segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | |

Que ministério é este, Dilma? (2)

Fato inconteste: a presidente Dilma Rousseff (PT) tem pregado reiteradamente a necessidade de uma reforma política - até como antídoto a casos como os do "mensalão" e "Petrolão" -, mas repetiu na formação de seu novo ministério exatamente os mesmos vícios que levaram aos recentes escândalos de corrupção no país.

Ricardo Balthazar, em artigo na "Folha de S. Paulo", resumiu o "espírito da coisa": "Em outubro, após a confirmação de sua vitória nas eleições, Dilma disse que a reforma do sistema político brasileiro seria uma de suas prioridades. Com a chegada do pastor Hilton ao time, talvez tenha chegado a hora de a presidente esclarecer o que queria dizer com isso".

Já na posse, Dilma anunciou - como registrou o jornalista Igor Gielow em análise também na "Folha" - o "mote de governo envolvendo educação no momento em que o ministério da área foi loteado na bacia das almas para um aliado sem qualquer afinidade com o tema".

Leonardo Sakamoto, em seu blog, fez uma síntese:


Você pode escolher, o estelionato eleitoral  (Joaquim Levy, controlando a economia), a afronta (Kátia Abreu à frente da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a provocação (Gilberto Kassab, no Ministério das Cidades) ou o professor-tem-que-trabalhar-por-amor-não-por-dinheiro (Cid Gomes, na Educação). 
Ou um comunista (Aldo Rebelo), que afirmou não acreditar que o ser humano é responsável pelo processo de aquecimento global, no Ministério da CIÊNCIA e Tecnologia. 
Teve até espaço para velhas tradições, como a família Barbalho (Helder, na Pesca), e o velho peso da família (Armando Monteiro, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Sem contar, o Ministério do Esporte, que foi entregue a Deus.

Até gente mais alinhada com o petismo, como Ricardo Melo, em artigo na "Folha", não conseguiu evitar críticas: "Ao indicar nomes identificados com interesses que ela combateu durante a campanha, Dilma promove um curto-circuito talvez impossível de consertar antes de a fumaça aparecer".

Vinicius Torres Freire oferece, em coluna na "Folha", uma interessante análise que explica a causa e a consequência do novo ministério de Dilma. Diz que "falta outra vez projeto de governo, articulação de interesses sociais a fim de tocar reformas substantivas" e que "a presidente está acuada pelos próprios reveses, com pouco prestígio para queimar".

Talvez fosse melhor Dilma aplicar a proposta de Bernardo Mello Franco em artigo também na "Folha": "Reconhecer os erros do primeiro mandato seria uma fórmula mais indicada para quem precisa tanto de confiança ao iniciar o segundo".

* Leia também:

- Grupo de atletas comandado por Raí detona novo ministro do Esporte: 'Envergonhados'

- Que ministério é este, Dilma?

- Brincando de ser ministro (acrescentado em 21/1/15)

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