A capa da Folha de ontem diz que "na mídia e em declarações de autoridades americanas, o caso (do menino Sean Goldman, devolvido ao pai após uma novela de cinco anos) ganhou contorno de disputa entre países".
É verdade e, por isso mesmo, o papel da mídia precisaria ser discutido nesse caso.Trata-se de um assunto de família, exclusivamente de família. Não há interesse público envolvido. Há, sim, curiosidade pública, o que é bem diferente. Do que decorre a pergunta que me parece central e me causa desconforto: temos, os jornalistas, o dever, a obrigação, de atender sempre a curiosidade do público, mesmo quando ela é invasiva? Neste caso, é pior ainda, porque invasiva de uma criança.
Não, não me venham dizer que invadimos cotidianamente a privacidade de muitas pessoas. É verdade, mas, em 99,9% dos casos, trata-se de pessoas públicas, que procuraram a notoriedade, não raro apoiando-se na mídia.
A busca pelos holofotes tem preço. Muitas vezes, os holofotes acesos pela mídia é que impedem abusos de diferentes naturezas.
Mas Sean não procurou os holofotes. Seu caso acabou por se transformar em exercício de jornalismo-espetáculo.
E não apenas no Brasil: a rede norte-americana NBC não fretou um avião para levá-lo aos EUA com o pai por amor à infância, mas por amor ao espetáculo.
Nesse espetáculo acabamos por cometer um pecado grave: demos abrigo a uma acusação, feita pela avó materna, de que o Executivo e o Judiciário brasileiros venderam-se aos Estados Unidos pagando com Sean pela manutenção de vantagens comerciais.
Nenhum jornalista sério diria tal coisa por sua conta. Se o dissesse, correria o risco de purgar elevada pena. No entanto, no jornalismo-espetáculo, a acusação foi ao ar e ao papel. Incomoda, não?
(Fonte: Clóvis Rossi, colunista da “Folha de S. Paulo”, pág. 2, 27/12/09)
Em tempo: alguém se arrisca a responder a pergunta do título?
terça-feira, 29 de dezembro de 2009 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 18:54 |
"Erramos?"
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