quarta-feira, 3 de dezembro de 2014 | |

Violência policial: um desafio mundial

Deu no “National Post”, um dos principais jornais do Canadá, em 6 de fevereiro último: policiais de Montreal atiraram contra um homem que agia violentamente carregando um martelo. O homem morreu horas depois no hospital. A vítima - pai e filho numa família bem sucedida - começou a apresentar problemas mentais nos últimos anos.

O fato gerou várias perguntas: o homem teria recebido amparo do sistema de saúde? Os policiais tinham alternativa que não fosse atirar? Se tivessem usado a taser, arma não-letal que dá um choque paralisante, o homem seria controlado? Os policiais têm treinamento suficiente para lidar com conflitos?

Vê-se, pois, que a violência policial não é realidade – e polêmica – apenas no Brasil. Atinge também países desenvolvidos (em proporções infinitamente menores, naturalmente).

Como bem coloca o “NP”, há questões simples e práticas envolvidas na história. “As pessoas querem acreditar que seus policiais são todos craques em tiros, capazes de acertar com precisão um pequeno pedaço de metal viajando a milhares de metros por segundo em um alvo em movimento, 100% das vezes. A vida real é diferente, como qualquer policial irá dizer”, escreveu Matt Gurney.

Ele cita que a maioria dos atiradores amadores é provavelmente melhor do que os policiais. E questiona a qualidade do treinamento policial no Canadá (imagine no Brasil). Para isso, participou de um treinamento. “Éramos todos capazes de atirar em alvos de papel fixos em um ambiente calmo, com apoio e bem iluminado, onde nossas vidas não estavam em perigo e nosso sangue não estava cheio de adrenalina”.

Gurney menciona ainda que, para minimizar os próprios riscos, policiais simplesmente miram nas partes maiores do corpo na hora de atirar. Assim, reduzem a chance de erro – e aumentam a de letalidade. (Lembre-se que muitas vezes o alvo está escondido ou em movimento.)

Ainda assim, escreve Gurney, muitos tiros são errados. Um estudo feito anos atrás pelo Departamento de Polícia de Nova York constatou um índice de precisão de 34%. Ou seja: dois terços dos tiros eram “balas perdidas”.

“Uma bala que erra o alvo não vira pó. Segue até atingir algo. Se tivermos sorte, este algo será o chão ou uma parede. Se não, poderá ser uma pessoa inocente, talvez até um outro policial.”

Gurney esclarece que não pretende justificar a morte do indivíduo, tampouco dizer que os policiais não teriam alternativa para controlar a situação, e sim deixar claro que os oficiais ganhariam se tivessem um treinamento melhor – de tiros e para lidar com situações de conflito (ou com doentes mentais, como era o caso).

E finaliza: “policiais muitas vezes atiram para matar por uma razão – tentar algo diferente não só significaria aumentar a chance de erro, mas também o risco para os cidadãos próximos”.

Em tempo: o artigo de Gurney não discute a questão do preconceito, muito presente neste tipo de ação em países como Brasil e Estados Unidos (leia mais aqui e aqui). 

0 comentários: