quarta-feira, 15 de setembro de 2010 | |

Título da Inter lembrado 24 anos depois

Quando o Inter conquistou a Libertadores da América pela segunda vez em sua história ao derrotar o Chivas Guadalajara, por 3 a 2, e o capitão Bolívar levantou a taça diante de um Beira-Rio lotado, batia mais forte ainda o coração de um pai especial. O "velho" Bolívar reviveu emoção de 24 anos atrás. Em 1986, era ele o autor do gesto de erguer o troféu e fazer a alegria de outro Internacional, o de Limeira.

O time do interior de São Paulo ganhou notoriedade naquele ano quando conquistou o Campeonato Paulista ao bater o Palmeiras na final por 2 a 1, no Morumbi. Foram os tempos da "Dinamarca Caipira", uma alusão à seleção europeia que havia se destacado no Mundial do México com um futebol alegre e ofensivo.

Mas o tempo acabou implacável. A falta de patrocinadores e a necessidade de vender jogadores traçaram um caminho descendente para a Inter de Limeira durante esses anos. Hoje, o clube saiu dos jornais. Ocupa a Quarta Divisão paulista.

Na equipe que contava com Kita, artilheiro daquela edição com 24 gols - e parou no Flamengo -, Tato e Lê, o capitão Bolívar se destacava na "Dinamarca Caipira". O ex-defensor lamenta a situação na qual se encontra o "Leão da Paulista", como a agremiação é também carinhosamente conhecida:

- Fico muito triste. Mas sempre esperançoso de que o Inter possa voltar a ser grande. A cidade tem que se unir em torno do clube e revitalizá-lo, pois na minha época foi assim. O futebol no Brasil tem que ser mais organizado.

Técnico campeão naquele ano, Pepe, que como jogador viveu glórias com Pelé no Santos e na Seleção Brasileira, se orgulha de ter sido um dos responsáveis pela montagem daquele plantel. Juntamente com Victório Marchesini, o mandatário na época:

- Foi um trabalho muito bem-feito. A própria prefeitura da cidade nos ajudou bastante. O time foi todo montado por mim, desde a excursão na África do Sul. Notei que havia algumas deficiências, então pedi a contratação do Kita, centroavante, e efetivei o Tato como ponta, que já estava um ano, um ano e meio no clube. Tínhamos uma jogada muito boa de contra-ataque, com o Pecos, que era o nosso lateral-esquerdo. Ele metia uma bola, pela esquerda, e o Tato fazia muitos gols.

Se hoje os colorados idolatram o capitão Bolívar, bicampeão da América e Mundial, a culpa é de seu pai, que lhe ensinou desde cedo os caminhos para a vitória:

- Hoje, vendo meu filho tendo essa oportunidade de ser campeão da Libertadores, que não tive, é um motivo de muito orgulho. Ele me viu ser campeão paulista em 1986, estava com seis anos. E me acompanhava em treinos, concentração, estava sempre do meu lado. É uma coincidência ele ser capitão e campeão pelo Inter e eu, paulista. Também pelo Inter, só que de Limeira – recorda Bolívar pai, que morou por 12 anos na cidade, a 156 km da capital paulista.

Além de treinador, Pepe, o "Canhão da Vila Belmiro", também cumpria o papel de tesoureiro naquele tempo:

- O presidente Marchesini, na época, vinha com o dinheiro da renda dos jogos. Quando era nosso mando, jogava o dinheiro para mim e dizia: 'Pode pagar o bicho dos meninos ai'. Não ficou muito tempo como mandatário, pois tinha um pavio muito curto.

De melhor do estado à Quarta Divisão paulista
Fundado em 5 de outubro de 1913, o clube deixou de se chamar "Barroquinha" para se tornar Internacional devido à presença de vários imigrantes radicados na cidade na época. Em 97 anos, marcou presença na Primeira Divisão nacional em seis oportunidades (1979, 81, 82, 86, 89 e 1990), além da conquista do Paulistão de 1986.


- Limeira é a terra da laranja e, curiosamente, esse ano, de 86, foi o ano que deu mais laranja por lá, então não faltava dinheiro, pois a cidade exportava a fruta, e a própria prefeitura ajudava o clube com recursos – brinca Pepe.

No entanto, a partir do fim da década de 80, o Inter entrou em declínio:

- Pensando na minha carreira, aceitei um convite do São Paulo. Depois o time se desmanchou e não conseguiu mais se reerguer. Muitos jogadores tiveram que ser negociados, para o clube fazer dinheiro, pagar dívidas antigas, e faltou patrocinador também.

O governo do presidente da República na época, Fernando Collor de Melo, também não ajudou, ainda mais com o plano econômico, que confiscou poupanças e congelou preços.

- O Inter sempre foi trabalhado em torno de muitas pessoas. O prefeito (Jurandir Paixão) da cidade de Limeira, na época, entre as décadas de 80 e 90, via o clube como uma instituição que poderia levar o nome da cidade para muitos outros lugares. Tirava dinheiro do próprio bolso para ajudar a instituição. Mas muitas pessoas se aproveitaram para crescer usando o clube, que, com isso, acabou perdendo recursos – diz o advogado Aílton Vicente de Oliveira, líder do Grupo Gestor, que assumiu a presidência em abril de 2009.

Justiça dificulta processo de reestruturação
Junto com um grupo de gestores, Aílton Vicente de Oliveira tenta revitalizar o Inter, que tem uma propriedade de sete alqueires (169.400 m²), porém empossada pela Justiça por falta de pagamento:


- Montamos categoria de base, que está dando suporte para o time profissional este ano. Esse terreno tem sete campos de futebol, lago, salão de festas, piscina olímpica, mas está tudo abandonado. A nossa ideia é transformar este espaço em um CT, no qual já temos até o projeto. O objetivo é chegar ao ano do centenário do clube, que é em 2013, na Primeira Divisão do Campeonato Paulista.

No entanto, para que a atual gestão se mantenha até lá, 82 conselheiros, via estatuto, terão que aprovar.

- Quando assumi o clube, o primeiro ‘presente’ que ganhei foi a interdição do estádio (Major Levy, o Limeirão), que estava totalmente abandonado.

Fonte: Marcello Carrapito, do site Globoesporte.com. Material divulgado hoje (15/9), coincidentemente no aniversário de Limeira. Para ver, clique aqui.

0 comentários: