Entre os muitos gurus com previsões sobre a nova mídia, o americano Ken Doctor se sobressai pelo otimismo pragmático de quem vê um futuro feliz para o jornalismo, mas não sem percalços.
Para ele, a seleção natural pela qual só os mais adaptados sobreviverão é inevitável nessa transição tecnológica.
E nada serve melhor a esse teste do que "The Daily", o jornal exclusivo para iPad lançado na última quarta-feira pelo bilionário e pioneiro da mídia Rupert Murdoch.O consultor vê o novo jornal como um marco na indústria da mídia voltada para as massas. A primeira revolução, diz, é o preço. O leitor paga, sim, mas em vez de uma assinatura o modelo será o do iTunes, com um aplicativo vendido a US$ 0,99 (R$ 1,66) semanais.
A outra é a interatividade - farta, mas sem pirotecnias, de forma a guardar propositadamente a imagem de uma revista ou um jornal.
A "Folha" ouviu Doctor no dia do lançamento do "Daily". A fórmula, afirma, criará um veículo de massas que vai acelerar a migração do impresso para os tablets -embora ele ressalte que os primeiros não vão deixar de existir tão cedo.
Folha - O "Daily" apresentou uma primeira edição caprichada, à qual o sr. se referiu como uma revista eletrônica. Essa qualidade sobreviverá ao ritmo diário?
Ken Doctor - Essa é a grande pergunta. Fazer isso todo dia com 130 pessoas entre editorial e produção parece uma subestimação. Claro que esperamos que, conforme eles peguem a manha, a coisa se torne mais fácil, mas é um desafio enorme.
Agora, se o "Daily" for bem-sucedido, terá criado um novo patamar no mundo das notícias. E todos os jornais que estão planejando produtos para tablets terão um modelo a superar.
Folha - No lançamento do "Daily", falou-se pouco em linha editorial e conteúdo noticioso. A plataforma se tornou mais importante que o conteúdo?
Doctor - O "Daily" é o "USA Today" (jornal que nos anos 80 desenvolveu uma edição enxuta, maior apelo visual e ênfase também em entretenimento e esporte) de 2011. Acho que o "Daily" copiou a fórmula e a atualizou.
Claro que as pessoas querem as notícias do dia. Mas, como no "USA Today", esporte e entretenimento são também muito importantes.
Já em termos políticos, acho que vai ser mais apolítico ou voltado para a comunidade (os veículos de Murdoch, como o "Wall Street Journal" e a FoxNews, são conservadores). Isso vai lhes dar mais público.
Folha - Se os tablets são o caminho a seguir no jornalismo, o sr. vê uma transição completa?
Doctor - Não no caso das empresas "mainstream", que podem ter um produto alternativo para o tablet, mas ainda estão ganhando dinheiro com o impresso e querem manter essa fonte de renda. Afinal, o jornal impresso, depois de algumas perdas e cortes, voltou a ser lucrativo.
Fonte: Luciana Coelho, "Folha de S. Paulo", Mercado, 7/2/2011.
* Para ler a íntegra, clique aqui (é preciso ter senha do UOL ou da "Folha")
1 comentários:
Tratei exatamente sobre os iPads ou tablets no post desta semana em meu blog: http://bit.ly/hmiWSS
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