Muito se tem falado a respeito da tal “faxina” que a presidente Dilma Rousseff tem feito no governo federal. Cinco ministros já caíram, quatro deles após denúncias de corrupção, sem contar diretores de órgãos federais e ministérios. Neste blog, cheguei a defender – e ainda defendo – que a presidente tenha apoio nestas medidas (leia aqui).
No entanto, isto está longe de significar (como muitos registraram, frise-se, e a própria Dilma vem falando) uma “faxina” de fato. Até porque a administração pública está envolvida até o pescoço em negociatas e o governo está entregue até o pescoço ao jogo dos parlamentares – por mais que a presidente tenha se irritado quando questionada pelo “Fantástico”, da TV Globo, sobre o “toma lá dá cá” que marca há décadas as relações entre Executivo e Legislativo.
Às relações promíscuas, deu-se a justificativa da governabilidade. Em nome dela, fazem-se as maiores aberrações político-administrativas. Sob os olhares complacentes do governo e até do Judiciário (que tem jogado no lixo operações da Polícia Federal contra corruptores graúdos, aqueles que costumam ficar esquecidos nas denúncias e que, no fundo, são os principais interessados nos negócios não republicanos do Planalto Central e que sustentam todo o sistema).
Houvesse, pois, interesse real do governo e de Dilma em promover a – necessária, diga-se de passagem! – “faxina”, o Conselho de Ética da Câmara Federal não teria apresentado nesta quarta-feira o resultado que mostrou. Ao analisar a representação contra o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), aquele mesmo do “mensalão” e das recentes denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, 16 deputados votaram pelo arquivamento do caso. Ou seja, a investigação sequer será feita (leia detalhes aqui).
A questão é: interessava ao governo e aos negócios do Planalto Central derrubar Costa Neto? A resposta está nos votos da base aliada, capitaneada pelo PT (aquele de hoje, pois o de antigamente morreu há anos...). Os quatro petistas do conselho votaram a favor do todo-poderoso deputado do PR. O mesmo fez o representante do comunista PCdoB. Mais os votos do PMDB, foi-se a investigação para o lixo (veja os votos aqui).
“A base de apoio do governo trabalhou junta e unida para votar, e o PR volta para a base de apoio da presidenta Dilma em alguns dias”, disse à Agência Câmara o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), relator do caso e que indicou a necessidade de apuração.
E que ninguém alegue que a base agiu por vontade própria, alheia aos interesses do governo, pois isto é surreal.
Resta, pois, uma triste constatação: Costa Neto conseguiu o mandato de deputado federal mesmo após estar no centro do escândalo do “mensalão”. Chegou até lá novamente com os votos dos cidadãos. Os mesmos que reclamam dos políticos e da corrupção. Os mesmos que assistem passivamente a mais um capítulo da “ilha da fantasia” em que se transformou o Planalto Central.
PS: a recente aprovação de mais de uma centena de projetos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara numa sessão com a presença de apenas dois parlamentares reforça a constatação de que os deputados têm muitos outros interesses em Brasília além do que se poderia chamar de interesse público.
O Planalto Central é cada vez mais um balcão de negócios!
E a faxineira foi demitida há anos...
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