Acabei de assistir a duas reportagens do "Fantástico" bastante interessantes. Uma delas falou sobre a lei do divórcio; a outra sobre famílias de casais separados. A primeira chamou a atenção por um aspecto que poucas pessoas se atentam: a mudança que o divórcio e a pílula introduziram na sociedade. A pílula representou a libertação da mulher. De esposa submissa e reprimida sexualmente (a ponto de, segundo uma das entrevistas, ter vergonha de sentir prazer durante o sexo com o marido, pois a função dela era meramente reprodutiva) para um ser independente, que pode ter e realizar suas próprias vontades - inclusive sexuais. Viva a nova mulher nascida com a pílula.
Já o divórcio permitiu legalizar a felicidade. Naturalmente, 99% das pessoas se casam pensando na felicidade, na união eterna. Isso, porém, não pode ser um fardo - até porque entre o desejo da felicidade e a sua realização há uma enorme distância. Portanto, o divórcio é a chance de uma nova vida, de encontrar a felicidade num outro relacionamento, afinal nem todos estaremos unidos até que a morte nos separe (nem devemos ter isso como uma obrigação moral ou religiosa).
A reportagem sobre as famílias de pais separados introduziu um assunto sobre o qual tenho debatido nos últimos tempos: padrões de relacionamento. Confesso que ficou irritado quando vejo uma cobrança - seja em relação a mim ou a terceiros - sobre algum comportamento tido como "padrão". Por exemplo: sou notívago desde pequeno. Adoro as madrugadas, passo noites em claro não por insônia e sim por gosto. Gosto de produzir à noite, costumo até arrumar meu guarda-roupa de madrugada. Rendo mais. Por que não posso? Por que tenho que dormir na hora em que me sinto melhor?
Admito que ser notívago me deu a fama de dorminhoco porque estou acordado quando todos dormem e costumo dormir quando os demais estão acordados... Ora, consigo provar matematicamente que minha mãe, por exemplo, dorme mais do que eu. A diferença é que ela dorme no horário padrão, eu não.
O mesmo princípio vale para os relacionamentos. Nunca fui fã de casamentos - e tornei-me ainda mais reticente ao constatar que 98% dos casais que conheço estão juntos por um dever qualquer, não por vontade própria. Poucos conseguem admitir isso para si mesmos, mas no fundo é isso. Uma pessoa que diz que preferia nunca ter se casado, por exemplo, está na verdade querendo dizer que não é feliz no seu casamento. Apenas não tem a coragem suficiente para admitir isso para si mesma e reagir, dar a si mesma uma chance de ser feliz. Enfim, a sociedade estabeleceu como padrão que as pessoas devem namorar algum tempo, casar e ter filhos. Por quê? Trata-se de mera convenção.
Por que alguém não pode ser feliz amando alguém sem necessariamente entrar numa igreja, dizer "sim" e assinar um papel no cartório? Por que alguém não pode ser feliz tendo um eterno namoro, dividindo momentos felizes sem que se tenha necessariamente que conviver com as chatices da outra pessoa? Por quê? Obviamente que o casamento é uma exercicio de convivência, de respeito, de divisão e acima de tudo de paciência. Evitá-lo seria abrir mão desse exercício. Ora, por que não se pode exercitar estas coisas de outra forma?
Claro que não sou dono da verdade - até porque não existe o certo e o errado. Afinal, quem é que inventou que os padrões estão corretos?
domingo, 10 de agosto de 2008 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 17:44 |
Ora, padrões...
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