Já vão dois anos desde que deixei de acompanhar os detalhes da operação diária do meu grupo para me dedicar a necessidades mais intangíveis do que a manufatura, mas mais relevantes aos negócios hoje: ideias e relacionamentos.
Tenho rodado o mundo atrás deles. Um mundo cada vez mais plano, em que o Brasil é um dos "hot topics". O interesse externo abre tantas possibilidades, mas ainda vejo poucos empresários e lideranças brasileiros nesses fóruns globais. Se há mercados emergentes, há também obrigações emergentes.
Meu papel no Grupo ABC é o do papel em branco, prestes a ser preenchido. Desocupado dos pequenos desafios presentes, de olho no momento seguinte.Se todos estiverem focados no dia a dia e no que está perto da empresa, o futuro vai passar longe ou chegar tarde demais. Por isso, invisto metade do meu mês em viagens pelo mundo. Grandes histórias de sucesso nos negócios cada vez mais são forjadas fora dos ambientes de trabalho rígidos das empresas e das corporações.
Peter Drucker, o guru da gestão, disse que o "management" era a maior inovação do século 20. Mas o velho "management" está morto, decretou artigo recente do "Wall Street Journal".
As grandes corporações, ápices da antiga forma de gestão, tendem hoje a se tornar burocracias, e as burocracias atuam pela autoperpetuação e pelo status quo, resistindo às forças de mercado que antes as impulsionaram.
São tendências fatais num mundo de acelerada "destruição criativa", em que as forças de mercado foram dramaticamente fortalecidas pela globalização e pelas novas tecnologias. Gigantes morrem (Lehman Brothers) e nascem (Twitter) com incrível rapidez.
Nesse ambiente, o conhecimento novo e a troca de experiências são insumos essenciais para o desenvolvimento que só são conquistados ao derrubar paredes de escritório e fronteiras de qualquer tipo.
E não é só a web que aproximou as pessoas e os pensamentos.
Criou-se hoje no mundo uma teia de nós globais onde empreendedores, pensadores, políticos e ativistas se encontram regularmente para debater o que estão fazendo e o que querem fazer.
É isso o que busco hoje, esse "crowd sourcing" presencial, e vejo ao meu lado as principais lideranças mundiais.
Em setembro, participei do encontro asiático do Fórum Econômico Mundial, na China, e do encontro anual da Clinton Global Initiative, em Nova York. Falei ainda em evento do "Financial Times" em Hong Kong com o título: "Doing Business in Brazil".
Nos três, encontrei interesse e entusiasmo enormes com o novo Brasil, que precisam ser respondidos com interesse e entusiasmo enormes do novo Brasil com o mundo, por mais que o país emergente dentro do nosso país emergente nos atraia e nos consuma.
Anunciei na reunião do Fórum Econômico Mundial, na China, a criação de um clube de negócios Brasil-China, que será composto por cerca de dez empresários de cada lado.
A ideia é que dessa troca direta e informal de visões saiam modelos novos de relacionamento e de negócios com o nosso maior parceiro comercial. Temos muito a aprender e a ensinar uns aos outros. E precisamos nos encontrar.
Por mais criativa e estimulante que seja sua vida profissional neste momento transformador da economia brasileira, ela será ainda mais rica se você (e/ou alguém da sua organização) tiver tempo livre para expandir sua visão não só de dentro para longe, mas também de longe para dentro.
Vivemos uma nova era de grandes descobrimentos. O homem só descobriu que a Terra era azul ao sair do planeta. Eu só descobri que o futuro do Grupo ABC era global ao sair do Brasil.
Alguém na sua empresa precisa fazer essa jornada e assumir o papel mais interessante e desafiador da organização: o papel em branco.
Fonte: Nizan Guanaes, publicitário, em sua coluna quinzenal na "Folha de S. Paulo" (5/10/10)
PS: eis meu sonho, poder preencher papéis em branco...
terça-feira, 5 de outubro de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 20:06 |
"No papel do papel em branco"
Marcadores: cotidiano, criação, criatividade, ideias, inspiração, negócios, Nizan Guanaes
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