Em países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e os da Europa Ocidental, o transporte público está anos luz à frente do Brasil. Desconheço cidade brasileira – incluindo Curitiba (PR), considerada exemplo – que tenha resolvido o problema do transporte coletivo.
Segundo o arquiteto e urbanista Felipe Penedo, o transporte público exige alguns requisitos para ser considerado de qualidade: 1) pontualidade; 2) conforto; 3) acessibilidade (o que inclui as calçadas de acesso); 4) eficiência (o que inclui informação); e 5) preço justo. Sem algum desses fatores, não se pode considerar um modelo como bem sucedido. O problema é que no Brasil nenhum dos itens funciona!
Os problemas do transporte por aqui começam pelo abandono “criminoso” do sistema ferroviário em favor do rodoviário. O resultado é o que se vê nas estradas e nas cidades – cada vez mais congestionadas. A opção do brasileiro pelo transporte individual e o estímulo dado pelo governo nos últimos anos para a compra de carros e motos só fizeram acentuar os problemas.
As “soluções”, por enquanto, têm se limitado à expansão da malha viária. Resultados paliativos e de curto prazo, quando muito – veja as novas faixas da Marginal Tietê em São Paulo...
No norte da Itália, ao contrário, milhares (talvez milhões) de pessoas diariamente deixam seus carros em casa e optam pelos trens para se deslocar entre cidades próximas ou até distantes. Fazem isso porque encontram no serviço todos os fatores mencionados anteriormente.



Nos trens regionais ou de alta velocidade, o conforto é muito maior do que nos ônibus e aviões. Em alguns deles, o sistema de informação aponta temperatura, velocidade, etc.




Nas cidades italianas, o transporte por ônibus também é exemplar. Em Milão e Verona, encontrei pontos com letreiros digitais informando com exatidão a linha e o horário e/ou tempo de chegada do próximo veículo.




O cidadão terá ainda que esperar por muitos minutos (40 ou mais) para pegar um ônibus que chegará provavelmente lotado. Estará num veículo sem conforto, quente, ficará possivelmente em pé e ainda pagará por esse serviço uma tarifa de R$ 2,40 (a do metrô de Milão é um euro – cerca de R$ 2,70 - se comprada isoladamente; para mais de um trajeto há descontos).
Diante deste cenário, alguns dúvidas apresentam-se:
1) é tão difícil assim disponibilizar ao menos informação aos usuários no Brasil (não estou sequer falando de pontualidade, conforto...)?
2) por que a opção prioritária pelas rodovias e o sucateamento do transporte ferroviário?
3) até quando nossos governantes vão optar por medidas paliativas ao invés de atacar o problema de fato?
4) como falar em desenvolvimento quando não conseguimos sequer oferecer um transporte decente para os cidadãos?
PS: em Milão, aliás, carros e bondes convivem tranquila e pacificamente nas mesmas vias.
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