Jornais e revistas provocam periodicamente polêmicas devido a certas fotografias chocantes que publicam. Uma delas ocorreu no ano passado, quando a "Time" deu na capa imagem de uma afegã de 19 anos que teve o nariz decepado pelo marido.
O debate gira sempre em torno do dilema: como estabelecer a fronteira entre morbidez e denúncia, sensacionalismo e dever de informar.
A professora de jornalismo Susie Linfield, da New York University, acaba de lançar um livro, "The Cruel Radiance: Photography and Political Violence" (Cruel Esplendor- Fotografia e Violência Política), que aprofunda o exame do assunto e trata dele de maneira mais genérica.
Linfield teve sua atenção voltada para o tema quando era criança, ao achar um livro na biblioteca do pai com documentação do extermínio de judeus poloneses.
Depois disso, analisou e escreveu sobre fotorreportagens de guerras em Serra Leoa, Libéria, Congo, Somália, Ruanda, Uganda, Bósnia, Tchetchênia e outros lugares, depois da Guerra Fria.
Provas de que não havia muita base para as esperanças de que a queda do Muro de Berlim poderia marcar o início de uma era de paz.
O livro parte de uma tese e de uma posição contra duas outras, muito bem estabelecidas nas ciências sociais.
A tese é de que a foto é um instrumento único para causar empatia em relação a vítimas de crueldades extremas, superior a qualquer forma de arte ou relato jornalístico.
A oposição é à teoria crítica da fotografia de Susan Sontag (principalmente às posições de seus herdeiros pós-modernistas) e à visão progressista da história.
"Eu acredito que precisamos aprender com as fotos e responder a elas, em vez de simplesmente desconstruí-las", afirma Linfield, a respeito de Sontag.
Sobre a crença de que o arco da história se curva na direção da justiça e da liberdade, ela argumenta: "Eu aprecio essa tradição, mas cheguei à conclusão de que é a experiência de degradação, miséria, violência e derrota que define a vida de milhões e, em grande parte, define a história".
Segundo a autora, não é possível "falar, pelo menos não de modo realista e significativo, em construir um mundo de democracia, justiça e direitos humanos sem antes ter compreendido a experiência de sua negação".
Para obter essa compreensão, é preciso empatia e, para chegar a esta, a fotografia é o caminho mais curto e eficaz.
Para concretizar suas ideias, Linfield examina quatro situações históricas dos últimos 70 anos (o Holocausto, a Revolução Cultural Chinesa, as crianças guerreiras na África e a prisão de Abu Ghraib e ações da jihad) e três fotógrafos célebres (Robert Cappa, James Nachtwey e Gilles Peress).
Isso embora ela também se refira a outros episódios e jornalistas (inclusive, e extensivamente, o brasileiro Sebastião Salgado). Trata-se de obra importante para estudiosos, praticantes e apreciadores da foto documental.
Fonte: Carlos Eduardo Lins da Silva, "Livro promove discussão sobre até onde o fotojornalismo pode chocar os leitores", Folha de S. Paulo, Mundo, 18/1/11.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 16:04 |
Imagens, jornalismo e sensacionalismo
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