domingo, 23 de novembro de 2014 | |

Vingança & perdão

(...) Não, a vingança não traz prazer nenhum; o mais provável é que ofereça apenas o alívio de não se conviver mais com o rancor, o ressentimento, aprisionados na garganta.

Há outra maneira de obter esse alívio, naturalmente: trata-se do perdão.

Bela palavra; mas perdoar não é tão simples quanto parece. Faz pouco sentido, para mim, a indulgência que se possa ter à noite, entre uma oração e outra, dirigida a ofensores indeterminados. "Perdoo todo mundo", penso, numa imitação preguiçosa da generosidade divina. Desse modo, não perdoei ninguém.

Assim como a vingança, o perdão precisa ser pessoal, cara a cara; o perdoado precisa saber que o foi. Fez-se um contrato entre nós; combinei com meu agressor que estamos prontos a um novo começo. (...)

Fonte: Marcelo Coelho, “Relatos selvagens”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 19/11/14.

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