sexta-feira, 15 de outubro de 2010 | | 2 comentários

Férias!

Este blog ficará sem atualização pelos próximos dias por motivo de férias!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010 | | 0 comentários

"As minhas traições"

Sou um traidor. Sou um hipócrita. Não tenho defesa. Nem perdão. Mas guardar segredo é pior que partilhá-lo. Partilho.

Imagine o leitor: eu, num círculo de amigos literatos, discutindo as últimas novidades da "rentrée". Subitamente, alguém fala sobre o futuro do livro. E elogia as qualidades do livro eletrônico.

É nesse preciso momento que eu faço cara de nojo, limpo o suor da testa com meu lenço de renda e disparo um "jamais!" que faz tremer o salão. O meu mundo é o mundo de Gutenberg: o mundo arcaico do papel e da tinta, não de "pixels", "bits" e outras barbaridades linguísticas. Livro eletrônico? É como fazer amor com uma boneca insuflável.

"Um livro é um livro", disparava eu, em conhecido clichê. Nada substitui o objeto físico que transportamos, dobramos, sublinhamos. Tocamos. Cheiramos. Por vezes, rasgamos ou queimamos. A ideia de ler um romance, uma biografia, um mero ensaio em suporte eletrónico chegava para cobrir a minha costela conservadora de um horror herético. Nem morto.

Mas então aconteceu: uma oferta familiar em dia de aniversário. Bateram à porta. Entregaram a encomenda. Era o famoso Kindle da Amazon, com capa de pele, bonitinho. Perigosamente bonitinho.

Farejei o bicho com desconfiança primitiva. Cocei o crânio com pasmo neandertal e senti-me um dos macacos de Stanley Kubrick, na sequência inicial de "2001 - Uma Odisseia no Espaço".

Como se um objeto estranho tivesse vindo diretamente do futuro. Por milagre não quebrei o aparelho com a força das minhas ossadas. Um livro eletrônico era aquilo? "Jamais, jamais", gritava a minha pobre consciência.

Os dias passaram. O objeto, a um canto, mendigava a minha atenção sempre que passava por ele. "Jamais, jamais", repetia ainda. E sempre com menor convicção.Uma tarde, aproximei-me. Tentei ignorá-lo, lendo ostensivamente as "Páginas Amarelas". O objeto soltou um suspiro de tristeza, quem sabe de abandono. E eu, com caridade cristã, decidi dedicar-lhe dois minutos de atenção, não mais.

Liguei o Kindle. Com enfado, fui lendo as instruções. E, por cada página lida, a pergunta mefistofélica: experimentar nunca fez mal a ninguém, certo?

Experimentei. Diretamente do site da Amazon, fui importando livros grátis. Os clássicos gregos. Os clássicos romanos. Algum Maquiavel, algum Hobbes, algum Swift. Os pensamentos de Pascal. Uma edição completa das peças do bardo. Tudo a preço zero. Em 60 segundos, a Biblioteca de Alexandria viajava até minha casa.

O meu entusiasmo começava a ser perigoso. Embaraçoso. Numa tarde, descarregara 50 livros. Outros 50 vinham a caminho.

E, pior, já começara a ler um: a autobiografia de Tony Blair, que comprei a preço reduzido. Lia. Inacreditavelmente, sublinhava. Mais inacreditavelmente ainda, escrevia notas. Aquilo não era um livro. Era melhor que um livro. Que foi mesmo que eu disse?Hoje, levo uma vida dupla. Em público, passeio os meus grossos volumes da "Enciclopédia Britânica", em gesto de resistência ao mundo virtual. Finjo. Quando me falam nas virtudes do Kindle, ou do e-book, as minhas gargalhadas são jocosas, ofensivas, delirantes.

Mas são também forçadas e encenadas: chego em casa e chamo logo pelo meu Kindle como quem chama pelo gato. E ele vem, pronto para miar centenas e centenas de obras-primas. Se um dia a casa arder e eu estiver em estado delirante, o leitor já sabe o que significa "Salvem o gato! Salvem o gato!".

Moral da história? A internet foi a primeira grande revolução da minha existência literária. Mas o livro eletrônico será a segunda ao introduzir a mais importante divisão intelectual da vida.

