segunda-feira, 20 de julho de 2009 | |

A fantasia e a desgraça

"FOLHA - A TV não deveria criar produtos infantis mais lúdicos?
TALMA - Se você acompanhar pelo mundo, não tem mais isso. Quando eu comecei a fazer a parte da manhã aqui na Globo, a (roteirista) Mariana Caltabiano tinha uns bonequinhos que eram lindos. Fizemos um projeto que era bom pra caramba. Eram uns velhinhos que se perderam no espaço e tal. Na primeira reunião que tivemos em São Paulo com garotos de 8 a 12 anos, o que a gente sofreu de ver a falta de informação, a agressividade... Quando você usa um boneco, até os cinco anos, a criança aceita; depois dos cinco anos, a garotada toda acha que estamos tentando enganá-los. Eles ficavam possessos num nível assustador, em função de achar que estavam sendo enganados.

FOLHA - Por quê?
TALMA - Porque eles passam o dia com a mãe ligadona nessas emissoras de merda, que estão cobrindo só desgraça. Na cabeça deles, deixa de ter o lúdico, não existe! Volta e meia a gente toma uma porrada (perda de audiência) por causa de novela das seis, das sete, porque são horários, vamos dizer assim, que mexem muito com os (telejornais) locais ("Negócio da China", dirigida por Talma, teve a pior audiência dos últimos anos no horário das 18h). O que acontece é o seguinte: que novela você tem que fazer para suplantar aquele menino que sequestra a namorada, a amiga da namorada, fica durante uma semana cercado de policiais com 500 mil pessoas, dão um microfone para esse analfabeto de merda e ele se torna ídolo? O que você tem que colocar para brigar contra isso? Com essa realidade dura, crua e nojenta que nós temos no Brasil? Quer dizer, no mundo inteiro é assim. Torna-se inviável! A internet é o mais próximo da realidade, mas ainda pode existir lá uma coisa lúdica."

Entrevista de Roberto Talma, publicada pela "Folha de S. Paulo" de 19.7.09, caderno Ilustrada. Para quem quiser ler a entrevista na íntegra ("Fantasia não tem lugar na TV, diz Talma"), clique aqui (é preciso senha do UOL ou da "Folha")

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