Um ano...
Pense outra vez...
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Provocações (2)
"A imprensa tem de saber onde está o limite do
interesse público. A pessoa quando é condenada criminalmente perde uma boa
parte dos seus direitos. Os seus direitos ficam em hibernação, até que ela
cumpra a pena”. (...)
Segundo (Joaquim) Barbosa (presidente do Supremo Tribunal
Federal), o Brasil assiste à "glorificação" de condenados por
corrupção "à medida em que os jornais abrem suas páginas a essas pessoas
como se fossem verdadeiros heróis".
Fonte: Leandro Colon, “Para Barbosa, réus merecem ostracismo”,
Folha de S. Paulo, Poder, 28/1/14.
Natureza
Minha terra tem parreiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Uma licença poética parafraseada da famosa “Canção do Exílio”, do poeta português Gonçalves Dias, em homenagem às plantações da dona Regina, minha mãe.
Provocações (1)
(...) Quando estimados os gastos com a Copa, os estádios a
serem construídos, a prevista marotagem dos aumentos de custos acertados entre
empreiteiras e governos, raríssimos foram críticos dessa irresponsabilidade, de
dimensão ainda incalculável. Os interesses políticos e os financeiros se
associaram ao Brasil levianamente festivo. Ao se aproximar o que foi tão
celebrado, com a ansiedade popular do antimaracanazo, tudo de repente virou
motivo de "rebelião"? Não dá para crer. Ao menos, porém, há uma
originalidade aí: rebelião popular com data marcada, e anúncio a seus
antagonistas com larga antecedência. (...)
A crise das (nossas) cidades
De volta às ruas, manifestantes do MTST protestaram por mais moradia em São
Paulo. Diante da cidade atual, fragmentada em diversos problemas (violência,
trânsito, moradia, mobilidade, cracolândia, etc.), o caos de São Paulo é
irreversível?
(Antonio Risério) - É reversível, desde que não sejamos
irresponsáveis. Atravessamos a maior crise urbana da história brasileira. E
nossos governantes, numa verdadeira marcha da insensatez, abrem mão da reforma
urbana. Ninguém ouve mais falar da grande reforma urbana nacional que a presidente
Dilma Rousseff se comprometeu a fazer. As promessas não se traduziram em
práticas. O programa Minha Casa, Minha Vida constrói hoje as favelas do futuro.
Em São Paulo, Fernando Haddad lançou o projeto Arco do Futuro, mas logo o jogou
no lixo. O Brasil é um país que, por flexibilidade ou por hipocrisia, chega
muito fácil a certos consensos, mas não realiza as coisas. É por isso que
podemos falar de consensos subversivos - consensos que, se levados à prática,
transformariam espetacularmente a vida brasileira. Por exemplo: todo mundo
concorda que todos precisamos de um lugar onde morar. Mas por que até hoje isso
não aconteceu? Milhões de brasileiros, depois de 20 anos de governos
social-democratas, continuam amontoados em alojamentos deprimentes. Em nenhum
outro lugar a desigualdade social se expressa de forma tão clara e brutal
quanto na moradia. No entanto, a carência habitacional seria superada se os
donos do poder e do dinheiro conjuntamente o quisessem. Para enfrentar a crise
atual, precisaríamos de um governo que levasse o assunto a sério, de um
verdadeiro Ministério das Cidades, de prefeitos que não se comportassem como
agentes da especulação imobiliária, de uma verdadeira vontade coletiva de sair
do buraco. De uma verdadeira reforma urbana.
(...) Agora no 460° aniversário da cidade, o que São Paulo diz sobre nós? O que Salvador diz sobre o sr.? E, por fim, o que as cidades brasileiras dizem sobre o Brasil?