Haverá sempre livros que desejarei ter; e "ter" no sentido tangível do verbo: como objetos físicos, artísticos, existenciais. Nesse sentido, as livrarias continuarão a ser os únicos templos laicos que frequento com religioso fervor.

Mas depois existirão os livros que quero ler. Simplesmente ler. Não amanhã, ou depois, ou um dia qualquer. Mas hoje. Agora. Já. O sonho de qualquer leitor curioso, insaciável, ditatorial.

Regresso ao início: sou um traidor. E no dia em que os meus amigos literatos, cansados de minhas mentiras, vierem buscar-me para a fogueira, nada peço em minha defesa. Espero apenas que poupem o gato.

Fonte: João Pereira Coutinho, Ilustrada, “Folha de S. Paulo”, 5/10/2010

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Retratos de NY

Três belas imagens de Nova York captadas pelo correspondente da TV Globo na cidade, o jornalista Flávio Fachel:


segunda-feira, 11 de outubro de 2010 | | 1 comentários

"O debate do aborto, Miriam Cordeiro 2.0"

Vinte e um anos depois da noite em que Mirian Cordeiro, a ex-namorada de Lula, surpreendeu o país acusando-o de ter sugerido que abortasse a criança que viria a ser sua filha Lurian, a palavra maldita voltou à agenda da sucessão presidencial. Em 1989 a questão do aborto foi fertilizada pelo comando da campanha de Fernando Collor. Desta vez, reapareceu com o mesmo formato oportunista, trazida pela infantaria do tucanato. Nos dois casos, ninguém mostrou-se interessado em discutir o assunto ao longo dos meses anteriores à eleição. O propósito, puramente eleitoral, sairá da agenda depois do dia 27. Até lá, terá emburrecido o debate, rebaixado a campanha e tisnado a biografia dos beneficiários da baixaria.

Há 19 anos tramita na Câmara um projeto que dá à mulher o direito de interromper voluntariamente uma gravidez. Em 2008, por unanimidade, ele foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família. Pelo andar da carruagem, se não morrer antes, levará anos para chegar ao plenário. Se e quando isso acontecer, caberá ao Congresso decidir.

Flertando com a transformação do aborto numa "bala de prata" eleitoral, o tucano José Serra expôs sua posição: "Nunca disse que sou contra o aborto porque eu sou a favor, ou melhor, nunca disse que sou a favor, porque sou contra". Em seguida, expôs a ferida petista: "O que está em questão nessa campanha não é ser contra ou a favor. É a mentira". O comissariado petista e Dilma Rousseff defenderam programática e pessoalmente a descriminalização do aborto.

Chegou-se a um conflito de oportunismos. O dos tucanos, que só lembraram do assunto na reta final da campanha, e o dos petistas que, na mesma reta, mudam de opinião.

Afora o oportunismo, o nível da discussão abortou a inteligência. Dilma Rousseff disse que "as mulheres ricas têm acesso a clínicas, mulheres pobres usam agulha de tricô". Propagou a lenda produzida pelo filme "Pixote", de 1981. Mesmo há 30 anos essa prática era desprezível. Hoje, nem pensar. A forma mais comum de aborto se dá com o uso da droga Cytotec. Em tese, sua comercialização é proibida. Na prática, custa em torno de R$ 400 e pode ser comprada pela internet. Estima-se que, de cada dez abortos, sete sejam feitos com Cytotec.

Em 1990, o professor Laurence Tribe, de Harvard, publicou um livro intitulado "Aborto - O Choque de Absolutos". (Entre os seus pesquisadores estava um estudante de direito chamado Barack Obama.) Tribe mostra que o aborto divide as sociedades e, sem uma certeza religiosa, não há como sair do debate seguro de que um lado está certo e o outro, errado. O aborto não é apenas uma questão de saúde pública, como a dengue. Trata-se de um conflito entre o direito do feto à vida e o direito da mulher à liberdade de interromper sua gravidez. (Sempre até o terceiro mês da gestação.)

Em 1973, a Corte Suprema dos Estados Unidos decidiu, por sete a dois, que as mulheres têm esse direito. No mesmo dia, julgaram dois casos. Uma das mulheres abortou. A outra perdeu o prazo e concebeu uma menina. Passaram-se 37 anos, a mãe mudou de ideia e tornou-se uma militante contra o aborto. A filha defende a decisão da Corte, que teria evitado seu nascimento.

No Brasil de hoje é improvável que o Supremo Tribunal Federal reconheça o direito das mulheres de interromper a gravidez. Também é improvável que o Congresso vote uma lei nesse sentido. A candidata Marina Silva, a única a expor uma posição que faz sentido, é contra o aborto, mas remeteria a questão a um plebiscito, no qual a proposta dificilmente seria aprovada.

Sobrou o lixo: a instrumentalização do tema para satanizar adversários políticos. Collor fez isso com rara maestria.

A baixaria circula na campanha presidencial de um país onde a rede pública de saúde do estado de São Paulo mantém, desde 1986, o Programa de Atenção Integral à Adolescente. Para júbilo internacional, entre 1998 e 2008 a internação de adolescentes por conta de abortos caiu de 10 mil por ano para 8.700. Mais: a gravidez de jovens de 10 a 20 anos caiu 38%, para 94 mil. Reduziu-se à metade os casos de segunda gravidez nessa faixa de idade.


Fonte: Elio Gaspari, em coluna na “Folha de S. Paulo”, 10/10/10 (para ler a íntegra, clique
aqui – é preciso ter senha do UOL ou do jornal)

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"Tropa de Elite 2", um filme necessário

1) A magnífica interpretação de Wagner Moura, insuportavelmente sincero. Wagner será sem dúvida e brevemente ator disputado pelo mercado internacional. Temos de ter cuidado para não perdê-lo.

2) O grande feito de um filme é juntar, como disse Brecht, diversão com ensinamento. “Tropa” é um gol nesse sentido. Eletrizante e profundo.

3) Pela coragem de José Padilha de abordar tão diretamente questões delicadas e presentes como as milícias dos morros. A coragem é uma das maiores virtudes humanas.

4) Pela objetividade de José Padilha ao reger o roteiro fazendo-o chegar a Brasília e depois de alguma forma premiando o Capitão Nascimento com a vida de seu filho. “Tropa” é tão emocionante que pode até influenciar no segundo turno.

5) Pela tenacidade e talento pelos quais José Padilha conseguiu tanto dinheiro para fazer este filme. Certamente vindo de fontes que ele, nem tão sutilmente assim, ataca.

6) Provar a possibilidade de o filme estourar bilheterias mantendo-se como filme de arte.

7) “Tropa de Elite 2” é o arauto, anuncia o futuro. Inaugura uma fase do cinema brasileiro na qual mais uma vez imitaremos os americanos, só que agora em uma das suas melhores virtudes. O grande cinema americano sempre fez filmes (de Grifth a Carlitos, Capra, Spielberg) com ênfase central na crítica de sua própria sociedade. Crítica franca, direta, ofensiva. Que é exatamente o que faz a “Tropa de Elite 2”. Que, sendo um mega sucesso, criará obrigatoriamente seguidores. E que será também benéfico para o nosso país.

8) Pela linguagem cinematográfica de José Padilha, baseada no modo de fazer usual do cinema americano porém com extrema competência, clareza, comunicabilidade e por que não dizê-lo, poesia.

9) Pela magnífica atuação dos atores no filme. Lembra Costa-Gravas nos seus melhores resultados, como é citado em uma cena. Sendo um filme político era preciso que os atores representassem politicamente. E é exatamente o que Padilha consegue. É impossível não destacar alguns, embora sejam todos excelentes: Irandhir Santos, Sandro Rocha, André Mattos, Maria Ribeiro!

10) Pela excelente dramaturgia do final do filme. Dizem que o final ideal de um filme ou peça teatral é aquele que diz algo que não foi dito antes na obra inteira. Algo que ilumina a narrativa para trás, como um farol retrovisor. Esse tipo de final é dificílimo de atingir, como em “O Inimigo do Povo” de Ibsen ou “Romeu e Julieta”. No momento em que o filme do Padilha, surpreendentemente pula para Brasília, cria um final excelente. Lança luz sobre todo o resto.

