novos canais, mas alguma há de existir que não simplesmente a exclusão da
Cultura – decisão tomada sem nenhuma discussão com a sociedade, o que não
combina com um governo que se pretende transparente e democrático.
Como limeirense que nasceu nesta terra e sente orgulho de
carregar o nome da cidade por onde vai (inclusive na TV Cultura), senti-me
triste ao ouvir o comentário feito por uma colega de redação após saber da
decisão do governo Hadich: “Coisa de cidade provinciana...”. Tive que calar-me.
Não queria que minha cidade fosse vista deste modo, mas não há como ser
diferente.
Conhecendo o prefeito Hadich, quero crer que tal decisão não
tenha passado de um deslize, um desatino. Não creio que o prefeito jogaria no lixo
o que lhe restava de popularidade neste primeiro ano de administração - embora
tema que este governo possa ter caído na mesma armadilha de tantos outros, a de
sobrepor questões políticas ao interesse comum. Falo isto porque sei, de
bastidor e fonte segura, há pelo menos dois meses, da intenção da prefeitura de
trocar o sinal da Cultura pelo da TV Opinião.
Corrobora tal sensação o fato da TV Opinião não ser
conhecida especificamente por sua programação de qualidade, educativa e/ou voltada
aos interesses limeirenses. Como também temo haver por trás da intenção desta
emissora outras questões além da meramente midiática. Isto tudo somado, chego
perto de me decepcionar com o governo. Não simplesmente pela exclusão da Cultura
(um fato que seria por si só lamentável), mas por ter fortes indícios do que
esconde esta decisão, algo que jogaria Hadich na vala dos comuns, dos políticos
comuns (algo que definitivamente não é o que se esperava dele).
Escrevo estas linhas com dor no coração e com a
tranquilidade e liberdade de quem falaria (se tivesse a oportunidade) tudo isto
diretamente ao prefeito, como o fiz algumas outras vezes sobre outros assuntos,
já que sempre pautei minha relação com ele pelo mais estrito respeito e
consideração.
Até por isto, ainda espero que Hadich possa refletir melhor,
reconhecer o erro e recuar. A humildade é marca dos fortes.
* Artigo enviado para publicação no "Jornal de Limeira"
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