As cidades brasileiras estão vivendo hoje dias especialmente difíceis, de uma ponta a outra do País. Estão maltratadas, sujas, agressivas. Salvador parece uma mistura de cantora de axé, prostituta decadente e capoeirista bêbado, um vilarejo com elefantíase, com uma classe rica incomparavelmente grosseira e governantes que não têm ideia do que seja uma cidade. Às vezes, chego a pensar que a população atual de Salvador não está à altura da cidade que herdou, porque, se estivesse, não avacalharia tanto o lugar. Mas não penso que seja o fim do mundo. São Paulo também atravessa tempos muito conturbados, mas acho que está melhor do que Salvador. Prefiro mil vezes andar pelas ruas paulistanas do que pelas baianas. Para usar um clichê, São Paulo diz muito de nossa força e de nossa miséria. A cidade é bem maior do que seus governantes. E - ainda em termos banais, mas sinceros - acredito que, mais cedo ou mais tarde, essa força (humana, social, cultural) vá vencer a miséria física e reinstaurar a urbanidade perdida.
Fonte: Juliana Sayuri, “Em busca do urbanismo perdido”, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, 26/1/14, p. 2.
As cores de SP
Eu vivo em São Paulo, na cidade cinza
Coração quebrado
O maior índice por metro quadrado
Trãnsito caótico
Cidade Hard Core
Coração de pedra
Todo mundo merece uma chance
Viva na cidade cinza
Viva na cidade cinza
Coração quebrado
O maior índice por metro quadrado
Trãnsito caótico
Cidade Hard Core
Coração de pedra
Todo mundo merece uma chance
Viva na cidade cinza
Viva na cidade cinza
Esta postagem é uma espécie de provocação. Sim, sob certos aspectos, São Paulo é uma cidade cinza. Há, inclusive, um documentário com este título (que, em breve, será tema de postagem aqui).
Contudo, um breve passeio pelas ruas paulistanas revelará uma quase infinita gama de cores. Ok, concordo: elas se destacam justamente por estarem na paisagem de uma cidade cinza...
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Histórias de um país dividido pela cor
Depois que a Carolina do Sul eletrocutou George J. Stinney
Jr., em 1944, sua família enterrou o corpo queimado do rapaz de 14 anos num
túmulo não marcado na esperança de que o anonimato lhe permitisse descansar em
paz. Mas em duas manhãs na última semana, quase 70 anos após a eletrocução que
fez de George, um adolescente negro no Sul segregacionista, o mais jovem
executado nos Estados Unidos no século 20, advogados e espectadores se aglomeraram
numa sala de tribunal com uma agenda muito diferente: lançar luz suficiente
sobre o caso para tentar limpar o nome de George.
"Quando examinei o caso, vi o que havia ali e o
estudei. Foi estarrecedor", disse Miller W. Shealy Jr., um dos advogados
que aceitaram ajudar a família Stinney em sua busca de um novo julgamento ou uma
anulação de veredicto. Ele acrescentou que o caso transcorreu na "velha
Carolina do Sul". "Mesmo assim é estarrecedor." (...)
Fonte: Alan Blinder, “Uma execução de 70 anos que pode ter sido injusta”, O Estado de S. Paulo, Internacional, 26/1/14.
Leia também:
domingo, 26 de janeiro de 2014
A importância de um amigo para conversar
Minha mãe acordou neste domingo com a notícia da perda de uma amiga.
Você já precisou de um amigo, daqueles de verdade, para conversar quando estava angustiado?
Falo destes amigos, não daqueles que costumamos chamar para festejar (estes são fáceis de encontrar).
Pois bem: só quem tem ou teve um amigo para conversar, aquele tipo de conversa que só se tem com um amigo, sabe do que estou dizendo.
Tem gente que não dá valor a este tipo de amizade. Ou não a reconhece do modo devido.
Quem sabe, um dia, talvez, aprenderá a dar valor. Ou não... Porque tem gente que só aprende a dar valor quando perde. Ou nem assim...
Mas depois da perda, não adianta mais chorar.
Você já precisou de um amigo, daqueles de verdade, para conversar quando estava angustiado?
Falo destes amigos, não daqueles que costumamos chamar para festejar (estes são fáceis de encontrar).