11) Em meio ao entusiasmo que o filme desperta, vem um sentimento ruim de desesperança e desespero. Posto que o filme nega o poder modificador de qualquer ação individual e, portanto, do próprio filme. Esta é uma questão filosófica grave, importante, que o filme levanta como resultado final. Quando responsabilizamos o sistema considerando-o uma força irreversível, de alguma forma não responsabilizamos ninguém. Muitos sistemas já foram desagregados pela ação individual. Mais um mérito de José Padilha em seu grande filme “Tropa de Elite 2”: levantar esta questão.

Fonte: Domingos Oliveira, em seu blog (para ver, clique aqui)

Minha avaliação: "Tropa de Elite 2" é simplesmente espetacular! Todos os brasileiros deveriam assisti-lo, quem sabe assim cresce a necessária intolerância com a corrupção.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010 | | 1 comentários

Otoniel: 3° pior deputado, segundo ONG

Eleito com 95 mil votos para uma vaga na Câmara Federal, puxado pela votação do palhaço Tiririca (PR), o ex-vereador de Limeira Otoniel de Lima (PRB) foi considerado o terceiro pior deputado estadual da atual legislatura. É o que aponta estudo feito pelo Movimento Voto Consciente, uma organização não governamental sem fins lucrativos e apartidária, formada por voluntários, que tem como objetivo avaliar o desempenho de vereadores e deputados estaduais paulistas.

Conforme o estudo, disponível no site do movimento, Otoniel recebeu nota 2,93 numa escala de zero a dez. Ficou à frente apenas de Roque Barbiere (PTB), com 2,80, e Geraldo Vinholi (PSDB), com 2,09. O parlamentar mais bem avaliado foi Bruno Covas (PSDB), com 7,92. Ele é neto do ex-governador Mário Covas e foi reeleito com a maior votação para o cargo este ano. Roberto Morais (PPS), de Piracicaba, também reeleito, foi o segundo melhor, com 7,43.

Os piores desempenhos de Otoniel foram nos itens “fiscalizador” e “fidelidade”, em que teve zero. No item “comissões”, sua nota foi 1,80. Conforme o estudo, o ex-vereador tem uma condenação por improbidade, da qual está recorrendo.

Na avaliação, o Movimento Voto Consciente considera o desempenho do deputado exclusivamente no Parlamento. “Temos certeza que as funções de um deputado envolvem também várias atividades em sua região, visando trazer para a Assembleia Legislativa as necessidades da sua região, atividades estas que não temos a pretensão de avaliar”, explica.

Nesse sentido, são avaliadas a participação do deputado nas comissões do Legislativo, sua presença nas sessões, seu desempenho na apresentação de projetos, emendas e requerimentos, sua capacidade de comunicação e a transparência, fiscalização e sua fidelidade (partidária e ao mandato) – Otoniel trocou de partido duas vezes em quatro anos. Os itens têm pesos distintos (os
critérios técnicos estão explicados no site do movimento).

PS: No total, foram avaliados 86 deputados (só aqueles com mais de dois anos de mandato). Os presidentes da Casa na atual legislatura, Vaz de Lima e Barros Munhoz, não foram avaliados.

Em tempo: dos 95 mil votos que recebeu, Otoniel teve 4.090 em Limeira. A base eleitoral do parlamentar é a Igreja Universal do Reino de Deus.

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Aberrações eleitorais

Weslian Roriz (PSC), esposa do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, teve 440.128 votos no último domingo, 31,5% do total de votos válidos para o governo do DF.

Ela virou candidata depois que Roriz - ex-senador que renunciou ao mandato para evitar uma provável cassação – viu sua candidatura ameaçada pela Lei da Ficha Limpa. Numa manobra legal, colocou a esposa em seu lugar.

Veja a seguir o desempenho de Weslian nos debates do primeiro turno (sim, ela foi para o segundo turno).





E a gente ainda critica apenas o Tiririca…

quarta-feira, 6 de outubro de 2010 | | 1 comentários

A culpa não é do Tiririca (o real motivo do fracasso limeirense nas urnas)

Desde as eleições do último domingo, em que Limeira mais uma vez não elegeu nenhum deputado (Otoniel de Lima, do PRB, definitivamente não foi eleito em Limeira, onde teve apenas 4.090 votos de um total de 95 mil), novamente vieram à tona discussões algumas vezes acaloradas sobre os motivos de mais um fracasso nas urnas. De novo, os argumentos apresentados foram a enorme quantidade de votos para candidatos de fora, como Tiririca, e a baixa votação dos limeirenses nos seus candidatos.

Deixando as paixões de lado e olhando para os números, lamento dizer que os colegas estão errados. Não foi nem uma coisa nem outra que impediu que um limeirense se elegesse. Obviamente, em qualquer cidade, se a maioria da população votar nos candidatos locais, eles serão eleitos. No entanto, isto não ocorreu praticamente em nenhuma localidade. Foi o que constatei no meu estudo.

Logo, o principal fator é outro. Antes de chegar até ele, vamos esmiuçar ponto a ponto:

1) Tiririca não impediu a eleição de um limeirense – Se é fato que o palhaço teve muitos votos em Limeira, 6.299, a votação dele na cidade está exatamente dentro de média de outros municípios que elegeram seus deputados. Tiririca teve em Limeira 4,54% dos votos válidos, contra 4,04% em Piracicaba (7.663 votos), 5,14% em Campinas (28.158), 4,19% em Indaiatuba (4.075), 5,83% em Rio Claro (3.904) e 3,28% em Americana (3.963). Logo, o mesmo que aconteceu em Limeira se deu nas demais cidades, Tiririca tirou votos de todos. Proporcionalmente, aliás, o palhaço roubou mais votos em Campinas e Rio Claro do que em Limeira.

2) Ter muitos candidatos não impediu que um limeirense fosse eleito – Americana teve três fortíssimos candidatos a deputado estadual – Chico Sardelli (PV), Cauê Macris (PSDB) e Antônio Mentor (PT) -, todos dividiram votos (25.521, 23.303 e 19.530, respectivamente) tal como em Limeira e dois deles se elegeram. Logo, esse argumento não é o suficiente para explicar o fracasso.

3) A grande quantidade de votos perdidos não impediu a eleição de um limeirense – Considerando a média de abstenções, votos brancos e nulos, o cenário em Limeira não se difere de outras cidades. Os votos limeirenses perdidos foram 25,7% do total dos eleitores inscritos, contra 24,8% de Piracicaba, 25,7% de Campinas, 25,9% de Indaiatuba, 27,1% de Rio Claro e 23,7% de Americana. Ou seja, em todas essas cidades, um em cada quatro eleitores não votou ou não teve um voto válido.

4) A falta de consciência em votar nos candidatos locais não impediu a eleição de um limeirense - Este mesmo fenômeno se deu em outras cidades. Com exceção do deputado Roberto Morais (PPS), em Piracicaba, os demais eleitos tiveram em suas cidades uma quantidade de votos quase igual ou até menor do que a que os candidatos limeirenses conquistaram em Limeira. Célia Leão (PSDB) teve em Campinas 36.863 votos, Rogério Nogueira (PDT) teve em Indaiatuba 33.366 votos, Aldo Demarchi (PP) conseguiu em Rio Claro 30.941 votos, Sardelli e Cauê tiveram em Americana, respectivamente, 25.521 e 23.303 votos (menos do que os limeirenses).

5) Votos em candidatos de fora não impediram a eleição de um limeirense – Basta olhar a proporção dos votos obtidos pelos outros candidatos em suas cidades na comparação com o total de votos válidos (21%, 19% e 12%, por exemplo) para verificar que há casos semelhantes e até inferiores aos registrados em Limeira pelos candidatos limeirenses (23,6%, 16% e 23,6%). Logo, este fator não foi preponderante.

O que, então, diferencia o cenário eleitoral das outras cidades em relação a Limeira?

