Meu encontro com Joan Miró, um dos pilares da pintura
espanhola no século 20, foi em 1995. Eu estava na faculdade de Comunicação
Social e tinha o desafio de escolher um objeto de análise para o trabalho final
de Semiótica – uma disciplina que exigia de mim e, creio, dos colegas uma
atenção além do comum.
Compreender os signos, símbolos, ícones, significantes e
significados era tarefa difícil, embora interessante.
Ainda meio – ou bastante – perdido, sem saber o rumo que o trabalho
tomaria, decidi ir à biblioteca. Não sei responder o motivo, mas de alguma
forma fui parar na seção de livros de arte. Comecei a folheá-los e me deparei
com uma obra de Miró, “Interior holandês”, de 1928. Uma versão alegre, colorida
e um tanto surrealista do quadro do holandês Hendrick Sorgh, “O tocador de
alaúde”, de 1661 (veja aqui os dois quadros – em tempo: o link não é de minha
autoria).
Além do entusiasmo transmitido pela obra de Miró (que,
descobri depois, está presente na maioria dos seus trabalhos), chamou minha
atenção a forma como ele subverteu o pretenso realismo do quadro original,
feito quase três séculos antes. Estava, então, escolhido meu objeto de análise.
Com ele em mãos, fui até a professora e pedi uma orientação.
O que ela me disse não ajudou muito: fiquei olhando para o quadro, várias horas
se for preciso.
Foi o que fiz. Nada me vinha à mente – a não ser um
anunciado “zero” no trabalho. Até que tive uma “luz”: comparar a geometria dos
dois quadros. Tracei os riscos que a visão percorria, um desenho meio sem
sentido, mas que rendeu um inesperado elogio da professora e um acréscimo na
nota. A primeira, um oito, foi riscada para virar um dez, com uma observação: “pela
dificuldade do objeto”.
Desde então passei a admirar o trabalho de Miró.
Anos depois, já em 2007, tive a surpresa e o prazer de me deparar
com o quadro que me desafiou e me rendeu elogios na faculdade. “Interior holandês”
está exposto no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York.
Todo este preâmbulo veio à minha mente em razão da exposição
do artista catalão no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Aberta em maio, “Joan Miró - a
força da matéria” pode ser visitada até 16 de agosto. É, segundo o instituto, a
maior exposição dele no Brasil, com mais de 100 obras, entre
pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, objetos e fotos.
Alguns desenhos até soam infantis:
Outros, com uso intenso do preto, ganham um ar sombrio:
Mas o que prevalece mesmo são as cores tradicionais com que Miró dá ritmo aos seus traços:
Nas esculturas, é comum identificar rostos estilizados:
O instituto fica na avenida Faria Lima, 201, com entrada pela rua Coropés, em Pinheiros.
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