quarta-feira, 6 de outubro de 2010 | |

A culpa não é do Tiririca (o real motivo do fracasso limeirense nas urnas)

Desde as eleições do último domingo, em que Limeira mais uma vez não elegeu nenhum deputado (Otoniel de Lima, do PRB, definitivamente não foi eleito em Limeira, onde teve apenas 4.090 votos de um total de 95 mil), novamente vieram à tona discussões algumas vezes acaloradas sobre os motivos de mais um fracasso nas urnas. De novo, os argumentos apresentados foram a enorme quantidade de votos para candidatos de fora, como Tiririca, e a baixa votação dos limeirenses nos seus candidatos.

Deixando as paixões de lado e olhando para os números, lamento dizer que os colegas estão errados. Não foi nem uma coisa nem outra que impediu que um limeirense se elegesse. Obviamente, em qualquer cidade, se a maioria da população votar nos candidatos locais, eles serão eleitos. No entanto, isto não ocorreu praticamente em nenhuma localidade. Foi o que constatei no meu estudo.

Logo, o principal fator é outro. Antes de chegar até ele, vamos esmiuçar ponto a ponto:

1) Tiririca não impediu a eleição de um limeirense – Se é fato que o palhaço teve muitos votos em Limeira, 6.299, a votação dele na cidade está exatamente dentro de média de outros municípios que elegeram seus deputados. Tiririca teve em Limeira 4,54% dos votos válidos, contra 4,04% em Piracicaba (7.663 votos), 5,14% em Campinas (28.158), 4,19% em Indaiatuba (4.075), 5,83% em Rio Claro (3.904) e 3,28% em Americana (3.963). Logo, o mesmo que aconteceu em Limeira se deu nas demais cidades, Tiririca tirou votos de todos. Proporcionalmente, aliás, o palhaço roubou mais votos em Campinas e Rio Claro do que em Limeira.

2) Ter muitos candidatos não impediu que um limeirense fosse eleito – Americana teve três fortíssimos candidatos a deputado estadual – Chico Sardelli (PV), Cauê Macris (PSDB) e Antônio Mentor (PT) -, todos dividiram votos (25.521, 23.303 e 19.530, respectivamente) tal como em Limeira e dois deles se elegeram. Logo, esse argumento não é o suficiente para explicar o fracasso.

3) A grande quantidade de votos perdidos não impediu a eleição de um limeirense – Considerando a média de abstenções, votos brancos e nulos, o cenário em Limeira não se difere de outras cidades. Os votos limeirenses perdidos foram 25,7% do total dos eleitores inscritos, contra 24,8% de Piracicaba, 25,7% de Campinas, 25,9% de Indaiatuba, 27,1% de Rio Claro e 23,7% de Americana. Ou seja, em todas essas cidades, um em cada quatro eleitores não votou ou não teve um voto válido.

4) A falta de consciência em votar nos candidatos locais não impediu a eleição de um limeirense - Este mesmo fenômeno se deu em outras cidades. Com exceção do deputado Roberto Morais (PPS), em Piracicaba, os demais eleitos tiveram em suas cidades uma quantidade de votos quase igual ou até menor do que a que os candidatos limeirenses conquistaram em Limeira. Célia Leão (PSDB) teve em Campinas 36.863 votos, Rogério Nogueira (PDT) teve em Indaiatuba 33.366 votos, Aldo Demarchi (PP) conseguiu em Rio Claro 30.941 votos, Sardelli e Cauê tiveram em Americana, respectivamente, 25.521 e 23.303 votos (menos do que os limeirenses).

5) Votos em candidatos de fora não impediram a eleição de um limeirense – Basta olhar a proporção dos votos obtidos pelos outros candidatos em suas cidades na comparação com o total de votos válidos (21%, 19% e 12%, por exemplo) para verificar que há casos semelhantes e até inferiores aos registrados em Limeira pelos candidatos limeirenses (23,6%, 16% e 23,6%). Logo, este fator não foi preponderante.

O que, então, diferencia o cenário eleitoral das outras cidades em relação a Limeira?

A resposta é simples: os votos obtidos pelos candidatos fora de suas bases. Com exceção de Morais, que teve apenas 30% de seus votos fora de Piracicaba, todos os demais não se elegeram com os votos de suas cidades. Célia Leão teve 60,5% da sua votação fora de Campinas; Nogueira, 61,6% fora de Indaiatuba; Demarchi, 64,3% dos votos fora de Rio Claro; Sardelli, 62,8% fora de Americana; Cauê, 65% da votação fora de Americana; Carlos Sampaio (PSDB), 52,4% fora de Campinas; Mendes Thame (PSDB), 55% fora de Piracicaba e Guilherme Campos (DEM), 86,8% fora de Campinas.

No caso dos limeirenses, o cenário foi inverso: Constância Félix (PDT) teve apenas 33% de seus votos fora de Limeira, Paulo Hadich (PSB), 18%; e Eliseu Daniel (PDT), 16,5%.

Diante disso, a questão que se coloca é: se todos os outros fatores são iguais em Limeira e nas outras cidades, como reverter o único fator que pesou para a eleição? Obter votos fora de sua cidade exige, antes de tudo, estrutura e influência. Estrutura significa dinheiro para investir na campanha; influência significa força política.

No caso de Limeira, praticamente todos os candidatos não tiveram nem uma coisa nem outra. Eliseu, por exemplo, foi apenas o quinto mais votado em Iracemápolis, o sexto em Cordeirópolis (Constância foi a quinta lá) e o 12° em Engenheiro Coelho (Constância foi a oitava, atrás de Cauê) – só para ficar nas três cidades vizinhas. Tivessem ido melhor só nestes lugares e provavelmente estariam eleitos.

Dinheiro mesmo só Constância teve, daí o desempenho melhor (mas ainda insuficiente) fora de Limeira.

A verdade, portanto, é que os candidatos de Limeira precisam melhorar. Com discurso e engajamento regionais - e isto não se constrói em três meses de eleição.

É verdade que todos os demais eleitos já são deputados ou têm algum deputado para lhe apoiar (caso de Cauê), o que facilita a campanha tanto no aspecto estrutural quanto no discurso regional, mas esta é uma barreira a mais para os limeirenses vencerem. E, para isso, precisam deixar o casulo, romper o bairrismo, as fronteiras da cidade. Desde já.

Do contrário, continuarão com dificuldade para conquistar a confiança do eleitor limeirense e o que dirá então do eleitor da região.

Candidatos devem, portanto, culpar menos os eleitores limeirenses e olhar mais para os próprios umbigos e para os números e refletir: por que o que eles falam não está seduzindo quem os ouve?

1 comentários:

Danilo disse...

Explicação melhor que essa impossível.