A resposta é simples: os votos obtidos pelos candidatos fora de suas bases. Com exceção de Morais, que teve apenas 30% de seus votos fora de Piracicaba, todos os demais não se elegeram com os votos de suas cidades. Célia Leão teve 60,5% da sua votação fora de Campinas; Nogueira, 61,6% fora de Indaiatuba; Demarchi, 64,3% dos votos fora de Rio Claro; Sardelli, 62,8% fora de Americana; Cauê, 65% da votação fora de Americana; Carlos Sampaio (PSDB), 52,4% fora de Campinas; Mendes Thame (PSDB), 55% fora de Piracicaba e Guilherme Campos (DEM), 86,8% fora de Campinas.

No caso dos limeirenses, o cenário foi inverso: Constância Félix (PDT) teve apenas 33% de seus votos fora de Limeira, Paulo Hadich (PSB), 18%; e Eliseu Daniel (PDT), 16,5%.

Diante disso, a questão que se coloca é: se todos os outros fatores são iguais em Limeira e nas outras cidades, como reverter o único fator que pesou para a eleição? Obter votos fora de sua cidade exige, antes de tudo, estrutura e influência. Estrutura significa dinheiro para investir na campanha; influência significa força política.

No caso de Limeira, praticamente todos os candidatos não tiveram nem uma coisa nem outra. Eliseu, por exemplo, foi apenas o quinto mais votado em Iracemápolis, o sexto em Cordeirópolis (Constância foi a quinta lá) e o 12° em Engenheiro Coelho (Constância foi a oitava, atrás de Cauê) – só para ficar nas três cidades vizinhas. Tivessem ido melhor só nestes lugares e provavelmente estariam eleitos.

Dinheiro mesmo só Constância teve, daí o desempenho melhor (mas ainda insuficiente) fora de Limeira.

A verdade, portanto, é que os candidatos de Limeira precisam melhorar. Com discurso e engajamento regionais - e isto não se constrói em três meses de eleição.

É verdade que todos os demais eleitos já são deputados ou têm algum deputado para lhe apoiar (caso de Cauê), o que facilita a campanha tanto no aspecto estrutural quanto no discurso regional, mas esta é uma barreira a mais para os limeirenses vencerem. E, para isso, precisam deixar o casulo, romper o bairrismo, as fronteiras da cidade. Desde já.

Do contrário, continuarão com dificuldade para conquistar a confiança do eleitor limeirense e o que dirá então do eleitor da região.

Candidatos devem, portanto, culpar menos os eleitores limeirenses e olhar mais para os próprios umbigos e para os números e refletir: por que o que eles falam não está seduzindo quem os ouve?

terça-feira, 5 de outubro de 2010 | | 1 comentários

Animal kingdom

Visitantes (ou seriam anfitriões) flagrados numa rua movimentada de um domingo em Key West:


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"No papel do papel em branco"

Já vão dois anos desde que deixei de acompanhar os detalhes da operação diária do meu grupo para me dedicar a necessidades mais intangíveis do que a manufatura, mas mais relevantes aos negócios hoje: ideias e relacionamentos.

Tenho rodado o mundo atrás deles. Um mundo cada vez mais plano, em que o Brasil é um dos "hot topics". O interesse externo abre tantas possibilidades, mas ainda vejo poucos empresários e lideranças brasileiros nesses fóruns globais. Se há mercados emergentes, há também obrigações emergentes.

Meu papel no Grupo ABC é o do papel em branco, prestes a ser preenchido. Desocupado dos pequenos desafios presentes, de olho no momento seguinte.Se todos estiverem focados no dia a dia e no que está perto da empresa, o futuro vai passar longe ou chegar tarde demais. Por isso, invisto metade do meu mês em viagens pelo mundo. Grandes histórias de sucesso nos negócios cada vez mais são forjadas fora dos ambientes de trabalho rígidos das empresas e das corporações.

Peter Drucker, o guru da gestão, disse que o "management" era a maior inovação do século 20. Mas o velho "management" está morto, decretou artigo recente do "Wall Street Journal".

As grandes corporações, ápices da antiga forma de gestão, tendem hoje a se tornar burocracias, e as burocracias atuam pela autoperpetuação e pelo status quo, resistindo às forças de mercado que antes as impulsionaram.

São tendências fatais num mundo de acelerada "destruição criativa", em que as forças de mercado foram dramaticamente fortalecidas pela globalização e pelas novas tecnologias. Gigantes morrem (Lehman Brothers) e nascem (Twitter) com incrível rapidez.

Nesse ambiente, o conhecimento novo e a troca de experiências são insumos essenciais para o desenvolvimento que só são conquistados ao derrubar paredes de escritório e fronteiras de qualquer tipo.

E não é só a web que aproximou as pessoas e os pensamentos.

Criou-se hoje no mundo uma teia de nós globais onde empreendedores, pensadores, políticos e ativistas se encontram regularmente para debater o que estão fazendo e o que querem fazer.

É isso o que busco hoje, esse "crowd sourcing" presencial, e vejo ao meu lado as principais lideranças mundiais.

Em setembro, participei do encontro asiático do Fórum Econômico Mundial, na China, e do encontro anual da Clinton Global Initiative, em Nova York. Falei ainda em evento do "Financial Times" em Hong Kong com o título: "Doing Business in Brazil".

Nos três, encontrei interesse e entusiasmo enormes com o novo Brasil, que precisam ser respondidos com interesse e entusiasmo enormes do novo Brasil com o mundo, por mais que o país emergente dentro do nosso país emergente nos atraia e nos consuma.

Anunciei na reunião do Fórum Econômico Mundial, na China, a criação de um clube de negócios Brasil-China, que será composto por cerca de dez empresários de cada lado.

A ideia é que dessa troca direta e informal de visões saiam modelos novos de relacionamento e de negócios com o nosso maior parceiro comercial. Temos muito a aprender e a ensinar uns aos outros. E precisamos nos encontrar.

Por mais criativa e estimulante que seja sua vida profissional neste momento transformador da economia brasileira, ela será ainda mais rica se você (e/ou alguém da sua organização) tiver tempo livre para expandir sua visão não só de dentro para longe, mas também de longe para dentro.

Vivemos uma nova era de grandes descobrimentos. O homem só descobriu que a Terra era azul ao sair do planeta. Eu só descobri que o futuro do Grupo ABC era global ao sair do Brasil.

Alguém na sua empresa precisa fazer essa jornada e assumir o papel mais interessante e desafiador da organização: o papel em branco.

Fonte: Nizan Guanaes, publicitário, em sua coluna quinzenal na "Folha de S. Paulo" (5/10/10)

PS: eis meu sonho, poder preencher papéis em branco...

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Frase

"É impossível reduzir a desigualdade em um país que dedica ao Bolsa Família (12,6 milhões de famílias) apenas R$ 13,1 bilhões e, para os portadores de títulos da dívida pública (o andar de cima) a fortuna de R$ 380 bilhões, ou 36% do Orçamento-2009."
Clóvis Rossi, colunista da Folha de São Paulo (para ler a íntegra, clique aqui - é preciso senha do UOL ou do jornal)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010 | | 0 comentários

O recado de Eliseu (ou a sinuca de Félix)

Sustentado pelos 39 mil votos que recebeu na eleição para deputado federal (32 mil só em Limeira, onde ficou em primeiro lugar), o presidente da Câmara Municipal, Eliseu Daniel dos Santos (PDT), anunciou nesta segunda-feira, menos de 24 horas após o fim da votação, sua pré-candidatura a prefeito em 2012.

Quem conhece Eliseu sabe que ele sempre sonhou em comandar o Executivo limeirense. Carregando a experiência de três mandados de vereador, sendo duas vezes presidente do Legislativo, o pedetista acredita que a votação obtida ontem o credencia à disputa. E disse isso em entrevista ao programa “Fatos & Notícias” (TV Jornal, segunda à sexta, 11h30) sem meias palavras. “É chegada a hora de eu concorrer ao cargo de prefeito da cidade, estou preparado para isso. (...) Vou colocar meu nome sim com toda certeza na disputa”, afirmou.

Para garantir a candidatura, porém, Eliseu precisará superar um obstáculo interno e silencioso – que ele conhece bem: a resistência do chefe do partido, o prefeito Silvio Félix. Nos bastidores políticos de Limeira, é mais do que conhecida a versão de que Félix não morre de amores por Eliseu (aliás, a recíproca é verdadeira), apenas o tolera por sua liderança na Câmara e pela possibilidade de agregar votos à primeira-dama Constância na eleição que acaba de ser encerrada.

