No recente giro que fiz pela Costa Leste dos Estados Unidos, de Nova York a Key West, um aspecto me chamou a atenção: a quantidade de imóveis - residenciais e notadamente empresariais - com placas indicando “sale”, “for lease” ou “for rent”. Ou seja, para vender ou alugar. Muitos desses imóveis eram novos, ou tinham aspectos de novos.
Foi inevitável associar esta nova realidade (ao menos para mim) à crise econômica que atingiu o mundo e que teve seu pico nos EUA. Aliás, esse foi o sinal mais evidente da crise, pois pelas cidades por onde passei não vi cenários que indicassem uma recessão. Os moradores, porém, talvez os vejam. Em Miami, um motorista de táxi me disse que os norte-americanos estavam assustados com a queda na atividade econômica na cidade, inclusive turística – o principal “motor” da economia local. Outro taxista, porém, disse que em setembro o movimento sempre foi baixo por não ser alta temporada.
Divergências à parte, os EUA seguem estimulando o consumo. “Compre um e leve outro”, “compre e ganhe 50% de desconto na próxima negociação”, “raspe o cartão da loja e ganhe descontos”, “noite da moda, com preços incríveis”. Tudo para vender. Não se sabe, porém, até que ponto o norte-americano está com dinheiro no bolso e disposição para gastar.
Os números da economia americana ainda assustam: em meio a tantas (tantas mesmo!) placas de “vende-se” ou “aluga-se”, a previsão dos especialistas é que 6,4 milhões de imóveis irão para hipoteca em 2010 devido à incapacidade de pagamento de quem os financiou. Isto é um número brutal considerando a crise que já atingiu o mercado imobiliário em 2008 e este ano.
O presidente dos EUA, Barack Obama, manifestou na semana passada que esperava um PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas por um país) positivo no trimestre, o primeiro após uma longa recessão. O resultado divulgado ontem, porém, indicou um cenário ainda de retração.
O fato é que para os turistas, os EUA continuam sendo um “oásis” para compras, como anuncia um grande outlet na região de Miami, o Sawgrass Mills. É bom saber, contudo, que esses mesmos turistas poderão se deparar com imagens dificilmente antes vistas, como a de pessoas pedindo dinheiro em semáforos. Se são realmente necessitados não se sabe, mas sem dúvida a crise de alguma forma está envolvida nesse cenário. Ainda que seja por mero oportunismo.
PS: além do pedinte no semáforo, esta nova figura da vida americana, em Atlanta fui abordado por um cidadão que me pediu dinheiro (na verdade “gorjeta” depois de perguntar se eu precisava de ajuda). Um tanto impaciente com a minha tentativa de passar por desentendido, ele afirmou ser “homeless” – um sem-teto. Acabei dando dois dólares para dispensá-lo. Ele pediu mais dois. Recusei. Ele se foi (acho que um tanto insatisfeito).
* Em tempo: para se ter uma ideia do tamanho da crise, Obama disse em entrevista recente a David Letterman que o país perdia 700 mil empregos por mês quando ele assumiu o governo. Até agora, a crise já custou US$ 5 trilhões aos EUA.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 15:36 |
A nova realidade americana
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