Pois bem: só quem tem ou teve um amigo para conversar, aquele tipo de conversa que só se tem com um amigo, sabe do que estou dizendo.
Tem gente que não dá valor a este tipo de amizade. Ou não a reconhece do modo devido.
Quem sabe, um dia, talvez, aprenderá a dar valor. Ou não... Porque tem gente que só aprende a dar valor quando perde. Ou nem assim...
Mas depois da perda, não adianta mais chorar.
Balões para SP
Foi comemoração de Ano Novo, mas vale pelo aniversário de São Paulo.
Em tempo: as fotos foram tiradas do telhado (11° andar) do prédio da Associação Comercial de São Paulo.
Em tempo: as fotos foram tiradas do telhado (11° andar) do prédio da Associação Comercial de São Paulo.
Lição da vida #3
As relações acabam quando perdemos - ou uma das partes perde - a capacidade de superar e de esquecer os deslizes do outro.
sábado, 25 de janeiro de 2014
"São, São Paulo"
São, São Paulo meu amor
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Santo Antonio foi demitido
Dos ministros de cupido
Armados da eletrônica
Casam pela TV
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
São, São Paulo quanta dor
São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
Quanta dor
Santo Antonio foi demitido
Dos ministros de cupido
Armados da eletrônica
Casam pela TV
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São, São Paulo
Meu amor
São, São Paulo
(De Tom Zé)
SP 460 - A Origem
Parabéns São Paulo!
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
"Sinfonia paulistana"
(...) Bandeiras, monções, São Paulo
Que amanheceu trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer
Bastante italiano, sírio e japonês
Além do africano, índio e português
Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça
Na capital do tempo, tempo é ouro e hora
Que amanheceu trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer
Bastante italiano, sírio e japonês
Além do africano, índio e português
Tudo isso ao alho e óleo, temperando a raça
Na capital do tempo, tempo é ouro e hora
(...)
São Paulo, que amanhece trabalhando
Casais entram no elevador
O fino pra curtir um som: ran ran, ren ren, ron ron
A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer
Assim existe esperança, no amanhecer
São coisas da noite, anúncios conhecidos
Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos
Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for
Do La Licorne ao Ceasa, de alguma coisa do amor
Casais entram no elevador
O fino pra curtir um som: ran ran, ren ren, ron ron
A noite é sempre uma criança, é só não deixar crescer
Assim existe esperança, no amanhecer
São coisas da noite, anúncios conhecidos
Que enfeitam a cidade, em movimentos coloridos
Alguém vem do trabalho, do baralho ou do que for
Do La Licorne ao Ceasa, de alguma coisa do amor
Tem sempre mais um, que vem pela calçada
Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada
Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá
Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá
Na bruma que esconde quem sobrou na madrugada
Dei tempo ao tempo, o tempo é que não dá
Tenho que estar pelas sete, no Viaduto do Chá
(...)
São Paulo, que amanhece trabalhando
Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer
São Paulo, que amanhece trabalhando
Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer
(...)
São Paulo, que amanhece trabalhando
São Paulo que não pode amanhecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer.
São Paulo, que amanhece trabalhando
São Paulo que não pode amanhecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer.
(De Billy Blanco)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Tribunal Facebook
(...) Essas conclusões foram extraídas de redes sociais
menos de 24 horas depois de a história vir à tona, na semana passada. O
tribunal Facebook já havia chegado a um veredicto.
(...) Esses episódios ilustram bem o que se transformou a
internet pós-Mark Zuckerberg - um imenso fórum, indispensável e democrático,
mas também terreno fértil para conclusões apressadas e intolerância de todos os
matizes.
Fonte: Alan Gripp, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 23/1/14, p. 2 (íntegra aqui).
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
"Liberdade, igualdade, rolezinhos"
(...) Vivemos num
estágio de civilização em que já não se admitem mais algumas modalidades de
discriminação racial e social. É verdade que ninguém advoga pelo direito de
mendigos frequentarem shoppings, mas revolta-nos pensar que pessoas sejam
impedidas de entrar num deles apenas em virtude da cor de sua pele ou de seus
rendimentos. Exigimos certa igualdade jurídica entre cidadãos.
