Quando acordei na manhã daquela quinta-feira, 4 de setembro de 1986, repeti tudo o que fazia rotineiramente. Tomei café, banho, troquei de roupa e fui para o grupo escolar “Brasil”. Quando lá cheguei, percebi que havia algo diferente no ar. Éramos centenas de crianças, como de costume, mas existia um alvoroço além do normal. Já na classe, soubemos que não haveria aula. Fora decretado ponto facultativo, uma espécie de feriado fora de hora. Motivo: o time da cidade tinha sido campeão paulista na noite anterior.
Com 9 anos de idade, ainda não entendia bem o “tamanho” daquilo. Sabia que um título sempre era motivo de festa, fosse qual fosse, mas daí a suspender as aulas... Por determinação da professora, tivemos que aprender rapidamente a entoar o hino do time. “Vai chegando o Leão da Paulista e o gramado se faz mais feliz...” O compromisso do dia seria um só: desfilar pela cidade, civicamente, unindo-nos à festividade que agitava a área central e enebriava milhares de limeirenses.
Meio que movido pelo impulso, disse para a professora – naquela época ainda “tia” – que eu tinha em casa uma faixa de campeão. Fomos até lá buscá-la. Em seguida, partimos em fila, como costumávamos fazer nos passeios fora da escola, felizes pelo Centro de Limeira, cantando e repetindo para os quatro cantos: “É campeão! É campeão!”
Hoje, 25 anos depois, estas cenas permanecem na minha memória – e acredito que estarão por todo o sempre. Frescas como se tivessem sido vividas nesta manhã. Vivas como um filme recém-lançado. Vibrantes e heroicas como foram na ocasião. São daquelas experiências na vida que não se apagam jamais.
Quem não acompanha esporte, não torce por nenhum time nem criou esta relação lúdica e maluca com uma “camisa” talvez tenha dificuldade para entender o significado daquela conquista e deste jubileu de prata. Ainda assim, muitos que não acompanhavam futebol entenderam naquele dia que havia algo extraordinário. Afinal, era a primeira vez em mais de oito décadas que uma equipe considerada “pequena”, caipira, chegava ao topo. Pela primeira vez, um time do interior derrubava um “grande” da Capital e conquistava o título do Campeonato Paulista. E isto não era pouco!
Rever esta história 25 anos depois, olhar arquivos de jornais e revistas, reforçou-me a noção do tamanho daquela conquista. Ouvir personagens daquela história reforçou-me a ideia de que, na vida, vitórias e derrotas ensinam lições. Mostrou-se que a linha que separa o sucesso do aparente fracasso é muito mais tênue do que qualquer um de nós pode imaginar. Lembrou-me que nós somos protagonistas de nossa própria história.
E naquela noite de quarta-feira, 3 de setembro de 1986, diante de um Morumbi lotado, uma página importante - e inédita - da história do futebol estava sendo escrita. Um gol de Kita aos 5 minutos do segundo tempo, outro de Tato aos 9 e a Internacional de Limeira sagrava-se campeã paulista. A festa começou ali mesmo, no gramado. Invadiu a madrugada. Chegou às escolas na manhã seguinte. E perdurou por todo aquele dia e pelos dias seguintes e por muitos outros que vieram e ainda virão...
PS: este texto é uma homenagem a todos que ajudaram a escrever este capítulo memorável da história da Inter, de Limeira e do futebol nacional. Homens e mulheres protagonistas e anônimos, que vibraram, torceram, ajudaram com algo. Não quis citar nomes – seria um desatino. Afinal, aquela vitória foi de todos nós!
*A imagem que abre esta postagem foi retirada do site oficial da Inter. As do jornal são do acervo da "Folha de S. Paulo".
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