Poucas vezes li retratos tão bem escritos sobre a vida em
Cuba quanto os que são feitos pelo renomado escritor Leonardo Padura. Autor do
clássico “O homem que amava os cachorros”, o cubano mantém uma coluna no jornal
espanhol “El País”, na qual escreve sobre o cotidiano da ilha caribenha alvo de
paixões e ódios pelo mundo.
Retratando aspectos do cotidiano, Padura consegue encantar e
revelar qualidades e defeitos de uma sociedade “socialista”, enfraquecida
economicamente pelo embargo de meio século mantido pelos Estados Unidos, marcada
pela ausência de oposição política formal e por afrontas às liberdades.
Num dos textos, Padura comenta sobre a chegada da gigante Netflix
à ilha neste momento de reaproximação com os norte-americanos. Com humor, desenha
um retrato da televisão local - que padece com a precariedade das produções,
mas pela qual é possível assistir de graça, antes de muitos países, aos
lançamentos que concorrerão ao Oscar e levarão milhões de pessoas aos cinemas
mundo afora.
“Porque aunque los cubanos puedan suscribirse a las ofertas de Netflix si sus parientes en el exterior asumen el pago del servicio… ¿dónde y cómo podremos ver la tercera temporada de House of Cards si bajar por un correo electrónico doméstico un archivo de 4 megabytes es casi una misión imposible y ver un corto de dos minutos en YouTube uno de los siete trabajos de Hércules?”
Os problemas e qualidades aparecem assim, de modo claro e
objetivo, porém sem ingressar no pedantismo político-ideológico (algo que o
escritor se recusa a fazer, como deixou claro em recente entrevista ao programa
“Roda Vida”, da TV Cultura, na qual foi questionado sobre sua possível omissão como
figura de destaque na sociedade cubana).
Para ler os artigos de Padura e conhecer a Cuba por um
cubano (como deve ser a análise de qualquer país na visão do escritor, como frisou
ao “Roda Viva”), clique aqui. Eu garanto: vale a pena!
0 comentários:
Postar um comentário