(...) A moral da história é que liberdade e igualdade,
embora tenham inspirado a Revolução Francesa, são princípios incongruentes. Se
os agentes são livres para buscar seus interesses, alguns acumularão mais bens
do que outros e darão tratamento privilegiado a seus familiares, amigos e
clientes, o que mina, na teoria e na prática, a ideia de igualdade.
Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 21/1/14, p. 2 (íntegra aqui).
Leia também:
"Da alegria"
Um momento de alegria aparece. Está ali, esperando para ser
vivido.
Mas não fazemos nada. O momento de alegria acha que talvez
não o tenhamos percebido. Então passeia diante de nossos olhos, e aguarda nosso
sorriso de compreensão.
De novo, ficamos imóveis.
“O que se passa?”, pergunta o momento de alegria.
“Não sei”, respondemos. “Talvez o medo de que você não volte.”
“E, mesmo que isto aconteça, o que você tem a perder?”, insiste.
“A paz de espírito”, continuamos.
Com a cabeça baixa, o momento de alegria se afasta. E continuamos com a nossa paz de espírito - aquela paz das tardes de domingo, que ninguém sabe exatamente para que serve, nem o que fazer com ela.
Fonte: blog do Paulo Coelho, postado em 21/1/14.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Trabalhando... (no Panamá)
Para quem não viu, eis a
seguir o “Matéria de Capa” que gravamos – o cinegrafista Alexandro Fortes e eu –
no Panamá:
* A fotomontagem que ilustra esta postagem foi feita pelo “brother” Danilo Fernandes
Frase
“A história é sempre
contada por quem ganha.”
Patrick Chauvel, fotógrafo francês,
em entrevista ao programa "Conexão Roberto D´Avila" (TV Brasil, dom.,
22h)
Na TV, também é possível escrever bem
Como um gênio da música clássica chegaria aos ouvidos de uma
adolescente da Amazônia?
Fantástico: Pensa em Vivaldi, o que você sente quando ouve?
“São loucuras, muitas notas, muito rock, muito pesado”, diz a estudante Yandra Roberta Silva.
O que uma suíte para violoncelo despertaria em uma garota
quilombola? “Música desperta um sentimento de amor, de alegria, de emoção”,
afirma a estudante Larissa Ramos.
Para que serve um violino em uma palafita? “Fazer com que os
alunos alcem voos maiores. Aqui é apenas a plataforma. Daqui o céu é o limite”,
afirma o maestro Elias Tavares Sampaio.
Isso tudo acontece em Macapá, às margens do grande rio. O Amazonas é testemunha de um surpreendente projeto de massificação da música erudita. Com uma abrangência e uma rapidez que ninguém esperava, crianças pobres da capital do Amapá ganham a inusitada companhia de um Mozart, de um Bach, de um Tchaikovsky.
Lago dos Cisnes num jorro tropical. É apenas uma das muitas orquestras nascidas no local.
“A grande maioria começou comigo aos 9 anos de idade, há cinco anos. Sempre pensando que, no futuro, eles seriam os multiplicadores para que a gente pudesse criar um sistema de orquestras”, conta o maestro.
Cada um desses garotos integra o exército de músicos do subtenente Elias, do Corpo de Bombeiros do Amapá. “A quantidade de alunos vai crescendo. Então, os meus braços, os braços do sistema, têm que crescer também”, ele destaca.
Um sistema que se instalou onde sobram poeira e lama, onde falta oportunidade. “O Lago da Vaca é um dos bairros mais pobres da periferia. E aqui nós temos um polo do nosso sistema nessa igreja. Têm em torno de 70 crianças, todas de famílias pobres”, explica Elias.
Quem aprende vai ensinando ao outro. Yandra é fascinada por Bach. Mas, para ela, cada grande compositor tem uma personalidade musical. “Bethoven é mau. Um cara muito sombrio, muito cheio de coisas sombrias”, define.
