Aos 78 anos, Paulo Salim Maluf é um astro da política. Poucos fazem uso tão bem da retórica quanto o ex-governador e ex-prefeito de São Paulo. Poucos são tão inteligentes quanto ele.
Não vou entrar no mérito da atuação política de Paulo Maluf (PP-SP), até porque julgo ser desnecessário (basta lembrar qual o verbo popularmente atribuído ao malufismo). Contudo, é inegável a habilidade do hoje deputado federal e candidato à reeleição para atuar no meio político (marcado por práticas pouco republicanas).
Maluf esteve recentemente em Limeira (como faz, aliás, a cada quatro anos, sempre em época de eleição). Carregava a sua tradicional pasta, na qual guarda documentos de seus arquivos com encaminhamentos de obras e serviços em prol de cada município que visita. A pasta de Limeira já é antiga - esteve com ele em 2006 na sua última visita à cidade.
Na TV Jornal, Maluf preferiu dispensar a pasta. Ao ser alertado de que havia esquecido a dita cuja na mesa, o deputado apontou para a cabeça como quem dissesse: “está tudo aqui”. E estava mesmo. Diante de comentários de telespectadores, lembrou de encontros com os ex-prefeitos Sebastião Fumagalli e Waldemar Mattos Silveira, o Memau. Citou também os ex-deputados federais limeirenses Jurandyr Paixão Filho, o Jurinha, e Heitor Franco de Oliveira.
Antes da entrevista, Maluf baixou a guarda: “podem perguntar qualquer coisa”. Como um professor, recorreu à máxima de Chacrinha de que “quem não se comunica, se trumbica” - ainda que diante de perguntas delicadas. “Você não consegue falar com 200 milhões de pessoas de uma só vez.” Por isso, não despreza - ao contrário, valoriza - o poder dos meios de comunicação, grandes ou pequenos.
O deputado contou ter ido a uma rádio e ouvido do locutor, antes do bate-papo, quais assuntos não gostaria que fossem abordados. Citou não ter feito nenhum impedimento. Maluf faz essa aparente concessão porque sabe, de antemão, que os temas delicados de sua carreira política surgirão de qualquer maneira. Durante a entrevista, como se quisesse ser indagado sobre dinheiro fora do pais, denúncias de corrupção e ficha suja, repetiu que responderia sobre qualquer tema.
De fato, Maluf não perde a compostura. Às vezes recorre ao conhecido subterfúgio de fugir da pergunta. Fez isso quando questionado sobre quais benefícios trouxe a Limeira nos últimos quatro anos como deputado. Preferiu elogiar a deputada Aline Correa, sua colega de partido, citada como única intermediária dos pleitos limeirenses junto ao governo. Depois, emendou quase laconicamente: “o telefone do meu gabinete está à disposição...”.
Questionado sobre a assinatura junto do nome “Paolo Maluf” (assim mesmo, com “o”) que aparece na conta atribuída a ele no exterior, iniciou a resposta dizendo que nunca assina um cheque quando vai a um restaurante. Antes, havia afirmado que não é ilegal ter dinheiro fora do país, desde que a origem seja lícita e o valor declarado à Receita Federal.
Sobre o fato de ser considerado procurado pela Interpol (leia aqui), disse ter o mesmo endereço há mais de 40 anos e que não é obrigado a ir para os EUA depor. E criticou o governo por não defender um cidadão brasileiro.
E você pode estar pensando o que maktub (ou maktoub) tem a ver com tudo isso. Pois bem. Quando soube que iria entrevistar Maluf, fiquei pensando o que perguntar – afinal, ele é daqueles personagens a quem tudo já foi questionado. Sobre o tal “se o Pitta não for um bom prefeito...”, já falou centenas de vezes.
Até que uma curiosidade me veio à mente. Algo sobre o qual nunca ouvira Maluf falar. O que um político experiente como ele sente ao lembrar que quase foi presidente da República, que perdeu a eleição no colégio eleitoral aos 45 minutos do segundo tempo? Como um homem reage ao ter perdido a oportunidade de comandar o país, uma chance que Maluf sabe ter sido única em sua vida, o sonho de qualquer político?
A resposta foi: “maktub”. “Eu sou libanês e em árabe existe uma palavra: maktub. Ela quer dizer a carta, mas tem um outro sentido, o de estava escrito. É isso, estava escrito”, disse, resignado. Comentou que um conhecido certa vez lhe dissera que se tivesse escolhido o hoje presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AL), como candidato a vice em sua chapa, teria sido eleito. “Mas estava escrito que o presidente da chapa do Sarney ia morrer”, citou, referindo-se a Tancredo de Almeida Neves, presidente eleito que morreu dias antes da posse, abrindo espaço para Sarney, o vice que virou presidente.
Apesar do maktub, Maluf fez questão de observar que “estava mais preparado para ser presidente do que o Sarney”.
Já fora do ar, o deputado assumiu novamente tom professoral ao responder outra dúvida minha: afinal, quem ou o que o tira do sério? “Vou lhe dizer uma coisa: as pessoas não estão nem um pouco interessadas no mérito do que eu estou respondo. Estão prestando atenção no modo como eu estou dizendo. Se eu respondo com tranquilidade, sorridente, gostam do que eu digo. Se respondo com agressividade, não gostam. Por isso, nunca trato mal nenhum repórter”.
E Maluf se foi. Não sem antes dar nota dez a Lula como pessoa e nota 5 ao seu governo. “O governo dele é medíocre”.
Em tempo: o deputado prometeu voltar à TV Jornal em dezembro, mas é mais certo que retorne mesmo em 2014...
terça-feira, 27 de julho de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 19:06 |
A resposta de Maluf: "maktub"
Marcadores: eleição, entrevista, Maluf, política
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