Ou seja, neste momento Eliseu é conveniente para Félix, que é conveniente para Eliseu. Daí ao presidente da Câmara ser alçado a candidato oficial do prefeito para sucedê-lo no Edifício Prada vai uma longa distância.

Não foi à toa – nem ao acaso – que Eliseu correu anunciar sua intenção de ser candidato a prefeito. A manifestação pública e concreta coloca uma “batata quente” no colo de Félix. Alguns ingredientes explicam isso: 1) o prefeito ainda não trabalhou um sucessor (tal como Lula, considera-se insubstituível e quer alguém em quem possa eventualmente “mandar”, o que não seria o caso de Eliseu); 2) o presidente da Câmara acaba de ter o respaldo de 39 mil votos (ou 32 mil em Limeira) para ser candidato; 3) Constância não pode ser candidata por uma questão legal; e 4) não há outro nome, hoje, com o cacife eleitoral de Eliseu no PDT para enfrentar a disputa pela cadeira principal do Edifício Prada.

O que resta, então, a Félix? Hoje, duas opções: 1) arrumar um candidato no prazo de um ano para trabalhá-lo no outro ano restante e comprar uma briga com Eliseu (com possíveis reflexos na Câmara); ou 2) aceitar a candidatura do vereador. Uma verdadeira “sinuca de bico”, sem dúvida – que Félix estava esperando, mas não tão rapidamente.

A rapidez, contudo, é a arma de Eliseu. Ele mandou o recado, quer pressionar o prefeito desde já. Colocar o time em campo é uma forma de acuar o adversário e forçar Félix a decidir. Caso o prefeito dê sinais de que não apoiará a provável candidatura de Eliseu, o presidente da Câmara não tem dúvida: deixará o PDT. Neste caso, encontraria abrigo fácil em outro partido interessado em seu cacife político.

O jogo de xadrez de 2012 começou – e tanto Félix como Eliseu são bons jogadores, sabem fazer articulações políticas, ainda que às custas da perda de aliados de outrora (no caso de Félix, são muitos casos e o pragmatismo político-eleitoral sempre falou mais alto).

PS 1: um dos cotados para ganhar o apoio de Félix para sua sucessão, o secretário todo-poderoso Ítalo Ponzo Júnior deixou o governo há alguns meses, colocando em dúvida essa opção.

PS 2: se Eliseu quer levar adiante seu sonho de tornar-se prefeito, precisa começar a pensar em planos para a cidade – o que pretende para Limeira, como executar os projetos, etc. Hoje, sua candidatura soa mais como um projeto pessoal.

sábado, 2 de outubro de 2010 | | 0 comentários

De novo a Net!

Tive problemas com a Net novamente. Na noite de quinta-feira, fiquei sem acesso à Internet. Após uma espera de quatro horas, decidi recorrer ao call center. Na primeira ligação, cinco minutos de espera e nada. Na segunda tentativa, após mais cinco minutos de espera, a atendente surgiu. Questionei, antes de mais nada, se a nova lei do call center não exigia o atendimento em um minuto.

A jovem, muito “educada”, disse: “Em que posso lhe ajudar?”. Ou seja: ignorou minha queixa. Voltei a perguntar sobre a demora no atendimento. Ela admitiu que a lei falava em um minuto, mas havia muitas chamadas naquele momento. Eu disse apenas: “ora, mas não deviam estar preparados para isso?”. Ela desligou o telefone na minha cara.

Mais um contato, mais cinco minutos de espera e desisti de reclamar sobre a demora. Falei do meu problema com o acesso à Internet. E decidi recorrer à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Não sei se vai dar resultado, mas registrei minha queixa. Cumpri meu dever de cidadão e consumidor consciente. Se as empresas não aprenderem por bem a respeitar os clientes, que aprendam por mal.

Abaixo a cópia da minha queixa formalizada na Anatel.


PS: para ler o meu problema anterior com a Net, clique aqui.

Em tempo: estou, sim, usando este espaço para tratar de uma questão pessoal. Quem sabe isso não estimula outros consumidores a reagir ou ainda faz a Net tomar alguma atitude...