O que acabou iluminando um caminho que ela não conhecia: “Eu não tinha concepção de vida, entendeu? Depois que eu conheci o projeto, eu vivi de novo. Foi a minha vida, a música é a minha vida”, ela diz.
Yandra é parte do milagre da multiplicação de instrumentistas. Mil e quinhentas crianças já aprenderam a tocar. Em alguns casos, com inesperada facilidade.
“As crianças nascem praticamente musicalizadas. Porque dentro do quilombo, eles têm os ritmos chamados batuque e marabaixo”, destaca o maestro.
No quilombo do Curiaú, perto de Macapá, Larissa aprendeu a dançar com o avô, no ritmo do marabaixo.
“É bom demais para eles aprenderem. Vai depender dela, da força de vontade. O pessoal vem aí, ensinando. Pode aprender, e muitos outros mais”, destaca o avô, João da Cruz.
A primeira orquestra quilombola do Brasil não podia deixar de ter uma caixa de marabaixo na percussão.
“Nós só fomos lá no quilombo e juntamos a orquestra com o veio artístico natural deles”, diz Elias.
O que a nova violoncelista achou? “Foi o máximo. No primeiro dia que a gente tocou uma música, ficou muito bom”, diz Larissa.
“Algum maestro pode até dizer:’ mas você está tocando Vivaldi com caixas de marabaixo?’ Por que não?”, questiona Elias.
E por que não entrar tocando tango nos alagados de Congós, na periferia de Macapá? Por que não Luiz Gonzaga com a regência coletiva da plateia? Por que não criar orquestras mesmo sem dinheiro, mesmo sem instrumento para todo mundo?
“Uma orquestra com o que tu tens. Tu tem que fazer música com aquilo que tu tem”, afirma o maestro.
Uma orquestra imaginária com instrumentos de isopor é a nova façanha do projeto. “Eles fazem a brincadeirinha do arco. Ponta, talão, meio, aquele negócio todo. Mas o objetivo mesmo é que o aluno tenha conhecimento do instrumento sem tê-lo”, explica Elias.
A aula é optativa. Mas a iniciação da escolinha pública está sempre lotada. Com os pais acompanhando da porta, muito mais que ensino musical. “Conceito de harmonia, obedecer a quem está à frente. É uma gama de informações”, destaca o maestro.
A professora Elisângela é a mãe de Abner e Ezequias, a quem dedica tudo o que lhe é possível. “Não posso dar riqueza, às vezes não é o de melhor, que eu sei que eles merecem. Mas o que eu tenho, que o meu pai me deu, eu tenho que passar para eles da melhor maneira possível”, afirma.
Ao ensinar o filho a tocar, Elisângela viu o talento aflorar na música preferida do violinista de 10 anos.
Quando Vivaldi ecoa nos barracos do bairro pobre, a aspiração do garoto vai muito além de Macapá. “Quero tocar na orquestra de Berlim”, diz Abner.
Isso tudo acontece em Macapá, às margens do grande rio. O Amazonas é testemunha de um surpreendente projeto de massificação da música erudita. Com uma abrangência e uma rapidez que ninguém esperava, crianças pobres da capital do Amapá ganham a inusitada companhia de um Mozart, de um Bach, de um Tchaikovsky.
Lago dos Cisnes num jorro tropical. É apenas uma das muitas orquestras nascidas no local.
“A grande maioria começou comigo aos 9 anos de idade, há cinco anos. Sempre pensando que, no futuro, eles seriam os multiplicadores para que a gente pudesse criar um sistema de orquestras”, conta o maestro.
Cada um desses garotos integra o exército de músicos do subtenente Elias, do Corpo de Bombeiros do Amapá. “A quantidade de alunos vai crescendo. Então, os meus braços, os braços do sistema, têm que crescer também”, ele destaca.
Um sistema que se instalou onde sobram poeira e lama, onde falta oportunidade. “O Lago da Vaca é um dos bairros mais pobres da periferia. E aqui nós temos um polo do nosso sistema nessa igreja. Têm em torno de 70 crianças, todas de famílias pobres”, explica Elias.
Quem aprende vai ensinando ao outro. Yandra é fascinada por Bach. Mas, para ela, cada grande compositor tem uma personalidade musical. “Bethoven é mau. Um cara muito sombrio, muito cheio de coisas sombrias”, define.
O que acabou iluminando um caminho que ela não conhecia: “Eu não tinha concepção de vida, entendeu? Depois que eu conheci o projeto, eu vivi de novo. Foi a minha vida, a música é a minha vida”, ela diz.
Yandra é parte do milagre da multiplicação de instrumentistas. Mil e quinhentas crianças já aprenderam a tocar. Em alguns casos, com inesperada facilidade.
“As crianças nascem praticamente musicalizadas. Porque dentro do quilombo, eles têm os ritmos chamados batuque e marabaixo”, destaca o maestro.
No quilombo do Curiaú, perto de Macapá, Larissa aprendeu a dançar com o avô, no ritmo do marabaixo.
“É bom demais para eles aprenderem. Vai depender dela, da força de vontade. O pessoal vem aí, ensinando. Pode aprender, e muitos outros mais”, destaca o avô, João da Cruz.
A primeira orquestra quilombola do Brasil não podia deixar de ter uma caixa de marabaixo na percussão.
“Nós só fomos lá no quilombo e juntamos a orquestra com o veio artístico natural deles”, diz Elias.
O que a nova violoncelista achou? “Foi o máximo. No primeiro dia que a gente tocou uma música, ficou muito bom”, diz Larissa.
“Algum maestro pode até dizer:’ mas você está tocando Vivaldi com caixas de marabaixo?’ Por que não?”, questiona Elias.
E por que não entrar tocando tango nos alagados de Congós, na periferia de Macapá? Por que não Luiz Gonzaga com a regência coletiva da plateia? Por que não criar orquestras mesmo sem dinheiro, mesmo sem instrumento para todo mundo?
“Uma orquestra com o que tu tens. Tu tem que fazer música com aquilo que tu tem”, afirma o maestro.
Uma orquestra imaginária com instrumentos de isopor é a nova façanha do projeto. “Eles fazem a brincadeirinha do arco. Ponta, talão, meio, aquele negócio todo. Mas o objetivo mesmo é que o aluno tenha conhecimento do instrumento sem tê-lo”, explica Elias.
A aula é optativa. Mas a iniciação da escolinha pública está sempre lotada. Com os pais acompanhando da porta, muito mais que ensino musical. “Conceito de harmonia, obedecer a quem está à frente. É uma gama de informações”, destaca o maestro.
A professora Elisângela é a mãe de Abner e Ezequias, a quem dedica tudo o que lhe é possível. “Não posso dar riqueza, às vezes não é o de melhor, que eu sei que eles merecem. Mas o que eu tenho, que o meu pai me deu, eu tenho que passar para eles da melhor maneira possível”, afirma.
Ao ensinar o filho a tocar, Elisângela viu o talento aflorar na música preferida do violinista de 10 anos.
Quando Vivaldi ecoa nos barracos do bairro pobre, a aspiração do garoto vai muito além de Macapá. “Quero tocar na orquestra de Berlim”, diz Abner.
“Um dia eu ei de ver meu filho brilhar. Muito, muito. Eu ouço
as músicas e fico imaginando ele tocando, as pessoas vendo, aplaudindo, e eu
falando: ‘esse é meu filho’”, diz Elisângela.
O maestro Elias também se alimenta da esperança dos alunos e dos pais. Mas se um dia a orquestra de Berlim aparecer na vida de alguém, será apenas a consequência de uma conquista muito maior.
“Existe a oportunidade. Para você ser qualquer profissão, você tem de ser cidadão primeiro. Tem de ser responsável, tem que estar no horário, tem que obedecer às regras, então é isso que a gente pensa, usando a ferramenta música”, diz Elias.
Como não se vive sem sonhos, o do maestro, embora possível, tinha mesmo de ser imenso como um grande rio.
“O meu sonho é que em cada escola pública do estado do Amapá tenha uma orquestra”, conta, emocionado, o maestro.
O maestro Elias também se alimenta da esperança dos alunos e dos pais. Mas se um dia a orquestra de Berlim aparecer na vida de alguém, será apenas a consequência de uma conquista muito maior.
“Existe a oportunidade. Para você ser qualquer profissão, você tem de ser cidadão primeiro. Tem de ser responsável, tem que estar no horário, tem que obedecer às regras, então é isso que a gente pensa, usando a ferramenta música”, diz Elias.
Como não se vive sem sonhos, o do maestro, embora possível, tinha mesmo de ser imenso como um grande rio.
“O meu sonho é que em cada escola pública do estado do Amapá tenha uma orquestra”, conta, emocionado, o maestro.
PS: este é o texto de uma reportagem de Marcelo Canellas,
apresentada no “Fantástico” (TV Globo, dom., 21h) do último dia 21/1/14.
Com texto magnífico, a reportagem foi espetacular: poético e tocante sem ser piegas. Vale a pena conferir aqui.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Inspiração pela janela
Fala a verdade, é um verdadeiro privilégio abrir a janela e ver a cidade assim:
E, ao abrir a janela, ver o dia nascendo assim:
E até da janela do banheiro a visão é inspiradora:
Leia também:
- Pela janela
E, ao abrir a janela, ver o dia nascendo assim:
E até da janela do banheiro a visão é inspiradora:
Leia também:
- Pela janela
“São Paulo, São Paulo”
É sempre lindo andar na cidade de São Paulo, de São Paulo
O clima engana, a vida é grana em São Paulo
A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks, um jeito yankee de São Paulo, de São Paulo
O clima engana, a vida é grana em São Paulo
A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks, um jeito yankee de São Paulo, de São Paulo
Ah!
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH.
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH.
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo, de São
Paulo
Pardais, baratas, ratos na Rota de São Paulo
E pra você criança muita diversão em São Paulo
São Paulo lição
Tomar um banho no Tietê ou ver TV.
E pra você criança muita diversão em São Paulo
São Paulo lição
Tomar um banho no Tietê ou ver TV.
Ah!
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Chora Menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaqui, ali
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão, Morumbi
Pari, Butantã, Utinga, M'boi Mirim, Brás, Belém
Bom Retiro, Barra Funda, Ermelino Matarazzo
Mooca, Penha, Lapa, Sé, Jabaquara, Pirituba, Tucuruvi, Tatuapé
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão, Morumbi
Pari, Butantã, Utinga, M'boi Mirim, Brás, Belém
Bom Retiro, Barra Funda, Ermelino Matarazzo
Mooca, Penha, Lapa, Sé, Jabaquara, Pirituba, Tucuruvi, Tatuapé
Pra quebrar a rotina num fim de semana em São Paulo
Lavar um carro comendo um churro é bom pra burro
Um ponto de partida pra subir na vida em São Paulo, em São Paulo
Terraço Itália, Jaraguá, Viaduto do Chá.
Lavar um carro comendo um churro é bom pra burro
Um ponto de partida pra subir na vida em São Paulo, em São Paulo
Terraço Itália, Jaraguá, Viaduto do Chá.
Ah!
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia
(De Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wa)
Uma frase (ou um verso)
"No tienes que buscarme porque nunca me fue.”
PS: trecho de uma música que ouvi no rádio de uma van no Panamá. Procurei na Internet e não encontrei (o que significa que entendi errado a frase...? Não importa, foi assim que a entendi.)
O que passou...
Escuta:
o que passou passou
e não há força
capaz de mudar isto.
Nesta tarde de férias, disponível, podes,
se quiseres, relembrar.
Mas nada acenderá de novo
o lume
que na carne das horas se perdeu.
o que passou passou
e não há força
capaz de mudar isto.
Nesta tarde de férias, disponível, podes,
se quiseres, relembrar.
Mas nada acenderá de novo
o lume
que na carne das horas se perdeu.
(...)
O que passou passou.
Jamais acenderás de novo
o lume
do tempo que apagou.
o lume
do tempo que apagou.
(Ferreira Gullar, em "Praia do Caju")
domingo, 19 de janeiro de 2014
A importância da reportagem
(...) Com reportagem, é possível desmontar estereótipos, esvaziar
teorias frágeis e ajudar o leitor a se posicionar em meio ao tiroteio
ideológico. Só que precisa gastar sola de sapato e chegar às franjas da cidade,
mesmo quando não há chacina ou desabamento.
Em um texto muito lúcido, o ex-repórter da "Folha" Leandro
Beguoci, criado em Caieiras, resumiu a questão: "Na área delimitada pelos
rios Tietê e Pinheiros, a periferia ainda é um sujeito desconhecido. É uma
espécie de Cazaquistão que fala português".
Já passou da hora de a "Folha" investir
para ampliar as fronteiras da sua cidade-sede.
Fonte: Suzana Singer, “Enrolados”, “Folha de S. Paulo”, Ombudsman, 19/1/14.
"São Paulo, teu nome"
Urbinácia máxima imperfeita
lençol de eus e meus em multidão
plantada em hastes, a planalticeia:
cidade inventada a cada pessoa.
lençol de eus e meus em multidão
plantada em hastes, a planalticeia:
cidade inventada a cada pessoa.
Teus homens, mulheres e moribundos
vestem a roupa rústica das manhãs
à noite desapertam os calçados da tarde
ora com nuvens, ora sem elas.
vestem a roupa rústica das manhãs
à noite desapertam os calçados da tarde
ora com nuvens, ora sem elas.
Levam às ruas o coração fechado
enquanto os olhares usurpam cores
das feias esquinas à quimera das vitrines
atados estamos ao preço das coisas.
enquanto os olhares usurpam cores
das feias esquinas à quimera das vitrines
atados estamos ao preço das coisas.
E a matéria vivida coexiste calada
nos cômodos das mesmas casas
soma de tantos gestos e sentenças
manchas úmidas nas paredes gastas.
nos cômodos das mesmas casas
soma de tantos gestos e sentenças
manchas úmidas nas paredes gastas.
Quantos insones atravessam a tua noite
acionam os remos largos da madrugada
e no amanhecer fecham os olhos cansados
indiferentes à altivez dos arranha-céus.
acionam os remos largos da madrugada
e no amanhecer fecham os olhos cansados
indiferentes à altivez dos arranha-céus.
Na praça do bairro aparecem as primeiras
crianças - as que se interessam pela terra
acreditam na sombra das árvores
e acolhem faceiras a luz deste dia.
crianças - as que se interessam pela terra
acreditam na sombra das árvores
e acolhem faceiras a luz deste dia.
Aos poucos - avenidas, viadutos, prédios
despertam os músculos, os ossos e o rosto.
Novamente o corpo se levanta por inteiro
novelo de artérias sem fim nem começo.
despertam os músculos, os ossos e o rosto.
Novamente o corpo se levanta por inteiro
novelo de artérias sem fim nem começo.
Teu nome, São Paulo, induz ao engano,
tão pouco de ti lembra a santidade.
tão pouco de ti lembra a santidade.
(De Fernando Paixão; publicado originalmente no caderno Ilustríssima, da “Folha de S. Paulo”, em 19/1/14)
sábado, 18 de janeiro de 2014
O lado parisiense de São Paulo
São Paulo às vezes, ou em alguns lugares, parece, assim, Paris... Exagero?
É a Sé paulistana, provavelmente a catedral mais famosa do Brasil.
É a Sé paulistana, provavelmente a catedral mais famosa do Brasil.